terça-feira, 27 de agosto de 2019

Prédios com cúpulas ou com tetos chatos?

Nas noites, as cúpulas de Buenos Aires dão um espetáculo muito procurado
Nas noites, as cúpulas de Buenos Aires dão um espetáculo muito procurado
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






Um atrativo inesperado move fluxos de turistas em Buenos Aires: eles procuram as elegantes ou grandes cúpulas dos prédios da cidade construídas em variados estilos arquitetônicos durante a Belle Époque, destacou reportagem de “La Nación”.

Nisto Buenos Aires acompanhou as tendências das cidades mais cultas da Europa que privilegiavam o bom gosto irmanado à hierarquia social e cultural proporcionada e harmônica.

Segundo os livros de arquitetura, Buenos Aires é a cidade das 300 cúpulas, mas calcula-se que na realidade tenha mais de 2.000 nos mais diferentes estilos.

Porém, com a entrada da modernidade os prédios de estilo caíram no desinteresse ou no abandono. Suas belas cúpulas se degradaram e algumas foram demolidas.

As novas modas pediram arranha-céus com forma de paralelepípedos de vidro de grande altura e que culminavam num teto chato sem estilo. No máximo admitia-se torres de comunicação ou para-raios.



Foram décadas de vitória do igualitarismo nas moradias e escritórios, também verificada em muitos outros aspectos de vida e dos costumes.

Cúpula em Palermo, residência particular
Cúpula em Palermo, residência particular
Porém, nos últimos anos, após a experiência sem graça da modernidade niveladora, as preferências voltaram de novo para as velhas cúpulas

“Quem morará ali acima nessa maravilhosa cúpula?”, passou a ser pergunta comum dos turistas que observavam para o alto.

Os curiosos passaram a tocar a campainha do último andar dos numerosos prédios coroados pelos domos admirados. Quiçá alguém responderia.

Ficou atrativo conhecer àquele que se afasta da agitação urbana oca para ir morar ou trabalhar em locais mais cerca do céu.

Imagina-se que ali devem acontecer eventos dignificantes como espetáculos de música clássica ou refinados jantares.

As respostas atenderam parcialmente as expectativas. Sim, há elegantes apartamentos de amantes da arte antiga que reformaram as cúpulas e fizeram requintadas residências. Cfr.: “La Nación”.

E também há os requintados jantares.

Muitas outras continuam abandonadas. Mas, não por muito tempo. A procura de uma cúpula das “mil e uma noites” estimulou aos proprietários – indivíduos ou empresas – a refazer as torres decadentes e atender aqueles que as procuram. E que até as querem comprar por preços elevados.

Tournées, cocktails e festas foram prontamente organizados. Grande atrativo: a cúpula desde onde se pode avistar mais cúpulas, hoje cada vez melhor iluminadas em noites que procuram ser contos de fadas.

Dois proprietários privados que moram em cúpulas gêmeas, mas que pediram manter o anonimato, abriram suas portas para um evento de arte e gastronomia rotulado “La Noche de las Cúpulas”, que não foi quase mencionado nas guias turísticas.

Há cúpulas em prédios públicos ou empresariais
Há cúpulas em prédios públicos ou empresariais
Aconteceu na parte mais alta do prédio de La Inmobiliaria, ex Palacio Heinlein, um dos mais fotografados do centro histórico de Buenos Aires.


As referidas cúpulas dominam o panorama diante da Praça do Congresso, onde brilha a cúpula do Legislativo argentino parecendo desafiar se há algum domo mais belo e grande que o seu.

As curadoras do evento, as irmãs Ana e Verónica Groch, disseram que jamais imaginaram que a proposta despertaria tanto interesse e agora se propõem reproduzi-lo em outras cúpulas portenhas.

“Sentimos grande orgulho de viver e aproveitar desta bela vista sobre a Praça, de dia e de noite”, disse a “La Nación” uma das proprietárias enquanto exibia sua casa de alguns andares concêntricos.

As cúpulas passaram a ser imagem de Buenos Aires além do gigantesco Obelisco sem charme.

Culminam em agulhas de ferro e zinco se projetando aristocraticamente sobre as casas de tetos rasos e atingem até 68 metros de altura.

O Palacio Barolo oferece em sua histórica cúpula do 16º andar um mirante e um bar. A arquitetura é eclética como foi típico na Belle Époque, entre gótica e islâmica, e fascina aos que andam pela rua.

Molduras e grandes, arcadas, escadas e recepções marcam o ingresso do prédio. O elevador vai até o 14º andar. Depois, a nobreza da cúpula oblige e é preciso completar a pé os dos últimos andares por estreitas e encaracoladas escadas.

As cúpulas mais visitadas por turistas estão no Edificio Bencich, sendo comparadas com algumas de Paris.

Por volta de 2.000 cúpulas dos mais variados estilos.
Por volta de 2.000 cúpulas dos mais variados estilos.
São locais abertos a festivais de arquitetura como o Open House e as filmadoras as procuram para fazer suas publicidades.

Está em restauração uma das mais emblemáticas surgida de uma outra fantasia: a da Confiteria del Molino, inaugurada em 1916 e que agora ressurge das cinzas da decadência. Ela tem forma de agulha e movimenta suas aspas como o moinho que lhe dá o nome.

Desde a antiga Roma as cúpulas estão imersas no mistério, cativam e comovem, aproximam as hierarquias celestes que parecem inalcançáveis, comenta “La Nación”.

Elas começaram representando o poder religioso e espiritual como pode se apreciar nas basílicas de Roma.

Os Estados cristãos sentiram a necessidade de impregnar de sacralidade as instituições políticas que mais deviam ser objeto de respeito.

Por isso, os Parlamentos que se prezam fizeram questão de serem coroados por cúpulas, como o Congresso dos EUA.

Prefeitura, museus e empresas também rivalizam em cúpulas
Prefeitura, museus e empresas também rivalizam em cúpulas
As grandes lojas de luxo também sentiram que não atrairiam o público amante do bom gosto se não coroavam seus prédios com cúpulas como a Galeria La Lafayette de Paris ou Harrods de Londres. Também o fizeram em Buenos Aires.

“Em geral, só se pode acessar as cúpulas públicas”, conta a desenhadora Alejandra Giraud, que ficou tão cativada por uma cúpula portenha que acabou comprando-a.

“Quando o pessoal visita minha cúpula ficam impactados, se emocionam”, explica.

Sua cúpula parece custodiar desde cima os principais bancos públicos e privados da City.

Quem tem acesso a esse local privilegiado contempla desde o Río de la Plata até os edifícios mais históricos e emblemáticos.

“São locais que seduzem. Têm mistério”, explica ela, enquanto sai para um terraço privado imerso no azul do céu.



Vídeos: Prédios com cúpulas ou com tetos chatos?






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