terça-feira, 30 de julho de 2024

Poderosos efeitos benéficos da leitura nas crianças

Estudos mostraram que as crianças que leem são melhor sucedidas, segundo a Oxford Review of Education
Estudos mostraram que as crianças que leem são melhor sucedidas,
diz a Oxford Review of Education
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O acadêmico espanhol Miguel Salas alertou contra a procura de um lazer muito fácil que rende muito pouco como é ficar parasitado ante a TV ou o celular prejudicando o futuro intelectual das crianças e jovens, reportou “La Nación”.

Ele apresentou bons conselhos para que as crianças deixem de lado os prazeres efêmeros da tecnologia e adotem o benéfico hábito da leitura.

Ele destacou que a leitura exige concentração, profundidade e silêncio enquanto que o ritmo de vida “em que vivemos incentiva o contrário”.

Quase 80% das crianças que tem o bom hábito da leitura foram incentivadas por seus familiares. “Sobretudo na infância os livros são uma oportunidade de se abrir ao mundo, de viverem outras vidas, de viajar para lugares que não se sabe achar no mapa quando se é muito pequeno”, afirmou.

“Aprender a ler é acender uma fogueira, cada sílaba que se escreve é uma faísca”, dizia Victor Hugo e não se enganou.

Para o acadêmico, as crianças que se habituaram a ler desde pequenas colhem benefícios ao longo de toda a vida: superioridade na carreira, melhorias sociais e individuais, muito importante desenvolvimento das habilidades de comunicação porque a criança que lê se expressa e compreende melhor.

O aumento do vocabulário é óbvio. “Aos 20 meses de idade, uma criança educada num ambiente cultural alto reconhece cerca de 200 palavras. E aquela com baixo nível sociocultural discerne 20. A diferença é abismal porque um mundo de 20 palavras não é igual a um de 200”, explica.

Na leitura, as crianças se preparam para serem bem sucedidas na vida
Na leitura, as crianças se preparam para serem bem sucedidas na vida

A leitura é fundamental no desenvolvimento da imaginação e centenas de estudos comprovam que a leitura está diretamente relacionada ao bom desempenho das crianças na escola.

A leitura também incentiva a empatia bem direcionada.

Ela faz o leitor esquecer suas preocupações e se concentrar tão perfeitamente que é quase como se estivesse meditando.

Salas sugere fazer com a leitura o mesmo que faz a família estabelecendo horários para refeições, estudo ou trabalho, “só meia hora por dia, não é preciso mais”, aconselha.


O acadêmico Miguel Salas explica em entrevista de TV (em espanhol) 




terça-feira, 16 de julho de 2024

Redescoberta a arte da conversa que ficou muito necessária

A conversa é indispensável para a família ir bem
A conversa é indispensável para a família ir bem
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







As distrações da tecnologia digital pareciam que levariam ao esquecimento da arte da conversação, observou a revista econômica “The Economist”.

A revista evocou a George Orwell que na sua famosa novela de um mundo de pesadelo escreveu que o rádio está sempre ligado e “a música impede que a conversa se torne séria ou mesmo coerente”. 

“The Economist" é uma revista laica e liberal focada com grande sucesso e respeitabilidade na atividade econômica. Dir-se-ia que não esse não é um tema de seu interesse nem dos seus leitores, na maioria empresários e homens de negócio.

Porém, a revista percebeu uma forte queda na habilidade de conduzir negociações nas novas gerações formadas num ambiente digital de mensagens instantâneas breves e simplificadas, mal redigidas a ponto de gerar confusão.

Lembrou o livro de 2006 do ensaísta americano Stephen Miller, intitulado “Conversa: História de uma arte em declínio”, em que o autor se preocupava porque os equipamentos de música digital e os computadores estão levando as pessoas a evitar as conversas reais com as pessoas.

Saber conversar é indispensável para o bom andamento dos negócios
Saber conversar é indispensável para o bom andamento dos negócios
Um crítico do livro de Miller considerou “surpreendente” que as gerações passadas gostassem de uma noite de conversa como uma forma de prazer social quando o americano moderno prefere passar a noite navegando na Internet.

Livrarias de Nova York como Barnes & Noble ou Borders oferecem prateleiras de manuais sobre como falar melhor. A maioria deles visa pessoas que desejam falar de forma mais persuasiva e envolvente para progredir em suas carreiras.

E para isso fazer amigos e influenciar pessoas, é preciso charme, cortesia e desejo de compreender as ideias e opiniões dos outros, ainda que só seja com interesse lucrativo.

Sir Isaiah Berlin, um filósofo letão de Oxford que morreu em 1997, foi tido como dos maiores conversadores que já existiram, comparável, Robert Darnton, historiador de Princeton, a Denis Diderot, o filósofo iluminista francês do século XVIII.

Um relato de época descreveu a conversa de Diderot como “animada por uma sinceridade absoluta, sutil sem obscuridade, variada em suas formas, deslumbrante em seus voos de imaginação, fértil em ideias e em sua capacidade de inspirar ideias nos outros.

“Deixávamos-nos flutuar durante horas seguidas, como se deslizássemos por um rio fresco e límpido, cujas margens eram adornadas com ricas propriedades e belas casas”.

A arte da conversa adquiriu um charme único na França antiga.
A arte da conversa adquiriu um charme único na França antiga.
Winston Churchill foi tido como talvez o maior orador do século XX. Virginia Woolf segundo um biógrafo, tinha “desempenhos maravilhosos em conversas, transformando-se em invenções fantásticas enquanto todos se sentavam e, por assim dizer, aplaudiam”.

O grande orador romano Cícero, do século I a.C., também é muito procurado.

Ele explicou a necessidade de “falar claramente; fale com facilidade, mas não muito, especialmente quando os outros querem a sua vez; não interrompa; seja gentil; lidar com seriedade com assuntos sérios e graciosamente com os mais leves; nunca critique as pessoas pelas costas; atenha-se a assuntos de interesse geral; não fale sobre você; e, acima de tudo, nunca perca a paciência”.

Dale Carnegie, que construiu seu credo em torno do ditado “time is Money” foi professor de oratória e em 1936 alertou para o fato de que os americanos precisavam de uma educação mais ampla na “bela arte de conviver”.

Seu livro “Como fazer amigos e influenciar pessoas” é impresso 70 anos depois e já vendeu 15 milhões de cópias.

As regras de conversação de Cícero estão na base das culturas e das épocas que sobressaíram na história.

A boa conversa e a boa educação têm características comuns ao longo do tempo e da cultura, e de fato os manuais mais recentes têm poucos princípios fundamentais a acrescentar.

Os manuais mais modernos à venda em New York acrescentam apenas conselhos mais concretos. Aliás, acrescentamos nós, intuitivos para os nobres mestres da conversa.

Por exemplo, cita “The Economist” cita as maneiras rápidas da Sra. Shepherd para saber se a gente está entediando seus ouvintes.

Sem boa conversa o encontro é tedioso e estéril.
Sem boa conversa o encontro é tedioso e estéril.
Por exemplo: “Nunca fale ininterruptamente por mais de quatro minutos de cada vez” e “Se você é a única pessoa que ainda tem um prato cheio de comida, pare de falar”.

Entretanto as dicas práticas não captam nada da alegria que advém do domínio da conversação. E essa alegria é a que mais atrai aos convivas. E a grande ausenta das comunicações digitais.

Madame de Staël, grande conversadora e intelectual do Antigo Regime francês, chamava a conversa de “um meio de dar prazer recíproca e rapidamente uns aos outros; de falar tão rápido quanto se pensa; de desfrutar espontaneamente; de ser aplaudido sem trabalhar”.

Platão elogiava Sócrates porque seus diálogos constituem “uma busca entre amigos... das ideias divinas do verdadeiro, do belo, do bom”, escreveu estudioso francês moderno, Marc Fumaroli.

A era de ouro da conversação foi elevada ao máximo grau do charme e do deleite pelas elites francesas no final do século XVII e início do século XVIII. Assim conquistaram o mundo que não entendia o que era ser culto sem seguir seu exemplo.

A aristocracia francesa voltou as suas energias para o entretenimento. Um homem que não dominasse a arte da conversa corria o risco de se ver desvalorizado, ainda que tivesse muitas outras qualidades.

A conversa dos salões e salas de jantar franceses tornou-se tão estilizada quanto um balé. Era básico cultivar a polidez (boas maneiras sinceras), esprit (inteligência), galanterie (galanteria), complacência (observação), prazer (alegria) e lisonja.

Até os silêncios deviam ser julgados com precisão. O duque de La Rochefoucauld distinguiu entre um silêncio “eloquente”, um silêncio “zombeteiro” e um silêncio “respeitoso”. O domínio de tais “ares e tons”, disse ele, foi “concedido a poucos”.

No Ancien Régime, o salão francês excluía a política das conversas educadas, mas nos cafés britânicos, aliás obviamente protestantes e pragmáticos, a política era a principal preocupação.

Os estrangeiros notavam neles uma liberdade de expressão e uma mistura de classes e profissões despreocupada com as formas e os floreios intelectuais.

A decadência atual vem de pelo menos há dois séculos.

A arte da conversa criou um ambiente propicio para o bom relacionamento em tudo
A arte da conversa criou um ambiente propicio para o bom relacionamento em tudo
O nobre Frances Alexis de Tocqueville entusiasmado pelos modos mais igualitários introduzidos no nascente EUA, no seu livro “Democracia na América”, observa que “um francês deve estar sempre falando, quer saiba alguma coisa sobre o assunto ou não; um inglês fica satisfeito quando não tem nada a dizer” e deplora a “estranha insociabilidade e a disposição reservada e taciturna dos ingleses”.

O escritor Charles Dickens, visitando a América do Norte no século XIX atribuía a culpa do espírito taciturno americano ao “amor ao comércio”, que limitava os interesses dos homens e lhes dava o temor de dizer coisas que beneficiassem a um concorrente.

“The Economist” ilustra a matéria que o preocupa com cenas brilhantes e distendidas da Belle Époque que hoje parecem pertencer a um mundo de sonho.

Entretanto, não só ilustram esplendidos e gaudiosos encontros sociais e familiares ou profundos debates intelectuais, mas também propiciam os grandes negócios.



terça-feira, 2 de julho de 2024

Milhares de pagãos e ateus batizados na França

A ação da graça, e não o progressismo, movem aos recém batizados
A ação da graça, e não o progressismo, movem aos recém batizados
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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sócio do IPCO,
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Na última Páscoa, mais de 7.000 adultos foram batizados na França. Nos últimos anos são cada vez mais numerosos os que assim entram na Igreja Católica, paradoxalmente enquanto Ela está em crise, mostrou o jornal “La Croix” em extensa reportagem.

Há uma contradição entre a marcha de muitos para a Igreja enquanto os agentes de sua demolição tudo fazem para afastá-los.

Na reportagem do “La Croix” se patenteia uma ação extraordinária da graça divina que passa por cima das insídias do “progressismo católico”.

O jornal descreve casos de conversao que culminaram no batismo por demais eloquentes da ação do Espírito Santo desconhecendo os erros e escândalos que o “progressismo católico” está multiplicando sem cessar e desde as mais altas posições da Igreja.

Um exemplo é o de Théo, de 10 anos. Um dia parou sua bicicleta ante a igrejinha de Nossa Senhora de La Salette, em Loire-Authion e seu pai Valentin lhe disse: “Theo, e se nós dois nos batizássemos?”. Um grande sorriso foi a resposta. E sem entender muito ainda, voltaram completamente empolgados com a ideia.

O pai Valentin era ateu, mas sentia sempre “uma presença” sobretudo quando ficava sozinho no apartamento em Meudon. Nesses momentos lembrava de igrejas de pedras maciças, seu silêncio, tinha a impressão de que eram “habitadas”. E assim começava a amá-las.

Quando seu pai morreu de câncer, foi à missa por formalidade mas as músicas lhe foram como um bálsamo.

Anos depois, já casado, o mais velho de seus três filhos com seis anos de nome Theo, começou a lhe fazer perguntas sobre “Jesus”. “Milhares de perguntas!” lembra Valentin que é técnico de vídeo.

Como não sabia o que responder, balbuciava meio perdido coisas do Antigo Testamento, Adão e Eva, Jesus... e foi ali que descobriu textos a pareciam escolhidos para ele.

O aumento de pedidos de batismo de adultos é um 'boom' na França
O aumento de pedidos de batismo de adultos é um 'boom' na França
A família não era praticante, mas sim muçulmana por um lado e católica relaxada por outro.

Certas parábolas o intrigavam, falavam para ele frases como “a primeira pedra”, “o homem de pouca fé”, “transformando água em vinho”… As lia para Theo e ambos falavam sobre elas. Até aquele dia de verão ante a igrejinha perto do Loire que lhes veio a ideia de batismo.

Valentin e Théo sentaram-se nos bancos da capela de Saint-Remi, durante um ano, quase todos os domingos, reservados e atenciosos. As pessoas falaram com ele de “catecúmeno”, palavra que nunca ouvira.

Valentin começou a desatar seus nós confiando na Virgem. Foram batizados na última Páscoa.

Quando tinha quatro anos, Silvia acordou após sonhar que foi tocada pelo dedo de Deus na parte superior do tronco, onde, quando bebê, ela havia sido tratada de um angioma.

Um dia Silvia convidou seu pai médico para ir à missa. Ele estava bem longe de ser católico, antes bem era laicista, esquerdista, e até anticlerical.

Quando Silvia atingiu quarenta anos o sonho continuava vivo e fez psicanálise para interpretá-lo. Mas não adiantou de nada. Então uma coisa lhe ficou clara: Deus existe! Então uma como que “revelação caiu sobre ela”.

No começo achava estar delirando. Porém, mais tarde quando Silvia ouviu na missa “O Verbo que se fez carne”, “Eu sou o caminho, a verdade e a vida”, ficou com raiva de seus pais por não lhe terem dado uma educação religiosa.

Ela decidiu fazer um retiro para decidir se se batizava. Na Internet encontrou a abadia Notre-Dame d’Argentan. Lugar de silêncio, obediência e oração, onde se enclausuram as irmãs beneditinas.

Em quatro dias de retiro, os cultos se sucediam em latim e Silvia “não entendia nada”, mas acompanhava o movimento, observava, imitava sentindo uma “imensa gratidão” pelo que lhe estava acontecendo.

Silvia sentiu a necessidade de ficar sozinha “para entrar numa conversa franca com Deus”. Nada da confusão das celebrações litúrgicas modernas. E lamentou não ter sabido antes do mosteiro, ela teria sido freira!

Batismo em Cherbourg a procura do catolicismo contradiz a crise que grasa na Igreja
Batismo em Cherbourg: a procura do catolicismo contradiz a crise que grassa na Igreja
Paulina
foi outro caso, narrado por “La Croix”. Ela cresceu cercada de religião, mas ela não ligava. Na escola todos eram muçulmanos, inclusive suas quatro amigas mais proximas.

Nas férias ia com a avó à missa todos os dias mas só para agradá-la, nem seu pai nem sua mãe praticavam.

As melhores amigas de Pauline eram muçulmanas e sentiu-se disposta a adotar o Islã. Procurou argumentos na Internet e achou de tudo inclusive um cristão desafiado por um muçulmano que o chamava de “perdido”.

Pauline se decidiu a travar batalha para defender seu “irmão cristão”. E entendeu que o Islã não fornecia certeza alguma. Até que encontrou na carta de São Paulo aos Gálatas: “Se um anjo do céu vos pregar um Evangelho diferente daquele que vos pregamos, seja anátema”.

A frase é muito anti-ecumênica e seu coração bateu fortemente: “como pode haver muçulmanos depois deste versículo?”, pensou.. “Mas está claro!”

E ela começou a rezar. E, diz, “eu me senti bem, muito bem”. A avó de Pauline veio especialmente da Martinica para assistir ao batismo em Mantes-la-Jolie.

Adrien fazia o ensino médio em Doubs e tinha a sensação de que “algo estava errado” no rumo que tomou o mundo.

Na sociedade ou nos homens tudo lhe soava falso, mal enjambrado, insatisfatório. Procurava por todo lugar traços de beleza e não achava. Só encontrava “a baixeza dos políticos”, as guerras e as opressões...

Começou a ler muito: poesia de Victor Hugo, pensadores como Rousseau, Kierkegaard, Marx, Proudhon, Bakunin…

Vasculhava os escritos de Santo Agostinho, São João Crisóstomo, São Tomás de Aquino e seus preconceitos caiam um por um. Só o catolicismo se mostrava perfeitamente coerente.

O número de pedidos surpreende aos sacerdotes
O número de pedidos surpreende aos sacerdotes
E concluiu: “todas as outras doutrinas têm falhas, o protestantismo não se sustenta, o Islã também não… No cristianismo tudo se mantém unido, é magnífico. Quem procura certezas e fundamentos sólidos não vê nenhuma rachadura no edifício da Igreja”.

Ele passou a amar o radicalismo católico. Adrien admirava os heróis, os “mistérios” da Igreja que o homem nunca compreenderá plenamente. Tudo o que o modernismo diz que não atrai os jovens.

Adrien finalmente bateu à porta da igreja. Quando o sacristão lhe perguntou o que o levou até ali, respondeu: “Fora da Igreja não há salvação. Aqui estou”. O sacristão arregalou os olhos: era tudo o que a igreja conciliar ensinava a ocultar para atrair os jovens!

Adrien deixou de estar esmagado pelas desgraças do mundo. A ideia da vitória divina o tranquilizava: “O Senhor retornará no fim dos tempos. Ele triunfará”. E com essa certeza se aproximou à pia batismal.

Manoë Leroy quando tinha quase 18 anos se sentia no fundo do buraco. É filha de uma situação hoje bastante frequente: uma infância destroçada, um pai ausente, um irmão viciado em drogas, uma mãe sobrecarregada, etc...

Ela lutava contra uma terrível sensação de vazio e desconforto. Mas “assim que li a vida de Jesus, algo aconteceu dentro de mim”. Ela levou uma Bíblia comprada em qualquer parte e começou a rezar longe dos bancos da igreja.

Poucos dias antes do batismo, Manoë custava se concentrar nas aulas, tinha a sensação de que algo estava preenchendo seu vazio, de estar menos dominada pela dúvida. A certeza estava nas águas batismais abençoadas por Deus.