São José de Cupertino, o 'Frei Asno' em êxtase místico |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
“São José de Cupertino nasceu aos 17 de junho de 1603 e morreu em 1668. Ele era um místico italiano cuja vida é uma maravilhosa combinação entre a completa incapacidade natural e a extraordinária capacidade de dons sobrenaturais.
“Se algum homem foi pobremente dotado, esse foi José de Cupertino. Todos os dons naturais lhe faltavam.
“Chamava-se a si próprio Frei Burro e foi instintivamente entre os homens o que o burro é entre os animais. Incapaz de passar num exame, talvez mesmo de manter uma conversa.
“Ao mesmo tempo incapaz de cuidar de uma casa e de tocar num prato sem quebrá-lo.
“Desprovido de aptidões materiais e espirituais, era inepto para ser bom criado ou um sábio.
“Tinha aspecto de escravo inútil e de um animal de carga que presta poucos serviços.
“Filho de artesãos, enfezado, doentio, desprezado por todos, escarnecido dos camaradas que o chamavam de ‘boca aberta’. Repudiado pela mãe.
“Com uma úlcera gangrenosa passou a infância entre a vida e a morte numa espécie de podridão, até ser curado por um religioso.
“No momento do seu nascimento apreendiam, por causa das dívidas de seu pai, o mobiliário da sua família e ele nasceu num estábulo.
“Quando mais tarde quis abraçar a vida religiosa enfrentou as maiores dificuldades.
“Entrou para os capuchinhos como converso, mas sua incapacidade natural e sua preocupação sobrenatural como que se uniam para torná-lo inepto para com tudo, pois enquanto seu desajeitamento patenteava-se, sua santidade não era percebida por ninguém.
“Acabaram os religiosos por considerá-lo absolutamente insuportável.
“Arrebatado em êxtase em meio aos cuidados do refeitório, deixava cair os pratos e as travessas, cujos fragmentos lhe eram colados no hábito em sinal de penitência.
“Servia pão preto em lugar de pão branco. Chamavam-lhe a atenção e ele declarava não saber distinguir o pão preto do pão branco.
“Para transportar um pouco de água de um lugar para outro foi-lhe preciso um mês inteiro.
“Finalmente, considerando que ele não servia nem para os serviços materiais nem para a vida espiritual, despediram-no do convento
“Expulso ainda de outras casas religiosas, José acaba sendo admitido no Convento de Grotela onde foi incumbido do tratamento de uma jumenta.
“Ele mal sabia ler e escrever e queria ser sacerdote. Nunca pode explicar nenhum dos textos evangélicos exceto o que continha as palavras ‘bem-aventurado o ventre que te trouxe’.
São José de Cupertino em levitação na Missa
“Ao fazer o exame de diaconato, o bispo abre o livro dos Evangelhos ao acaso e manda o candidato comentar a frase ‘bem-aventurado o ventre que te trouxe’.
“José explicou superiormente. Restava o exame para o sacerdócio. Ora, todos os postulantes, exceto José, sabiam a matéria com perfeição.
“Os primeiros fizeram o exame de maneira tão brilhante, que o bispo parou antes de ter examinado a todos. “E julgando a prova inútil, admitiu em conjunto os que restavam, entre eles José.
“A 4 de março de 1628, José era sacerdote a despeito dos homens e das coisas, apesar de toda a sua incapacidade reconhecida, mas esquecida..
“São José foi beatificado em 1753 e canonizado em 1767”.
Nossa Senhora acumulou neste homem tudo quanto pode ser negativo, tudo quanto pode não ser nada. Porém, teve uma vida repleta, eficientíssima e admirável.
Santa Teresinha do Menino Jesus disse que “para o amor nada é impossível”. Quando um homem ama verdadeiramente a Deus e a Nossa Senhora, faz tudo quanto é de sua vocação.
O homem eficiente segundo o mundo faz tudo o que está fora de sua vocação, e é o cúmulo da ineficiência.
A ordem das coisas consiste em estar nos planos da Providência. Fora do plano da Providência, quanto mais eficiente mais erra e menos serve.
Porque o próprio da eficiência é realizar a ordem que é a vontade de Deus. Não há outra.
Para fazer a vontade de Deus é preciso amar-lO sobre todas as coisas e não ter apego para com suas próprias coisas. Quem assim atua, é assistido pela graça.
São José de Cupertino tem um êxtase vendo a Basilica de Loreto. Ludovico Mazzanti (1686-1775). Basílica de Osimo, Itália |
Desde São José de Cupertino até São Tomás de Aquino, nos dois extremos da capacidade, os santos sempre fizeram mais do que a sua capacidade natural permitia.
Era tradição que no tempo do Beato Angélico Nossa Senhora posava em aparições para ele retratá-La. Ele não era capaz de pintar aquelas imagens de Nossa Senhora sem as aparições dEla.
Os grandes reis guerreiros da Idade Média, cruzados, etc. ganhavam batalhas que nenhum herói podia porque eram ajudados por Deus.
A eficiência consiste em estar nas vias de Deus e obter Seu auxílio para fazer Sua obra.
Deus suscita no Antigo Testamento um Judas Macabeu que era um guerreiro exímio; ora um São Tomás de Aquino, um Fra Angélico, um São Pio V com capacidade de governo extraordinária, um Carlos Magno com visão política formidável e guerreiro enorme.
Suscita também um pobre tonto como São José de Cupertino, incapaz de tudo. Mas porque tinha êxtases era um verdadeiro santo que fez a obra de Deus.
O essencial de sua vida está feito. Provou a todos os séculos como um homem pode ser sumamente venerável porque sendo o mais cretino de todos possuía a única coisa necessária: conhecer a vontade de Deus e andar em Suas vias.
Dele se pode dizer como de Nossa Senhora e de todos os santos: todas as gerações o chamarão de bem-aventurado. De século em século até o fim do mundo se venerará a memória de São José de Cupertino.
Se qualquer um se encontrasse com esse santo, como teria vontade de se ajoelhar, com que respeito pediria e agradeceria um conselho dele.
É o Fra Asino (Frei Asno) e cada palavra saída de seus lábios nós tomaríamos como uma gota do próprio manancial da Sabedoria: Fra Asino falou: é decreto para nós.
Assim é a glória daqueles que fazem a vontade de Deus, mesmo quando humanamente não são nada.
Porque qualquer forma de grandeza consiste apenas em fazer a vontade de Deus. Essa é a grande lição.
Urna com as relíquias de São José de Cupertino na Basílica a ele dedicada em Osimo, Itália |
O homem eficiente é o homem que faz a vontade de Deus... O que não for isto é besteira e é crime.
No momento em que São Gabriel declarou a Nossa Senhora que ia ser Mãe de Deus, Ela disse: “Eis a escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a Vossa vontade”.
Quer dizer, Ela se definiu a si própria como aquela que faz a vontade de Deus: não tem outra definição.
O homem eficiente por excelência é aquele que é escravo de Nossa Senhora e faz a vontade dEla. Não tem outra coisa!
Que Nossa Senhora, pelos rogos de São José de Cupertino, nos conceda esta graça que é A graça, porque todo o resto não vale nada.
(fonte: excertos de palestra de Plinio Corrêa de Oliveira, no dia 10 de outubro de 1968. Sem revisor do autor)