terça-feira, 6 de agosto de 2019

60 anos depois, padres jovens retomam a batina que padres velhos jogaram fora para dar impressão de jovens

Para o simples fiel, padre sério anda de batina
Para o simples fiel, padre sério é o que anda de batina
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Há quase 50 anos o cardeal arcebispo de Paris, Mons. Maurice Feltin, aprovou que os padres deixassem de usar a batina em condições normais.

Sua decisão, tomada em 29 de junho de 1962, não se apresentou como doutrinária ou moral, mas pastoral, visando adaptar os costumes eclesiásticos às mutações da sociedade.

Ela significou uma mudança histórica e foi acompanhada no mesmo ano pela maioria das dioceses francesas.

O “clergyman” foi acolhido até com euforia por sacerdotes novos e “beatas” de sacristia, relembrou certa vez o colunista da revista “La Vie”, Jean Mercier em artigo sob o sugestivo título de “A veste de luz”.

Mercier insiste na “embriaguez de modernidade” daquele momento pouco anterior ao Vaticano II para se compreender que a mudança foi recebida como “verdadeira liberação”.

Aproximadamente desde o Concílio de Trento os sacerdotes usavam batina para se diferenciarem do resto dos homens.

A batina adquiriu sua forma bem conhecida no século XIX.

O entalhe foi abolido pela forma ampla de cor preta, escreve Mercier:



Hoje, jovens eclesiásticos querem a batina.  Foto: seminaristas em cerimônia de tomada de batina
Hoje, jovens eclesiásticos querem a batina.
Foto: seminaristas em cerimônia de tomada de batina
Faz pensar na morte, na Cruz.

“O sacerdote que a veste [a batina] se compromete a imitar a Cristo casto e pobre.

“Ela sinaliza sua renúncia ao prazer e à sedução e, num sentido mais largo, sua renúncia ao mundo, quer dizer, ao sistema que marca as relações humanas pelo desejo de poder, dinheiro e aparência.

“A batina é uma forma de túmulo.

“Ela faz eco à antiga prática de se revestir de um ‘véu mortuário’ na cerimônia de entrada de religiosos e religiosas em religião, para simbolizar a morte à vontade própria e ao mundo”.

Em 1962 tudo isso ficou para trás: a lógica do abandono da batina foi a mesma da abertura ao mundo profano, laicizado, que repelia a submissão e a obediência.

Por isso foi uma ruptura enorme.

O “clergyman” durou muito pouco e acabou sendo abandonado na onda da revolução libertária de Maio de 68.

“É proibido proibir”, clamavam nas ruas operários, estudantes e sacerdotes rebeldes contra toda restrição, inclusive a sexual.

Há quase 60 anos a "libertação" da batina era tida como "gesto jovem"
aplaudido pela mídia, pelo laicismo e pelo mundo
Porém, 60 anos depois, os papeis se inverteram.

São os sacerdotes jovens que querem usar a batina cuja abolição os velhos defendem.

Mercier constata, espantado, que não se trata apenas de jovens sacerdotes tradicionalistas:

“Hoje, o grande assunto entre os padres é saber se eles têm a coragem de assumir a batina”, dizia um deles ao jornalista.

No modo de ver dos simples fiéis, a batina está primeiramente associada à ideia de tradicionalismo.

Em segundo lugar, diante do padre jovem de batina, o fiel pensa tratar-se de alguém que celebra discretamente a missa tridentina em latim, sob a forma aprovada pela Santa Sé como “extraordinária”.

No fundo da cabeça da pessoa da rua – constata Mercier – a imagem do padre verdadeiro continua ligada à batina, malgrado as transformações introduzidas pelo Vaticano II.

Capelão militar em Lourdes
Capelão militar em Lourdes
Um sacerdote amigo do colunista lhe contou que foi a Lourdes recentemente com outro padre.

Só que este último usava batina, e ele só um clergyman preto.

Mercier apresenta esse padre de clergyman como um homem de boa presença e “carismático”, e o de batina como tímido, pouco dotado de qualidades e brilho pessoal.

Entretanto, quando iam pelas ruas de Lourdes, eram abordados sem cessar por peregrinos que pediam para benzer objetos.

“Em momento algum eles se dirigiram a mim, contou o padre de clergyman, embora fosse evidente que eu sou padre, mas sempre a meu amigo de batina.

“Eu acredito que era por causa da batina.

Ela exerce efeito especial sobre as pessoas que estão longe da Igreja, um atrativo poderoso”.

Mercier diz que teria para narrar muitos outros testemunhos no mesmo sentido.

Para os padres de mais de 60 anos – acrescenta – a batina é um retrocesso, é arrogância, endurecimento ideológico, uma renúncia a tudo pelo que eles combateram na vida.

Cena em Roma: batina contradiz maus costumes
Cena em Roma: batina contradiz maus costumes
Mas os jovens sacerdotes, que a usam em 2019, pensam que ela serve melhor para evangelizar.

Em se tratando de “dar testemunho”, que melhor testemunho pode haver que andar de batina pelos logradouros públicos?

Mas para Mercier, que não é amigo da batina, há um problema muito delicado.

A batina está ligada estreitamente ao celibato e os padres sentem muito isso.

Optar por não casar para seguir a Jesus Cristo e trabalhar pelo Reino de Deus: isso a batina prega como nenhum outro símbolo.

“A veste preta que cobre o corpo todo, escreve Mercier, é um escândalo para um mundo que exibe a carne, onde prevalece um conformismo social tirânico em matéria de sexualidade, onde se afirma ser anormal que alguém não seja sexualmente ativo.

Em Liège, Bélgica
“Ora, o sacerdote que pratica a castidade e escolhe o celibato encarna a resistência contra esse modo de pensar dominante.

“O fato de usar batina participa da radicalidade de Cristo e de seu Evangelho”.

Mercier recomenda a seus amigos, sacerdotes e leigos, engajados como ele no movimento progressista e que hoje se sentem cada vez mais frustrados, não polemizar com os jovens seminaristas e sacerdotes de batina.

Se isso acontecer eles vão radicalizar mais e a situação vai ficar pior para aqueles que um dia julgaram que conquistariam o mundo mostrando-se “jovens” e jogando as “velharias” da Igreja pela janela.

Como a batina...



8 comentários:

  1. Prefiro Padre vestido de Padre , isto é : de batina !

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  2. Um Sacerdote de batina é um forte sinal sagrado. Toca-me muito mais, sinto que o meu espírito se eleva para Deus mais facilmente quando vejo um padre de batina ou de cabeção, fico muito triste quando vejo um padre de gravata, parece um homem como qualquer outro e não é. É enquanto na sua condição de pecador, mas não na sua dignidade. Ele tem uma dignidade elevada conferida pelo próprio Cristo que mais ninguém tem.
    Por outro lado, a batina protege-o melhor e a nós,também, de tentações. Tive oportunidade de verificar isso em mim mesma, por graça de Deus. Existe um maior respeito diante de um sacerdote que se reconhece como tal na sua forma de vestir. Um sacerdote meu amigo contou-me que um dia ele e um amigo quando estavam a caminhar, com alguma distância entre eles, passaram por um par de namorados em atitudes impróprias, quando o sacerdote amigo passou, eles pararam, mas não ligaram quando passou o sacerdote meu amigo. A diferença é que o meu amigo estava vestido à secular enquanto que o outro estava vestido com o hábito da congregação.
    A batina não é uma simples vestimenta, é, também, um "sacramental".

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  3. Muito Bom se um dia Chegar a ser Padre terei prazer em vestir Batina!!! é um sinal do Sagrado

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  4. Acredito que o cristão e também o sacerdote deve ser reconhecido pelas atitudes evangélicas e não pelas vestimentas... as vestimentas, mesmo que representem votos, infelizmente, para muitos "padrezinhos fresquinhos" simboliza simplesmente poder, superioridade, destaque, contradição... pastor que é pastor, se insere ao rebanho com delicadeza e humildade e não com destaque externo. Penso que muitos jovens querem usar a batina para se esconder por detrás de problemas afetivos, que não são poucos e que cada vez mais contaminam a pureza da Igreja Católica. Conheci um padre que chegou a São Luis / MA usando batinas pretas e brancas... foi aquele auê, e ele com toda pompa se achando o cara... aguentou um mês e não aguentou. Uma, só as velhinhas iam ao encontro dele e, duas, não aguentou o calor... kkkkk batina neste calor e nesta pobreza... reflitam... respeito todos os pensamentos e desejs, mas, retroceder porque? Vamos discutir relações, aproximações, atitudes... e não usar batina ou não... abração!!.

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    1. Retroceder? Leia o cânon 284!!!!!!!!!!!!!!!!

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    2. E quais foram os frutos produzidos pela abolição da batina, meu caro? pode me dizer algum que não seja amargo?

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  5. A felicidade toma conta do meu coração... Aos poucos a cultura modernista pagã é abandona dando lugar ao verdadeiro Catolicismo, que nos conduz a pátria celeste.

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  6. Não encontrei lógica no pensamento de Jean pois para mim o uso da batina por padres e jovens seminaristas não é uma "valharia" da Igreja a ser jogado pela janela. é tradição, além disso, evangelização. Como mesmo vimos aí, o Pe com batina chamou muito mais atenção nas ruas que o que usou clergyman e isso estimula o pensamento dos não fies a se ligarem mais a Igreja, mesmo que seja de uma forma indireta. Apoio completamente a volta da batina, ela demonstra uma santidade, um diferencial não para se mostrar padre ou seminarista mas como um motivo de orgulho: eu sim renunciei aos pecados carnais, eu estou aqui e escolhi servia a Cristo! Não ter medo, Deus não quer pessoas medrosas !

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