Cristo Rei, Hans Memling |
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de política internacional, sócio do IPCO, webmaster de diversos blogs |
Entre Jesus Cristo, a família e um regime familiar de governo – por exemplo, o monárquico tradicional – existe uma relação profunda.
O padre Eric Iborra, da paróquia de Santo Eugênio, em Paris, lembrou brilhantemente essa relação profunda por ocasião de uma missa de réquiem pelo repouso da alma do rei Luís XVI da França, guilhotinado em 1793.
O sacerdote postou sua homilia no site da paróquia onde serve, como é costume na França.
Eis alguns excertos dessa homilia:
Imagino que vocês eram muitos, há oito dias, a pisar na grama do Champ-de-Mars [manifestação contra o “casamento” homossexual em 13.01.2013]. Numerosos também, talvez, há vinte anos, a fazê-lo em outro lugar emblemático da antiga França, a Praça da Concórdia.
Para comemorar, com emoção e recolhimento, o bicentenário da morte do Rei (...). O que me marcou naquela época foi a divisão dos franceses. Uns viviam um luto, luto que sentiam como nacional. Outros caçoavam, às vezes com a última das vulgaridades. (...)
A morte do Rei foi o princípio duradouro da divisão dos franceses. (...) Uma divisão que afeta a todos nós, porque a morte do Rei foi um parricídio, parricídio que alimenta a má consciência.
Essa divisão se opera em dois níveis. Primeiro, no nível político, onde ela foi perpetuada pelas instituições.
Todos o sabem, após 200 anos, os revolucionários não cessaram de abater cada ressurgimento do princípio monárquico, qualquer que fosse a forma sob a qual ele pudesse se apresentar, para impor um regime estruturalmente incapaz de reconciliar os franceses. (...)
Sagrada Família
Não, a divisão dos franceses não pode ser reabsorvida prestando-se culto ao Número, divindade caprichosa e fatal, porque, expulsando a verdade, reduz toda a ordem política ao instantâneo, sem espessura, em suma, ao perecível e material, portanto, indigno da humanidade do homem.
Essa divisão se opera em seguida no nível da antropologia, (...) golpeando o Rei, golpeava-se com ele a família.
A família e o rei são, com efeito, indissociavelmente ligados: o rei – diferentemente da república, que é uma pura abstração – é um ser de carne, sexuado, situado dentro de uma filiação, fruto de um passado, aberto a uma descendência.
Não há rei, se não houver família real. E porque o rei deve ser buscado no seio de uma família, ele deve também ser a garantia de tudo aquilo que todas as famílias apresentam: a continuidade na história e a relação tanto horizontal no nível conjugal quanto vertical no nível filial, relação que leva o belo nome de amor.
Golpeando-se o Rei atingiu-se a cabeça da família, lançando-se desde então com volúpia sobre seus membros. A sua mais recente encarnação é a não diferenciação sexual veiculada pela teoria de gênero, (...)
Familia Imperial da Austria, 1754.
Maria Antonieta era menina
a debilitação da família pelo divórcio, pela difusão da contracepção, por um feminismo ideológico; agressão contra seus membros pelo culto da droga, pelo aborto, pela eugenia e pela eutanásia.
Todos os dias, cada vez mais – e constatamos a aceleração do processo no decurso destes anos (...)
Essa destruição programada e progressiva das instituições do direito natural suscita resistências rapidamente cloroformizadas pela intelligentsia no poder, que pratica a manipulação das mentes desde o berço.
Controle estatal das escolas pelo Ministério da Educação Nacional, que se parece cada vez mais com o da Propaganda e Formação do Povo dirigido certa vez nos nossos vizinhos pelo Dr. Goebbels.
Mas, ao contrário dos regimes totalitários do passado, o nosso acrescenta sua nota sorrateira e hipócrita.
Famiia Real da França
Promovendo os instintos mais baixos, negando que eles possam ser normalizados para serem humanizados, ele os torna vulgares e destruidores.
E faz deles, sobretudo, o melhor campo de internamento possível: aquele no qual não se percebe mais que se é monitorado por uma torre e cercado com arame farpado. (...)
Eu falava de divisão cada vez maior. É o que vemos hoje: incontestáveis ainda ontem, as verdades antropológicas se tornam o lugar dos confrontos cada vez mais violentos, onde o ódio provém principalmente daqueles que fazem profissão de tolerância. (...)
Mas não nos enganemos: o combate que devemos travar é antes de tudo espiritual. Porque a causa dessa desnaturação é profunda.
Fundamentalmente, ela é diabólica.
Por detrás de Sanson, de Robespierre, estava Satanás, como ele está hoje por detrás das associações que sequestraram políticos desmiolados, ávidos de poder, indiferentes à verdade e ao bem.
Satanás, o Acusador, que através de Fouquier-Tinville, de Vychinski, dos Freisler da história, se precipita sobre os justos.
Satanás, o Divisor, que promove o amor de si mesmo até o desprezo dos outros.
Satanás, o Mentiroso, que faz da igualdade, da liberdade e da fraternidade sofismas dissimulando uma empresa de escravidão, de discriminação e de ódio.
Satanás, o Homicida, que, não contente em matar os corpos, procura também matar as almas, fazendo-as curvar sobre si mesmas.
Luis XVI parte para a execução
Em 21 de janeiro de 1793 seus asseclas decapitaram o Rei: eles separaram sua cabeça do corpo.
Ato duplamente simbólico: a cabeça do corpo da nação, de seu povo, mas, ainda mais profundamente, a cabeça (Cristo), de seu corpo místico (a Igreja).
Ao descoroarem o Rei eles procuraram descoroar a Cristo.
Matando Luís, aqueles que os manipulavam visavam Jesus.
Jesus vivia em Luís, como no-lo lembrou tão admiravelmente o seu Testamento.
Esses anões – e aqueles que pretendem nos governar depois deles – não estavam à altura deste gigante.
Com Jesus, Luís podia lhes dizer: “O meu reino não é deste mundo”.
Como Jesus em face de Pilatos, Luís não era do número deles, mas estava por cima. Eis por que estamos aqui nesta noite para honrar a sua memória.
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