São Miguel Arcanjo.
Gérard David (1460 – 1523). Kunsthistorisches Museum, Viena |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
São Miguel é o chefe que comandou a luta contra o demônio e o precipitou no inferno.
Ele é o chefe dos Anjos da Guarda dos indivíduos e das instituições.
E é, ele mesmo, o Anjo da Guarda da mais alta das instituições, que é a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Ele tem, portanto, uma função tutelar derrubando no inferno os que se levantam contra Deus Nosso Senhor, de um lado.
E protegendo a Igreja e aos homens nesse vale de lágrimas que é a vida, de outro lado.
Essas duas missões se concatenam.
Deus quis servir-se dele como de seu escudo, contra o demônio.
Deus quer que ele seja o escudo dos homens contra o demônio; e o escudo da Santa Igreja Católica contra o demônio.
Mas um escudo que é gládio também. Ele não só defende, mas derrota e precipita no inferno.
É essa a dupla missão de São Miguel.
Por causa disso São Miguel era considerado na Idade Média, o primeiro dos cavaleiros.
O cavaleiro celeste, perfeitamente leal, puro como um anjo e vitorioso como o cavaleiro, que põe toda sua confiança em Deus, e põe toda sua confiança em Nossa Senhora.
Essa figura admirável de São Miguel é nosso aliado natural nas lutas, porque o bom católico quer exercer em nível humano, a tarefa de São Miguel Arcanjo.
Quer dizer, de defender a honra de Deus, de Nossa Senhora, da Igreja Católica, da Civilização Cristã.
Num livro que ainda aguarda uma purificação de textos indevidamente acrescentados, encontramos trechos admiráveis relativos a São Miguel que devemos conferir com a doutrina da Igreja.
Queda dos anjos rebeldes. Pieter Bruegel (1525 – 1569),
Museums of Fine Arts of Belgium, Bruxelas, detalhe
É o livro “Visões e Revelações Completas” atribuído à bem-aventurada Catarina Emmerich. Eis alguns trechos das visões:
“Novamente a igreja de São Pedro com sua grande cúpula. Sobre ela resplandecia o arcanjo São Miguel, vestido de cor vermelha, tendo uma grande bandeira de combate nas mãos.
“A terra era um imenso campo de batalha.
“Esses, [N.R.: na visão vestidos de branco] sobre os quais reluzia uma espada de fogo, parece que iam sucumbir.
“Nem todos sabiam por qual causa combatiam.
“A Igreja era de cor sangrenta como a roupa do arcanjo.
“Ouvi que me explicavam: terá um batismo de sangue. A Igreja vai ser purificada no sangue do martírio e da perseguição.
“Quanto mais se prolongava o combate, mais se apagava a viva cor vermelha da Igreja e se tornava mais transparente".
“O Anjo [São Miguel Arcanjo] desceu e se aproximou dos brancos. Vi-o diante de todos.
“Esses adquiriram grande coragem sem saber de onde lhes vinha.
“O anjo derrotou os inimigos, que fugiram em todas as direções. A espada de fogo que estava sobre os brancos desapareceu.
“Em meio ao combate aumentava o número dos brancos. Grupos de adversários passavam para eles.
“E numa ocasião, passaram em grande número.
“Sobre o campo de batalha havia, no espaço, legiões de santos que faziam sinais com as mãos, diferentes uns dos outros, porém animados do mesmo espírito”.
Por sua vez, o grande hagiógrafo D. Guéranger, nos ensina sobre a devoção contemplativa dos anjos:
“A Igreja considera São Miguel como o mediador de sua prece litúrgica.
“Ele se mantém entre a humanidade e a divindade. Deus que distribui, com uma ordem admirável, as hierarquias visíveis e invisíveis, emprega por opulência, para louvor de sua glória, o ministério desses espíritos celestes que contemplam sem cessar a face adorável do Pai, e que sabem, melhor do que os homens, adorar e contemplar a beleza de suas perfeições infinitas”.
Foi assim que ele apareceu em Fátima, para os pequenos pastores, com o cálice na mão apresentando ao Padre Eterno a oblação eucarística.
“O nome Mi – cha – El significa “quem como Deus?”
“Esse nome exprime por si só, em sua brevidade, o louvor mais completo, a adoração mais perfeita, o reconhecimento mais inteiro da transcendência divina e a confissão mais humilde do nada da criatura, modelo, portanto, de humildade”.
“Também a Igreja da terra convida os espíritos celestes a bendizer o Senhor e cantá-lo; a louvá-lo e bendize-lo sem cessar.
“Essa vocação contemplativa dos anjos é o modelo da nossa, como nos faz lembrar o belo prefácio do Sacramentário de São Leão.
“É verdadeiramente digno render-Vos graças a vós, que nos ensinais por vosso apóstolo que nossa vida é dirigida aos céus; que com benevolência quereis que nos transportemos em espírito ao lugar onde servem esses que veneramos, especialmente dirigirmo-nos para essas alturas na festa do bem-aventurado São Miguel Arcanjo”.
Aqui está um traço da devoção aos anjos que é preciso muito notar.
Os anjos são habitantes da Corte celeste.
E na Corte celeste eles vivem numa eterna contemplação, de quem vê Deus face a face nas festas que há no Céu.
Não são imagens, ou quimeras, mas verdadeiras festas em que Deus vai manifestando sucessivamente suas grandezas e eles aclamam com triunfos novos, que não terminam nunca dos nuncas.
O Céu é a pátria de nossa alma e é propriamente a ordem de coisas para a qual nós fomos criados.
São Miguel Arcanjo com coros angélicos. Guariento di Arpo (1310-1320 - 1368-1370) |
Ele corresponde plenamente a todas as nossas aspirações de uma felicidade resultante da contemplação de Deus que é a perfeição absoluta de todas as coisas.
Algo disso pode passar para a terra. E nas épocas de verdadeira fé alguma coisa dessa felicidade filtra e é comunicada pelas almas piedosas como um tesouro comum para toda a Igreja.
Hoje em dia, não se tem a ideia da felicidade celeste nem se tem apetência do Céu.
As pessoas se chafurdam na pura apetência dos bens da terra.
Mas se pudessem compreender por um instante o que é uma consolação do Espírito Santo, então começavam a se desapegar dos bens da terra.
Então começavam a compreender como tudo é transitório, como há valores que tornam a terra um pouco de poeira.
Isso que falta os santos anjos podem nos obter, porque estão inundados dessa felicidade.
Há uma forma de fenômeno místico que é um concerto muito longínquo, de uma harmonia maravilhosa e extraterrena.
É o eterno cântico dos anjos que chega aos ouvidos dos bem-aventurados, para lhes dar apetência das coisas do Céu.
Em nossa época essa apetência falta fabulosamente.
Não poucas pessoas só se empolgam pelas coisas da terra, pelo dinheiro, a politicagem, o mundanismo, as trivialidades do noticiário, mas não se empolgam pelas coisas elevadas, e pelas coisas celestes.
Então, peçamos aos anjos que nos comuniquem o desejo das coisas celestes na festa deles.
E especialmente a São Miguel Arcanjo que nos faça imitadores dele, perfeitos cavaleiros de Nossa Senhora nessa terra.
“Na escuridão da noite, vi duas bandeiras frente a frente em uma planície, e dois exércitos que se misturaram em grande confusão.
“Lutava o arcanjo São Miguel lutou e seus anjos com ele.
“Satanás, Lúcifer, o dragão e seus anjos resistiam e se defendiam.
“Os grandes exércitos seguindo sua bandeira lutavam; e a confusão era grande por causa da escuridão da noite.
“Quando o sol apareceu, uma luz clara dividiu os acampamentos.
“E na claridade dessa luz eu vi, ao lado do príncipe que dirigia as batalhas, uma Jovem mais bonita do que a própria luz.
“Uma coroa de glória cingia suas têmporas, e seu cetro brilhava como estrelas.
“O príncipe que a defendia chamou-me e disse: ‘Vem, sacerdote do Deus Altíssimo. Chegou a hora de o inferno ser preso.
‘Venha comigo, e vamos acorrentar e prender todos aqueles príncipes rebeldes que, entronizados sobre os reis e poderosos do mundo, voltam as suas armas contra a Filha de Deus, a Santa Igreja, a sua Esposa’.
Eu me juntei a este príncipe e a batalha começou [Dn 10, 13-21; 12, 1; Ap 12, 7-17].
Eu vi sob os pés desta Virgem invulnerável e invencível todos os demônios se rendendo; e eles abandonavam os corpos que alguns possuíam, mas outros resistiam.
São Miguel e seus anjos lutaram. Satanás, Lúcifer e os mais altos príncipes do inferno lutaram contra São Miguel.
A batalha é muito acirrada e dura até hoje, e ainda durará [Ap 12].
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