segunda-feira, 27 de abril de 2020

São Luis Grignion de Montfort e a escravidão de amor a Nossa Senhora

Estatueta representa ao Santo escrevendo o Tratado  sobre a escrivaninha que ele usou. St-Laurent-sur Sèvre
Estatueta representa ao Santo escrevendo o Tratado
sobre a escrivaninha que ele usou. St-Laurent-sur Sèvre
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







O Tratado da Verdadeira Devoção é geralmente reconhecido como um dos mais importantes trabalhos que jamais se tenha escrito sobre Nossa Senhora.

A Santa Sé declarou de forma expressa, explícita e oficial, nada ter aquele livro que colida com o pensamento da Igreja.

É, pois, com apoio nessa garantia de supremo valor que se deve considerar e examinar a grande obra daquele grande Santo. (...)

É raro encontrar um livro que, de modo mais patente, tenha os dois predicados, o de esclarecer a inteligência, e o de estimular a sensibilidade, do que o de São Luis Grignion de Montfort.

Seu Tratado é uma verdadeira tese, com lampejo de polêmica.

A argumentação é sólida, substancial, profunda.

Jamais se nota nele que um arroubo de amor venha perturbar a indefectível serenidade e justeza do pensamento.


Sua profundidade chega a ser tal que frequentemente os leitores não iniciados na Teologia têm de fazer um sério esforço de inteligência, para o compreender.

Mas em compensação não há uma só frase inútil ou sem sentido em seu livro.

Todas as palavras têm seu valor exato e calculado.

E todos os conceitos geram convicções claras e profundas, que não despertam apenas sobressaltos de sensibilidade em momentos em que nosso temperamento se mostra propício a isto, mas ideias luminosas e substanciosas, que geram aquele amor sério e sólido, capaz de sobreviver heroicamente às mais implacáveis aridezes da vida espiritual.

Em cada ponta de frase, o Beato Grignion de Montfort deixou gotejantes o suor de sua inteligência e o sangue de seu coração.

Sua argumentação, se é lúcida, está longe de ser fleumática.

Pelo contrário, é apaixonada, ardente, comunicativa.

São Luis Grignion de Montfort
São Luis Grignion de Montfort
A cada demonstração vitoriosa, seu escrito toma acentos de gritos de triunfo e de júbilo. Sua linguagem lembra a de São Paulo.

E por isto o grande Faber disse da obra de Grignion de Montfort que depois das Escrituras Sagradas, nada se escreveu de mais candente do que sua famosa oração pedindo missionários de Maria (a “Oração Abrasada”, n.d.c.).

Se há um trabalho em que se compreende aquela luz intelectual cheia de amor, de que fala Dante, esse é o de Grignion de Montfort.

Lê-lo é facilitar poderosamente o progresso na vida espiritual. Difundi-lo é acumular coroas de méritos no Reino dos Céus. (...)

São Tomás de Aquino diz que Nossa Senhora recebeu de Deus todas as qualidades com que seria possível a Deus cumular uma criatura.

De sorte que Ela se encontra no ápice da criação, firmando seu trono acima dos mais altos coros angélicos, e sendo inferior apenas ao próprio Deus, que, sendo só Ele infinito, está infinitamente acima de todos os seres, inclusive de Nossa Senhora.

Costuma-se dizer que Nossa Senhora brilha mais do que o sol, tem a suavidade da lua, a beleza da aurora, a pureza dos lírios, e a majestade do firmamento inteiro.

Muita gente supõe que tudo isto não passa de hipérboles, estas comparações pecam por sua irremediável deficiência.

O sol, a lua, a aurora, e todo o firmamento são seres inanimados, e estão, portanto, colocados na última escala da criação.

A estatueta sobre a escrivaninha e um fac-símile do Tratado
Não é admissível que Deus os fizesse tão formosos, dando ao homem dons menores.

E, por isto mesmo, a mais apagada das almas mortas em paz com Deus, tem uma formosura que excede incomparavelmente a de todas as criaturas materiais.

Que dizer-se, então, de Nossa Senhora, colocada incalculadamente acima não só dos maiores Santos, mais ainda dos Anjos mais elevados em dignidade junto ao trono de Deus?

Um caipira que fosse assistir à solenidade da coroação do Rei da Inglaterra, voltando aos seus pagos natais, possivelmente não encontrasse outros termos para explicar a magnificência daquilo que viu, senão afirmando que foi mais belo do que as festas em casa do Nhô Tonico, o homem menos pobre da zona.

Se o Rei da Inglaterra ouvisse isto, que outra coisa poderia fazer senão sorrir?

Pois nós, quando procuramos descrever a formosura de Nossa Senhora com os termos escassos da linguagem humana, fazemos o mesmo papel... e Ela também sorri.

Não espanta, pois, que seja verdade de Fé que Deus se compraz tanto em Nossa Senhora que um pedido feito por meio dEla é sempre atendido, ainda que não conte senão com o apoio dEla.

E que se todos os Santos pedissem alguma coisa sem ser por meio dEla nada conseguiriam.

O túmulo do Santo na basílica a ele consagrada
em St-Laurent sur Sèvre, França
Porque, como diz Dante, querer rezar sem Ela é o mesmo que querer voar sem asas...

Assim, pois, todas as graças nos vêm de Nossa Senhora, e é Ela a medianeira universal de todos os homens, junto a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Mas, se todas as graças nos vêm dEla, e se nossa vida espiritual não é senão uma longa sucessão de graças a que correspondemos, ou renunciamos a ter vida espiritual, ou devemos compreender que esta será tanto mais suave, mais intensa e mais perfeita, quanto mais próximos estivermos junto daquele único canal de graça que é Nossa Senhora.

Deus é a fonte da graça, Nossa Senhora o único canal necessário, e os Santos meras ramificações, aliás veneráveis e dignas de grande amor, do grande canal que é Nossa Senhora.

Queremos ter a graça inestimável do senso católico?

Queremos ter a virtude inapreciável da pureza? Queremos ter o tesouro sem preço, que é o dom da Fortaleza, queremos ser ao mesmo tempo mansos e enérgicos, humildes e dignos, piedosos e ativos, meticulosos em nossos deveres e inimigos do escrúpulo, pobres de espírito se bem que jungidos às riquezas do mundo, em uma palavra, fiéis e devotos servidores de Nosso Senhor Jesus Cristo?

Dirijamo-nos ao trono que Deus deu a Nossa Senhora, e, no recesso amoroso da Igreja Católica, nossa Mãe, peçamos a Nossa Senhora, também nossa Mãe, que nos faça semelhantes a seu Divino Filho.

Foi isto que depreendi do livro de Grignion de Montfort. Mas meu artigo diante do livro serve apenas para dar uma longínqua ideia do que ele é.


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, “Legionário, 26 de novembro de 1939, N. 376; Legionário, 10 de dezembro de 1939, N. 378)








Introdução

Finalidade do “Tratado da Verdadeira Devoção”

Maria Santíssima é insuficientemente conhecida

Excelências das faculdades da alma de Nossa Senhora

Outras qualidades de Maria Santíssima

Devoção a Nossa Senhora: característica da santidade

Maria Santíssima é a Onipotência Suplicante

Necessidade da devoção à Santíssima Virgem

Papel de Nossa Senhora na Encarnação

O poder da oração de Nossa Senhora e a nossa vida espiritual

A cooperação de Nossa Senhora com Deus Filho

Devoção a Nossa Senhora e apostolado

A intimidade entre Nosso Senhor e Nossa Senhora aplicada à nossa vida espiritual

A confiança total em Nossa Senhora

A cooperação de Nossa Senhora com o Espírito Santo

Deus quer servir-se de Maria na santificação das almas

Necessidade da devoção a Nossa Senhora para a nossa salvação

Aplicações para o apostolado

Maria no mistério da Igreja. Primeira consequência: Maria é a rainha dos corações

Segunda consequência: Maria é necessária aos homens para chegarem ao seu último fim

Os apóstolos dos últimos tempos e o demônio

Maria, a mais terrível inimiga de Lúcifer

Os Santos dos Últimos Tempos

Os Apóstolos dos Últimos Tempos

Verdades fundamentais da devoção à Santíssima Virgem

A pretexto de não ofender a Nosso Senhor, destroem a devoção a Nossa Senhorar

Apresentar Nossa Senhora de um modo terno, forte e persuasivo

Características da escravidão a Nossa Senhora

Seremos escravos, ou de Deus ou do demônio

Por que ser escravo de Maria, que é escrava de Deus?

A Mediação Universal de Nossa Senhora na obra de São Luís Grignion

Fatos que mostram a necessidade de protegermos de nosso fundo de maldade

A consciência da própria maldade, condição indispensável para a santificação

Escolha da verdadeira devoção à Santíssima Virgem

Os falsos devotos e as falsas devoções à Santíssima Virgem

A perfeita devoção à Santíssima Virgem ou a perfeita consagração a Jesus Cristo

Motivos que nos recomendam esta devoção

A devoção a Nossa Senhora aumenta nossas virtudes, unindo-nos sempre mais a Nosso Senhor

A graça de possuir uma grande intimidade com Nossa Senhora

A escravidão a Nossa Senhora dá valor incalculável às nossas boas obras

Figura bíblica desta perfeita devoção: Rebeca e Jacó

“Filho, dá-me o teu coração”



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