terça-feira, 20 de junho de 2023

Filme da Vendéia reacende polémica sobre a Revolução e a Contrarrevolução -2

Com o Sagrado Coração de Jesus no peito
Com o Sagrado Coração de Jesus no peito
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O longa-metragem “Vencer ou morrer” focando a resistência católica e monarquista à Revolução Francesa deixou estarrecida à esquerda.

Ele constitui a primeira vez na história em que católicos assumem no cinema a defesa da França tradicional focando a luta entre os “partidários do terror jacobino” e os “contrarrevolucionários”, numa luta entre a Revolução gnóstica e igualitária e a Contra-Revolução hierárquica e anti-igualitária.

O historiador Loris Chavanette, autor de muitos livros em favor da Revolução Francesa, é um dos arautos da posição revolucionária.

E comenta que a atual polêmica por “Vencer ou morrer” acordou a velha divisão gerada pela Revolução Francesa que rachou o país em dois visões antagônicas do universo.

Os nostálgicos do antigo regime herdado da Idade Média denunciam – e o fazem no filme – um verdadeiro genocídio na Vendéia feito pelos autoproclamados defensores dos ideais igualitários que instalaram a ditadura revolucionária no país.

Até Alexis Corbière, deputado de extrema esquerda pela coalizão La France Insoumise e apologista de Robespierre, um dos cérebros sinistros do Terror, saiu nas colunas do “Le Monde” a deblaterar contra o filme.

A Revolução Francesa nunca foi um tema frio, mas hoje a esquerda política está mais unida atrás da figura de Robespierre, a quem pretende erigir um museu em sua cidade de Arras.

O grande jornal centrista de Paris “Le Figaro” deplora o renascer da “eterna guerra entre monarquistas e republicanos, entre brancos e azuis, entre os qualificados como partidários do Terror jacobino e os tachados de contrarrevolucionários”.

As tropas revolucionárias iam incendiado aldeias e campos
As tropas revolucionárias iam incendiado aldeias e campos
Durante muitas décadas os filmes sobre o tema provinham exclusivamente da esquerda. Mas, agora, tomou corpo uma reconstrução da história no campo oposto que sobressaiu com a publicação em 2008 do Livro Negro da Revolução Francesa, obra coletiva pilotada pelo dominicano Renaud Escande, e por Pierre Chaunu do Instituto.

A história da guerra de Vendée que fornece a ambientação de “Vencer ou morrer” é um caso clássico. Ela é contada à luz das atrocidades cometidas pelos exércitos republicanos em 1793.

O governo revolucionário, depois de levar a cabo um metódico extermínio de toda resistência do povo, propôs após o Terror e a queda de Robespierre, o Tratado de La Jaunaye, perto de Nantes, desmobilizando os monarquistas com promessas de garantias legais e econômicas.

O carismático líder Charette (personagem central no filme) acolheu os representantes da República, mas poucas semanas voltou a pegar em armas até ser baleado em 1796. O novo banho de sangue patenteou que o acordo era apenas uma fachada.

Na controvérsia atual os episódios conciliadores abafados ficaram esquecidos e se voltou à França terreno fértil de incessantes lutas internas entre Deus, Cristandade e monarquia e o inferno, a Revolução e a república encharcada de sangue.

Hoje, escreve o “Figaro” brigar como outrora é a regra, concordar é a exceção.

Homens e mulheres de todas as idades sacrificaram suas vidas pela Igreja e pelo rei
Homens e mulheres de todas as idades sacrificaram suas vidas pela Igreja e pelo rei
O historiador e resistente Marc Bloch definiu duas categorias de franceses: “aqueles que se recusam a vibrar com a lembrança da coroação de Reims; e aqueles que leem sem emoção o relato da festa da Federação”.

A revista cada vez mais lida de tendencia direitista “Valeurs Actuelles” constata que a imprensa de esquerda hoje mostra um ardor apaixonado pelo “romance republicano”.

Essa imprensa está enfurecida por “Vencer ou morrer” porque glorifica os gestos heroicos do líder militar contrarrevolucionário Charette.

O filme o suficiente para a esquerda sair da tocaia e mostrar na mídia o furor que caracterizou as massacres “republicanas” anti-monarquistas e anti-católicas e o genocídio dos vendeanos, camponeses amantes da Coroa e da Igreja Católica.

O jornal “Liberation” nascido nas barricadas extremistas de Maio de 1968 lhe dedicou-lhe espetacularmente a sua primeira página na véspera da estreia com uma manchete despectiva.

E explicou que o filme “não deve ser subestimado: porque é mais um indício que credencia a existência de uma ofensiva conservadora atualmente na França”, e prossegue com catilinárias insultantes.

O historiador da Revolução Thierry Lentz reconhece que “uma certa esquerda ainda não digeriu o sucesso de ‘Vencer ou morrer’”.

Poppulares de todas as classes sociais defenderam a Igreja e a monarquia
Populares de todas as classes sociais defenderam a Igreja e a monarquia
Pois, o que mais irrita essas esquerdas é que a “a direita católica transparece” e encontra lugar no grande cinema francês. Nos primeiros cinco dias foram vendidos 87.000 ingressos em 160 salas de cinema.

Nicolas de Villiers, presidente da produtora diz que o filme já é um fenômeno: “Nosso objetivo final era 100.000 lugares, chegamos a 87.000 em cinco dias. Uma média de 345 espectadores por sala dá para dizer que há fervor em torno do filme”. Houve espectadores que percorreram até 200 quilômetros para encontrar uma sala que exibisse o longa. E o aplauso ao final das sessões, foi a mais bela homenagem consagratória.

O site EcranLarge.com diz: “vendo “Vencer ou morrer” é quase de se desejar que o inferno realmente exista para ver com prazer ali queimarem os reacionários sejam líderes ou prosélitos”.

O ator Francis Renaud, protagonista no filme, ficou impressionado com a violência de certas reações: “Esperávamos críticas – faz parte do jogo – mas não tamanha onda de ódio e inverdades”, lamentou.

Segundo ele, a descida às chamas é mais maliciosa pelo fato de ser o primeiro longa-metragem rodado em dezoito dias com orçamento modesto, mas que encontrou seu público, contrariamente ao que fazem hoje a maioria dos filmes de bandeira revolucionária.

No “Le Monde”, os deputados de extrema esquerda Alexis Corbière e Matthias Tavel conclamam a que “os autênticos republicanos façam soar os sinos de guerra e se faça uma ampla mobilização de estudiosos, intelectuais e profissionais da cultura para erguer um baluarte contra o obscurantismo e a falsificação da história nacional”.

Tropas revolucionárfias massacram católicos em Lucs-sur-Boulogne. Vitral em Lucs-sur-Boulogne
'Colunas infernais' massacram católicos. Vitral em Lucs-sur-Boulogne
Eles acrescentam que olham com horror para o que está acontecendo nos EUA desde o filme “A Paixão de Cristo” e o aparecimento de parques temáticos com cenografias bíblicas, a proibição do ensino científico (leia-se o evolucionismo de Darwin), ao expurgo das bibliotecas escolares e a proibição do aborto.

Os deputados conclamaram para o alistamento dizendo que “estamos determinados a bloquear esta ofensiva ao lado de todas as inteligências que queiram contribuir para ela. Porque defender a Revolução Francesa é defender fundamentalmente a longa ação do povo pela sua emancipação” leia-se o comunismo extremo que eles postulam nas eleições.


terça-feira, 6 de junho de 2023

Filme da Vendéia reacende polêmica sobre a Revolução e a Contrarrevolução -1

'Vencer oumorrer' desperta o heroismo pela França católica-aristocrática
'Vencer ou morrer' desperta o heroísmo pela França católica-aristocrática
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O grande estatista britânico Winston Churchill distinguiu com perspicácia duas Franças: uma que estava no poder plebeia, revolucionária, vulgar. Do outro lado está a França nobre, tradicional, mas oprimida pela outra. Ele via a segunda França separada da primeira por um rio de sangue, como aliás muitas nações da Europa.

Em parte alguma essa divisão dividiu tão fundo os dois lados. A França tradicional, observava Churchill, olha com saudade a Idade Média enquanto discerne na França revolucionária uma perfídia e uma malícia incomparável.

Nós podemos comparar o desentendimento entre as duas com o “proelium magnum” que se deu no Céu entre São Miguel e os anjos bons contra Lúcifer e os demônios revoltados contra a desigualdade celeste.

É por isso que os embates civis e religiosos havidos em torno da Revolução Francesa marcaram a ferro e fogo a doutrina e a psicologia de ambos os lados.

A paixão francesa nesse embate se comunicou ao mundo, e acabou produzindo um espetáculo tremendo. A Providência tal vez permitiu acontecer para que os homens pudessem entrever algo daquela batalha tremenda que houve no Céu entre os anjos da fidelidade e da hierarquia e os demônios da revolta e do igualitarismo.

Nesse sentido, a Revolução Francesa foi a mais magnífica, suntuosa e faustosa das parábolas históricas da revolta igualitária contra a ordem católica em que até os minores lances foram parabólicos.

'Vencer oumorrer' relembra os atrozes crimes da Revolução Francesa
'Vencer ou morrer' relembra os atrozes crimes da Revolução Francesa
Mas, com essa divisão no fundo das almas, os planos de constituir uma República Universal com um governo mundial anticristão ficavam inviáveis.

Entrou então soprado por antros infernais, o que poderíamos chamar de espírito de Morfeu, o deus do sono, para abafar o fogo da polêmica que põe em seus eixos a alma dos franceses.

Foram silenciados até os nomes de musicalidade aristocrática e sonora dos brilhantes personagens que a Revolução Francesa varreu e contra os quais o espírito Morfeu inoculou implicância e tédio.

Os nomes de revolucionários ferozes como Marat, Danton e Robespierre foram envolvidos nesse sono junto com seus espantosos crimes.

Espraiou-se o que a TFP francesa denunciou com um gemido de dor em manifesto: “a França estômago”.

Essa relegava aquele nobre embate espelho a luta de São Miguel e Lúcifer nos Céus, para endeusar de modo materialista o próprio carnalidade.

A obsessão por ter um “bom apetite” virou objetivo emblemático da União Europeia, induziu à diluição da cultura francesa num caldo com costumes pagãos de invasores africanos e muçulmanos, de vagalhões “culturais” anárquicos que promovem a agenda LGBT. Nesse caldo a filha primogênita da Igreja estava desaparecendo.

Dos antros dessa imensa Revolução Cultural, emanava como um vapor tóxico: os bons não pensem mais na Revolução Francesa! E os ruins se exaltem por ela a portas fechadas ou em solenidades sem graça.

Mas eis que no auge de Morfeu um filme sem pretensões hollywoodianas entrou nos cinemas e o fogo da prefigura da batalha celeste ressurgiu como a lava de uma explosão vulcânica.