terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Costumes católicos do Natal: uma arca de tesouros espirituais, culturais e até gastronómicos!

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
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Visite nossas páginas dedicadas ao Natal.

Na lista de links que segue a continuação, clicando o leitor encontrará um rica explicação de cada um desses santos e deliciosos costumes católicos natalinos.




































terça-feira, 13 de dezembro de 2022

Natal num castelo francês

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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« Gloire à Dieu au plus Haut des Cieux, Et paix sur la Terre au hommes de bonne volonté »

[“Glória a Deus nas alturas! E paz na Terra aos homens de boa vontade!”]

Em Belém, nenhum albergue abriu suas portas para a Sagrada Família.

Veja vídeo
CLIQUE PARA VÍDEO:
Natal num castelo da França
E o Menino Jesus nasceu numa pobre gruta, aquecido pelo calor de um boi e de um asno.

Como reparação, no Natal de cada ano, salões franceses abrem suas portas ao Divino Menino, sua Santa Mãe e o Patriarca São José.

Em salões nobremente decorados, num ambiente penetrado pelo sorriso e cortesia, etiqueta e elegância, uma sociedade de salão apresenta-se diante de um presépio que não tem nada do salão.

Mas, o Menino-Deus está ali, Nossa Senhora e São José, príncipes da Casa de David, também.

O charme e a beleza, a graça e o encanto, homenageiam ao Rei dos Reis.

Visite nossas páginas dedicadas ao Natal.

Ó Jesus que tanto se humilhou por nós!





Ó Majestade Onipotente!

Ó criança tão pequenina e Rei tão poderoso, vinde reinar inteiramente sobre nós!

É um ato de submissão dos mais requintados salões da Terra, ao Divino Monarca que conquistou o Mundo deitado naquele simples presépio!

No Céu, a Corte dos anjos se rejubila juntamente com a Corte dos homens glorificando o Divino Menino Rei e Redentor.





Vídeo: Natal num castelo da França



terça-feira, 6 de dezembro de 2022

“Os 12 dias de Natal”

São Gabriel, Rodez, França
São Gabriel, Rodez, França
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
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Há uma bela canção de Natal inglesa intitulada Twelve Days of Christmas (Os 12 dias do Natal), pouco conhecida entre nós.

Ela surgiu na Idade Média quando na Inglaterra o Nascimento do Menino Jesus era comemorado durante doze dias até a festa dos Reis Magos.

Depois foi adaptada para fugir da perseguição anglicana contra os católicos naquele país, no século XVI.

Com a pseudo-reforma protestante, países como a Inglaterra, ao abandonarem o regaço da Santa Igreja e caírem na heresia, começaram a perseguir os católicos, tornando quase impossível a prática da verdadeira Religião.

Para comunicar aos fiéis a sã doutrina e poderem celebrar sem medo de represálias o Natal do Salvador, segundo a tradição da Santa Igreja, católicos ingleses compuseram tal música, que é um catecismo secreto, porquanto expressa em símbolos a realidade de nossa fé.

Ela foi também utilizada muitas vezes pelos católicos durante as perseguições anticristãs e anti-monárquicas da Revolução Francesa.

Decifre seu significado antes de ler o que ela quer dizer:

“Os 12 dias de Natal”


Ei-la:

“No primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: uma perdiz numa pereira.

No segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.

No terceiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira”. (Dia após dia, ela vai narrando, em ordem decrescente, o que o “meu amor deu-me”).

Anjos da Borgonha, França
Anjos da Borgonha, França
“No quarto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 4 pássaros cantando...

No quinto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 5 anéis dourados...

No sexto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 6 gansos chocando...

No sétimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 7 cisnes nadando...

No oitavo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 8 servas ordenhando...



O canto da “Ave Maria” é um sublime exemplo.

No nono dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 9 senhoras dançando...

No décimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 10 lordes saltando...

No décimo primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 11 flautistas tocando...”

E termina dizendo:

“No décimo segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 12 tocadores de tambor, 11 flautistas tocando, 10 lordes saltando, 9 senhoras dançando, 8 servas ordenhando, 7 cisnes nadando, 6 gansos chocando, 5 anéis dourados, 4 pássaros cantando, 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira...”

Qual o significado da letra dessa música?

1º dia: O meu verdadeiro amor é Deus Pai. E a perdiz na pereira simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo. A perdiz é um animal corajoso, capaz de lutar até a morte para defender seus filhotes. E a pereira representa a Cruz.

O anjo traz a estrela de Belém. Presépio Convento Carboneras. Madri, Espanha
O anjo traz a estrela de Belém.
Presépio Convento Carboneras. Madri, Espanha
2º dia: Duas pombas-rolas representam o Antigo e o Novo Testamento. Durante séculos, judeus ofereciam pombas a Deus. As duas pombas lembram o sacrifício de Nossa Senhora e São José oferecido por Nosso Senhor.

3º dia: Três galinhas francesas representam as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Essas galinhas eram muito caras durante o século XVI e só os ricos tinham condições de comprá-las. Simbolizavam os três presentes ofertados pelos Reis Magos a Nosso Senhor: ouro, o mais precioso dos metais; incenso, usado nas cerimônias religiosas solenes; e a mirra, uma especiaria sem igual.

4º dia: Quatro pássaros cantando representam os quatro Evangelhos. Neles estão contidos a vida de Nosso Senhor e seus ensinamentos. Como pássaros cantando de modo claro e em alta voz, os quatro Evangelistas espalham por todo o mundo a Boa-Nova da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

5º dia: Cinco anéis dourados representam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento ou o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que lembravam aos católicos suas raízes. Os judeus consideravam esses livros mais valiosos que o ouro. E depois que a devoção do Rosário tornou-se mais conhecida, lembravam as cinco dezenas do Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria.

6º dia: Seis gansos chocando representam os seis dias que Deus empregou na criação da Terra, do Universo e das criaturas. Os seis gansos chocando ovos recordam como a Palavra deu vida à Terra.

7º dia: Sete cisnes nadando representam os sete sacramentos e também os sete dons do Espírito Santo. Com os sacramentos e os dons, os fiéis poderiam sustentar-se através dos tempos de perseguição. Como os filhotes de cisnes transformam-se de patinhos feios em belos cisnes, assim a graça de Deus nos transforma de simples criaturas em filhos de Deus.

8º dia: Oito servas ordenhando representam as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, como o leite, alimentam e nutrem o católico.

Presépio do Convento Carboneras, Madri
Presépio do Convento Carboneras, Madri
9º dia: Nove senhoras dançando são os nove frutos do Espírito Santo (Gal. 5, 22-23): caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança.

Da mesma forma como as senhoras que dançam alegres, os cristãos podem alegrar-se com a vida transformada pelos frutos do Espírito Santo.

10º dia: Dez Lordes pulando simbolizam os 10 Mandamentos da Lei de Deus. Os Lordes eram homens com autoridade para governar e disciplinar o povo.

11º dia: Onze flautistas tocando representam os 11 Apóstolos que permaneceram fiéis a Nosso Senhor, após a infame traição de Judas. Como crianças que seguem alegremente o flautista, esses discípulos acompanharam a Jesus. Eles também chamaram outros a segui-Lo. E tocaram uma canção eterna: a mensagem de salvação e da ressurreição após a morte.

12º dia: Doze tocadores de tambor representam os doze artigos do Credo. Assim como eles tocam sonoramente para que os outros acompanhem o ritmo da música, o Credo revela a fé daqueles que são chamados cristãos.

Muitas pessoas não imaginam quais são esses 12 Dias de Natal. Trata-se dos dias entre o Natal e a Festa da Epifania, a qual é tradicionalmente celebrada no dia 6 de janeiro e na qual culminavam na alegria os “Doze dias de Natal”.

Então se comia um bolo todo especial: o Bean Cake, deliciosamente cheio de frutas cristalizadas no qual estava escondido um pequeno feijão seco.
https://www.history.com/news/middle-ages-christmas-traditions
“Quem pegasse a fatia de bolo com o feijão dentro era ‘rei’ da noite e poderia dar às pessoas penas festivas que elas tinham que obedecer”.



terça-feira, 29 de novembro de 2022

Nossa Senhora das Graças e a conversão do hebreu Ratisbonne (3)

Afonso Ratisbonne tornou-se sacerdote
e apóstolo da conversão dos judeus
Luis Dufaur
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Ao deixar o Padre Villefort, fomos dar graças a Deus, em primeiro lugar em Santa Maria Maggiore, nossa cara basílica da Santíssima Virgem, e depois na de São Pedro.

É impossível transmitir uma ideia do transporte de Ratisbonne quando esteve nessas igrejas.

“Ah”, dizia ele, apertando minhas mãos, “agora eu entendo o amor dos católicos por suas igrejas, e a devoção que os leva a embelezá-las e adorná-las!

“Como é bom estar aqui! Querer-se-ia nunca deixá-las! Aqui não estamos mais na terra, é o vestíbulo do céu ...”

Diante do altar do Santíssimo Sacramento, a Presença Real de Jesus o impressionava de tal maneira que ele ficaria quase fora de si se não fosse afastado logo e levado para longe.

Ficava aterrorizado pela ideia de comparecer perante o Deus vivo maculado como estava pelo pecado original. Apressou-se a se refugiar na capela da Virgem.

‒ “Aqui”, ele me disse: “não posso ter medo. Sinto-me sob a proteção de uma misericórdia ilimitada”.

Ele rezou com grande fervor diante do túmulo dos santos Apóstolos.

A história da conversão de Paulo, que eu lhe narrei, o fez derramar lágrimas abundantes.

Ele ficou admirado pelo poderoso afeto, aliás póstumo, para usar sua própria expressão, que o unia a M. de Laferronnays, e pretendia passar a noite ao lado de seus restos mortais, pois, dizia ele, este era seu dever imposto pela gratidão.

Mas o padre Villefort, vendo que ele estava exausto de fadiga, contrariando este desejo piedoso, aconselhou-o prudentemente a não permanecer além das 22 horas.

Em seguida, Ratisbonne nos disse que na noite anterior não havia sido capaz de dormir, que ele tinha sempre diante dos olhos uma grande cruz, de uma forma peculiar, sem a imagem de Cristo que ficava constantemente diante dele.

‒ “Eu fiz”, disse ele, “esforços incríveis para afastar essa visão, mas todos foram infrutíferos”.

Algumas horas depois, observando casualmente o reverso da Medalha Milagrosa, ele reconheceu a mesma Cruz!

Afonso (em pé) e seu irmão Teodoro, sacerdotes
Enquanto isso, eu estava muito impaciente querendo voltar a ver a família Laferronnays.

Eu levava notícias consoladoras para eles no momento em que se despediam dos restos venerados daquele que eles choravam.

Entrei na câmara mortuária em um estado de agitação, quase se poderia dizer de alegria, que chamou a atenção de todos os presentes porque compreenderam que eu tinha algo gravemente importante para comunicar.

Todos eles me acompanharam até uma sala adjacente, e eu às pressas relatei o acontecimento.

Eu tinha trazido boas novas do Céu.

As lágrimas de dor em um momento foram transformadas em lágrimas de gratidão.

Aqueles pobres corações aflitos podiam agora suportar com perfeita resignação cristã o mais cruel dos sacrifícios que cobra a morte, o último adeus aos restos daquele que eles tinham amado...

Mas eu estava ansioso para voltar a ver o filho que o Céu tinha acabado de me dar. Ele me implorou para não deixá-lo sozinho porque precisava de um amigo em cujo coração derramar as profundas emoções daquele dia.

Veja vídeo
Igreja do Miracolo
Sant'Andrea delle Frate, Roma
Perguntei-lhe uma e outra vez as circunstâncias da visão milagrosa.

Ele próprio não sabia explicar como ele passou do lado direito da igreja para a capela que está à esquerda, sendo que entre a capela e o local onde estava se encontravam os preparativos para o serviço fúnebre.

Tudo o que ele sabia era que se viu de repente de joelhos, prostrado diante desse altar.

De início, ele pôde ver claramente a Rainha do Céu em todo o esplendor de sua beleza imaculada, mas seu olhar não conseguiu suportar o brilho daquela luz divina.

Busto no local da conversão.
Três vezes ele tentou olhar mais uma vez a Mãe de Misericórdia, e três vezes só foi capaz de elevar seus olhos até suas mãos abençoadas, a partir das quais brotava uma torrente de graças em forma de feixes luminosos.

‒ “Ó meu Deus”, exclamou ele, “mas eu, que meia hora antes estava blasfemando ainda! Eu, que sentia um ódio tão violento contra a religião católica!...

“Mas todos os que me conhecem sabem muito bem que, humanamente falando, eu tinha os mais soberbos motivos para continuar a ser um judeu...

“Minha família é judaica, minha noiva é judia, meu tio é um judeu...

“Ao me tornar católico, eu rompo com todos os interesses e todas as esperanças que tenho na terra e, entretanto, eu não sou louco, vê-se claramente que eu não sou louco, que eu nunca fui louco!

“Portanto, devem acreditar em meu testemunho”.

(Fonte: Theodore de Bussières, “La conversione di Alfonso Maria ratisbonne”, Ed. Amicizia Cristiana, 2008, Chieti, 63 p., páginas 18-25.)

terça-feira, 22 de novembro de 2022

Nossa Senhora das Graças e a conversão do hebreu Ratisbonne (2)

Busto de Ratisbonne lembra a conversão milagrosa
Luis Dufaur
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Por volta de uma hora. Eu tinha de combinar algumas coisas na igreja de S. Andrea delle Fratte para a cerimônia fúnebre do dia seguinte. Mas encontrei Ratisbonne descendo pela Via Condotti. Ele aceitou vir comigo, iria me aguardar alguns minutos e, em seguida, iríamos passear juntos. Entramos na igreja. Ratisbonne percebeu os preparativos para um funeral, e perguntou para quem seria feito.

“Para um amigo que acabo de perder, e que eu amava muito, M. de Laferronnays”, respondi.

Ele então começou a andar pela nave e seu olhar frio e indiferente parecia dizer: “Esta é certamente uma igreja muito feia.” Deixei-o do lado da epístola na igreja, à direita de um pequeno compartimento destinado a receber o caixão, e fui para o mosteiro.

Eu tinha apenas algumas palavras para dizer a um dos frades, porque eu queria uma tribuna preparada para a família do falecido. Eu me demorei não mais do que 10 ou 12 minutos.

Quando voltei para a igreja, de início não achei Ratisbonne. Mas logo o vi ajoelhado em frente ao altar lateral de São Miguel Arcanjo.

Fui até ele, toquei-lhe três ou quatro vezes sem que ele percebesse minha presença. Finalmente, ele se virou para mim, o rosto banhado em lágrimas, com as mãos juntas, e me disse com uma expressão que nenhuma palavra vai render:

“Oh, como este senhor [M. de Laferronnays] orou por mim!”


Fiquei petrificado de espanto, naquele momento senti aquilo que as pessoas sentem na presença de um milagre. Eu levantei Ratisbonne, acompanhei-o, ou melhor, quase o levei para fora da igreja, e perguntei-lhe qual era o problema, e onde ele queria ir.

Veja vídeo
Igreja do Miracolo
Sant'Andrea delle Frate, Roma
“Leva-me onde quiserdes”, respondeu ele, “depois que eu vi, eu obedeço”.

Insisti para que me explicasse o que queria dizer, mas não conseguia por causa de uma emoção forte demais.

Ele tirou de seu peito a Medalha Milagrosa, e a cobriu de beijos e lágrimas.

Eu tentei trazê-lo de volta para si, e não obstante as minhas insistentes perguntas, não recebia dele senão exclamações interrompidas por soluços:

“Oh, como eu sou feliz! Oh, como é bom o Senhor! Que plenitude de graça e felicidade! Como é lamentável o lote daqueles que não sabem!” Então ele começou a chorar ao pensar em hereges e descrentes.

Finalmente, ele se perguntou se não estava louco. “Mas não”, acrescentou ele, “eu estou em meu perfeito juízo. Meu Deus, meu Deus, eu não estou louco, não. Todo mundo sabe que eu não sou louco!”

Quando a delirante agitação foi se acalmando, com um olhar sereno e eu diria quase transfigurado, Ratisbonne estendeu seus braços em volta de mim e me abraçou, me pediu para levá-lo a um confessor; queria saber quando ele poderia receber o Santo Batismo sem o qual ele não podia viver, suspirava de felicidade pelos mártires, cujos tormentos ele tinha visto retratados nas paredes da igreja de S. Stefano Rotondo.

Ele me disse que não poderia dar explicação alguma sem a permissão de um padre,

“porque aquilo que eu tenho a dizer”, acrescentou, “é algo que não posso dizer nem devo dizer senão de joelhos”.

Levei-o imediatamente à igreja do Gesù para ver o Pe. Villefort, que he pediu para se explicar. Então Ratisbonne, estendeu a medalha, beijou-a, mostrou-nos, e exclamou: “Eu a vi, eu a vi!”

E a emoção voltou a embargá-lo. Mas logo ele recuperou a calma e se exprimiu nestes termos:

Eu passei um breve tempo na igreja, quando de repente eu senti uma agitação de espírito indescritível.

Ergui os olhos: diante de mim o prédio todo tinha desaparecido, só tinha uma capela, por assim dizer, onde se concentrou toda a luz.

E no meio desse esplendor apareceu para mim em pé sobre o altar, grande, cheio de majestade e de doçura, a Virgem Maria, tal como ela é representada na minha Medalha.

Uma força irresistível me atraiu para ela.

A Virgem me fez sinal com a mão que deveria ajoelhar e, em seguida, ela parecia dizer: assim esta bem!

Ela não falou uma palavra, mas eu entendi tudo.

Ratisbonne fez esta breve narração parando com freqüência como para tomar fôlego e reprimir a emoção que tomava conta dele.

Ouvimos com uma reverência sagrada, misturada com alegria e gratidão, maravilhados com a profundidade das vias do Senhor e os tesouros inefáveis de Sua misericórdia.

Uma frase nos impressionou mais do que as outras pela profundidade do mistério: “Ela não falou uma palavra, mas eu entendi tudo”.

Aliás, agora basta ouvir a Ratisbonne. A fé católica emana de seu coração como um perfume precioso do vaso que a contém, mas não pode confiná-la.

Ele falou da Presença Real como um homem que acreditava que com toda a energia de seu ser, mas a expressão é muito fraca, ele falava como aquele que teve uma percepção direta.




terça-feira, 15 de novembro de 2022

Nossa Senhora das Graças e a conversão do hebreu Ratisbonne (1)

Afonso Ratisbonne
Luis Dufaur
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Um jovem judeu, de uma família de banqueiros de Estrasburgo, de notável projeção social pelas riquezas e pelo parentesco com os banqueiros Rothschild, pelo meio-dia do dia 20 de janeiro de 1842, caminhava despreocupado, na aparência, por uma rua do centro histórico de Roma.

Seu nome era Afonso Ratisbonne.

Seu irmão mais velho, Teodoro, em 1827 converteu-se ao catolicismo e se fez sacerdote, rompendo com a família. As esperanças dos Ratisbonne se concentraram então em Afonso, nascido em 1814.

Ele completara o curso de Direito e pensava em casar com uma jovem judia. Contava 27 anos e, antes de casar, fez uma viagem pela Itália e pelo Oriente.

Afonso era judeu de religião, embora não praticante, e nutria pela Igreja Católica entranhado ódio, sobretudo pelo ressentimento da família por causa da conversão do primogênito. Ele dizia que se algum dia mudasse de religião far-se-ia protestante, jamais católico.

Em Roma, visitou por curiosidade cultural algumas igrejas católicas, e saiu mais consolidado em seu anticatolicismo.

Encontrou também um antigo colega seu, de nome Gustavo de Bussières. Gustavo era protestante e tentava convencer Afonso de suas convicções religiosas, porém sem sucesso.

Na casa de Gustavo, Afonso conheceu um irmão deste, o Barão Teodoro de Bussières, havia pouco convertido ao catolicismo e amigo íntimo do Pe. Teodoro Ratisbonne. Tudo isso o tornava sumamente detestável aos olhos de Afonso.

Sant'Andrea delle Frate, Roma: a igreja do milagre
Na véspera de sua partida da Cidade Eterna, Afonso foi deixar um cartão de visitas na casa do Barão, como ardil de despedida e assim evitar um encontro.

Porém, o criado italiano do Barão não entendeu o francês e o fez entrar no salão. Na conversa, o Barão procurou atraí-lo para a Fé católica. Conseguiu apenas, e com muita dificuldade, que Afonso Ratisbonne aceitasse uma Medalha Milagrosa e prometesse copiar o “Lembrai-Vos”, bela oração a Nossa Senhora.

O judeu não cabia em si de raiva, pela ousadia das iniciativas do Barão, mas resolveu tomar tudo com civilidade. Ele pensava escrever um livro com o relato da viagem onde o Barão seria um personagem singular.

A 18 de janeiro, faleceu em Roma um amigo íntimo do Barão de Bussières, o Conde de La Ferronays, ex-embaixador da França junto à Santa Sé e homem de grande virtude e piedade.

Na véspera da morte, La Ferronays conversou com Bussières sobre Ratisbonne e rezou cem vezes o “Lembrai-Vos” por sua conversão, a pedido de Bussières.

Esses eram os antecedentes em volta de Afonso Ratisbonne naquele dia 20 de janeiro.

Mas, eis que na rua encontra o Barão de Bussières que estava indo para a Igreja de Sant'Andrea delle Fratte para combinar as exéquias do falecido conde de La Ferronays.

Ratisbonne decidiu acompanhá-lo, mas de mau humor, criticando violentamente a Igreja e zombando das coisas católicas.

Na igreja, o Barão entrou brevemente na sacristia para tratar do assunto das exéquias.

Afonso ficou percorrendo uma das naves laterais, impedido que estava de passar para o outro lado da igreja, pelos preparativos em curso para as exéquias do Conde na nave central.

E eis o que aconteceu segundo o diário do próprio Barão Teodoro de Bussières:

Quinta-feira, 20 de janeiro de 1842:

Ratisbonne não deu sequer um passo rumo à verdade, sua vontade permanece como sempre, ele não deixa de ridiculizar tudo e parece se importar somente das coisas terrenas. Perto do meio-dia ele entrou em um café na Piazza di Spagna para ler os jornais.

Lá ele encontrou o meu cunhado, Edmund Humann, eles conversaram sobre as notícias do dia, com uma irreverência e uma facilidade que excluía qualquer preocupação séria.

Parece que a Providência queria dispor as coisas de modo a excluir até a possibilidade de dúvida quanto ao estado de espírito de Ratisbonne pouco antes de a graça inesperada de sua conversão. Cerca de meio-dia e meia, saindo do café, ele encontrou seu amigo de escola, o barão A. de Lotzbeck e começou a conversar com ele sobre os assuntos mais frívolos.

Ele falou da dança, do prazer, da esplêndida festa dada pelo príncipe T. Em verdade, se alguém tivesse dito a ele naquele momento: dentro de duas horas você vai ser católico, ele certamente o teria julgado louco.



terça-feira, 18 de outubro de 2022

Bispo lituano narra sua odisseia de fidelidade no cárcere comunista

Dom Sigitas Tamkevicius, bispo de Kaunas conta sofrimentos e consolações na prisão comunista
Dom Sigitas Tamkevicius, bispo de Kaunas conta
sofrimentos e consolações na prisão comunista
Luis Dufaur
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Dom Sigitas Tamkevicius, bispo emérito de Kaunas, Lituânia, narrou em recente livro os sofrimentos de seu cativeiro nos cárceres soviéticos comunistas, segundo noticiou a agência “Aleteia”.

“Nunca rezei tão intensamente como naqueles momentos. Jesus não me deixou sozinho”, disse, comentando a graça de celebrar a Missa na cela, às escondidas dos algozes.

O padre Sigitas foi preso em 1983, pleno regime socialista, e levado em uma caminhonete da polícia política KGB até um porão escuro que servia de cárcere. Os corredores tinham teto alto, eram estreitos, mal iluminados e sujos.

O policial que o deteve exultou quando soube que tinha preso o sacerdote jesuíta Sigitas, do Comitê de Defesa dos Crentes.

O Comitê redigia a “Crônica da Igreja Católica na Lituânia”. Ela revelava o sistema de opressão e terror antirreligioso no país e era enviada ao exterior. O governo a qualificava de propaganda soviética e só queria prender os redatores.

A “Crônica” nasceu nos anos 70, quando cinco sacerdotes decidiram distribuir textos que confortassem os católicos lituanos e dessem a conhecer ao Ocidente sua situação de opressão. Os sacerdotes informavam tudo ao bispo Dom Vicentas Sladkevicius.

Dom Sigitas Tamkevicius, foto de prisioneiro tirada pela polícia comunista
Eles não podiam de modo algum catequizar, ensinar e evangelizar. Nas poucas Missas permitidas pelo governo, este infiltrava espiões que tomavam nota dos sermões e registravam as pessoas que não fossem as anciãs habituais.

Não era possível construir nem restaurar as igrejas.

Por certo, a Secretaria de Estado do Vaticano devia receber as informações, mas sua política de distensão com o comunismo, ou Ostpolitik vaticana, estava mais preocupada em manter boas relações com os tiranos marxistas do que com o grave dano que estes causavam aos fiéis.

O Pe. Sigitas foi interrogado horas a fio por oito agentes socialistas, dia sim, dia não. Esse regime enlouquecedor se prolongou durante seis meses.

“Deus me deu forças para não delatar ninguém naquele momento terrível, nem mesmo nos momentos em que sentia maior fraqueza.

Porta de uma cela, Museu do genocídio em Vilnius
Porta de uma cela, Museu do genocídio em Vilnius
“‘Não entendo como o senhor pôde aguentar’, comentam as pessoas, achando que eu pude superar aquilo pelas minhas próprias forças”, explica.

“No cárcere, eu pude comprar uns pãezinhos e verifiquei que eram feitos de trigo. Só faltava o vinho. Pedi passas secas à minha família.

“Quando chegaram, precisei encontrar um momento oportuno, pois eu sabia que meu companheiro de cela, como a polícia comunista costumava fazer, era um criminoso comum cujas penas prometeram reduzir caso ele fornecesse informações comprometedoras sobre a minha pessoa.

“Eu ficava de costas para a porta, com uma funda de plástico amarelo para óculos sobre a mesa, onde guardava um pedaço de pão e um pequeno recipiente com passas. Aguardava que o outro estivesse dormindo.

“Então começava a espremer as passas com meus dedos até obter umas gotas de um vinho que, em casos excepcionais, é válido para a Consagração.

Monte das Cruzes, Siauliai, Lituânia
Monte das Cruzes, Siauliai, Lituânia
“Eu me lembrava de cor das orações da Missa. Após consagrar, na hora de consumir o Corpo e o Sangue de Cristo, um gozo indescritível tomava conta de mim.

“Eu experimentava uma alegria maior do que a que senti a primeira vez em que celebrei Missa na catedral de Kaunas. Deus me confortava e me consolava. Eu O sentia ali, a meu lado, de maneira inefável.

“Celebrar Missa naquelas circunstâncias me dava uma fortaleza especial; sem ela, não teria podido resistir. Em certas ocasiões, precisava celebrar deitado na cama, a altas horas da noite, com as Sagradas Espécies sobre o meu peito, convertido em altar.

“Nunca rezei tão intensamente como nesses momentos. Foi um dom de Deus. Eu não pedia a Ele para me libertar, mas punha n’Ele a minha confiança.

Nossa Senhora Porta da Aurora, Vilnius, é uma das grandes devoções dos lituanos
Nossa Senhora Porta da Aurora, Vilnius,
é uma das grandes devoções dos lituanos
“Os braços de Jesus me sustentavam; não me deixou sozinho. Ele foi sempre minha Esperança”, acrescentou o atual bispo de Kaunas.

Seu emocionante relato sai a público junto com o de outros religiosos católicos que padeceram nos sórdidos cárceres marxistas.

Infelizmente, naquela época, enquanto esses Confessores da Fé sofriam horrores, quantos e quantos sacerdotes e bispos entre nós colaboravam com os seus algozes, com a Teologia da Libertação e os inimigos do catolicismo!

Os depoimentos vêm providencialmente a lume numa hora em que tudo parece conspirar contra os bons sacerdotes realmente fiéis a Jesus Cristo e à sua Santa Igreja.