terça-feira, 5 de abril de 2022

O soldado que recebeu Deus antes de enfrentar a morte

Momento da recepção dos sacramentos por Wenceslao Viacheslav antes de enfrentar o ateísmo russo, igreja greco-católica castrense de São Pedro e São Paulo, Lviv
Momento da recepção dos sacramentos por Wenceslao Viacheslav
antes de enfrentar o ateísmo russo,
igreja greco-católica castrense de São Pedro e São Paulo, Lviv
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs








Na igreja greco-católica castrense de São Pedro e São Paulo, em Lviv, Ucrânia, o soldado fardado Viacheslav recebeu os sacramentos do Batismo e da Crisma logo antes de partir para a guerra, segundo testemunho pessoal do enviado do “La Nación”.

Ele é um pedreiro, órfão, da cidade de Mykolayiv onde predominam os cismáticos a 700 quilômetros de Lviv a cidade marcada pelo catolicismo.

Morava no sétimo andar de um prédio popular quando as bombas russas o fizeram tremer.

Ele queria se enrolar no exército na sua cidade, mas o escritório não dava abasto. Então viajou até Lviv levando sua jovem mulher e filho, pensando em deixá-los na fronteira da Polônia antes de partir para o combate.

Nesse meio tempo um vizinho lhe enviou uma foto por celular mostrando que seu monobloco havia sido arrasado pelos ataques russos e sua casa havia ficado calcinada.

Sua decisão permaneceu imutável.

Os dois padrinhos da cerimônia de Viacheslav foram outros dois militares fardados que acompanharam o rito grego-católico de São João Damasceno tão belo e tão diferente do latino, mas igualmente válido.

O capelão militar ungiu-o com o óleo bento na mão primeiro, na testa depois, para que sua mente “consiga compreender e aceitar os sacramentos da vida cristã”.

Depois no peito, “para que ame a Deus com o coração”; nos ombros, “para que carregue com alegria e amor a cruz do Senhor”; nos ouvidos, “para que possa acolher e ouvir a voz do Evangelho”; nas mãos, “para que faça o que é justo para Deus”; e nos pés, “para que ande nas pegadas de Cristo”.

Wenceslao, já batizado impõe a seu filho de 6 anos, o terço que usou no batismo
Wenceslao, já batizado impõe a seu filho de 6 anos, o terço que usou no batismo
O sacerdote fez o mesmo com a água benta e depositou nos ombros de Viacheslav um manto feito à mão, tipicamente ucraniano, símbolo da mudança de pele, da passagem de uma roupa de pecado para outra livre de pecado.

Ele recebeu uma vela acesa símbolo “da luz de Cristo que agora ilumina sua vida” e um exemplar do Evangelho.

A igreja foi feita pelos jesuítas no século XVII, mas suas estátuas mais valiosas estão embrulhadas por proteção das brutais bombas russas símbolo do ódio do inferno contra a Igreja Católica.

A igreja estava cheia de fiéis que foram a rezar por razões pessoais e alguns choravam de emoção.

Na primeira fila estava Katarina, a esposa de Viacheslav, o filho do casal Stanislaw, de 6 anos, sua irmã Olga, sua sobrinha Tatiana e outros parentes que também tinham fugido providencialmente da bombardeada Mykolayiv.

Viacheslav usou sempre um terço no pescoço durante as cerimônias. No fim o tirou e o impôs a seu filho que não sabia se voltaria a ver.

Sem dúvida o pequeno Stanislaw nunca mais esquecerá esse momento. Seu pai tinha mais um terço que colocou nele para que nunca falte.

Foto do batismo de Wenceslao com a família antes de partir para a guerra
Foto do batismo de Wenceslao com a família antes de partir para a guerra
Katarina, a esposa de 32 anos, chapéu de lã e casaco azul claro, longos cabelos loiros e olhos resignados, explicou: “meu marido, desde o início da guerra, a única coisa que queria era se juntar às fileiras do nosso exército para combater o inimigo e defender nossa terra”.

Daí à pouco ela partiria ao exílio na Europa, porque “quando estivermos lá fora, o meu marido vai conseguir ficar mais tranquilo na hora de ir para a frente”, acrescentou.

Ela trabalhava numa base de reparo de aeronaves do Ministério da Defesa de Mykolayiv, que também foi alvo da artilharia russa.

Katarina suspirava enquanto prosseguia: “o irmão dele, meu cunhado, também se inscreveu e já está na frente. Ele também quer ir para a frente e eu entendo isso. Quem vai nos defender da invasão russa, se não?”, perguntou.

“Desde o primeiro dia, Viacheslav quis se alistar para defender sua pátria. Está no coração dele”, acrescentou.

O que disse Viacheslav ao filho quando lhe colocava o rosário no pescoço?

“Eu não disse a ele que vou para a guerra, mas que vou trabalhar”, respondeu com os olhos úmidos.

Viacheslav nunca disparou uma arma em sua vida ou lutou, mas nunca hesitou em responder positivamente ao chamado às armas.

Ele não tem medo de morrer? “Todos nós, responde, mais cedo ou mais tarde, temos que morrer, é o Senhor quem decide. E agora sinto-me em paz porque estou nas mãos de Deus”, garantiu o novo soldado de Cristo.

E o que ele acha dessa guerra? “Isso vai continuar enquanto Putin esteja no comando. Mas acho que vamos vencer. Estou convencido”.

Incontáveis episódios comovedores como esse fazem a grandeza de um povo, garantem seu futuro e, o que é mais importante, a bênção de Deus e de Maria Santíssima. E permanecem para toda a eternidade.


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