segunda-feira, 11 de junho de 2018

O grande retorno da França ao catolicismo histórico

Manifestação contra o 'casamento' homossexual em Paris
Manifestação contra o 'casamento' homossexual em Paris
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs





Na secular guerra cultural e religiosa contra a Igreja Católica desencadeada pela Revolução protestante, prosseguida pela Revolução Francesa, laica e igualitária, continuada por sua vez pela atual revolução marxista e o comuno-anarquismo gramsciano e sorboniano, está se definindo uma inversão de tendências.

A surpreendente rotação foi sagazmente analisada pelo escritor especialista no catolicismo Henri Tincq numa entrevista para a revista “Le Point”.

Henri Tincq é um dos grandes bardos do “catolicismo progressista” protocomunista que mina a prática católica na França desde o Concílio Vaticano II.



“O Grande Medo dos Católicos da França”
é impressionante pranto
pela agonia da revolução progressista
Também é grande especialista em outras religiões, escreve em Slate e em “Le Monde des Religions”, e acaba de publicar o livro “La Grande Peur des Catholiques de France” (“O Grande Medo dos Católicos da França”), Grasset, Paris, 208 págs.

Nele lança um gemido de alerta contra “a tentação conservadora, leia-se reacionária” que vê se espalhar na Igreja Católica francesa.

Essa é tão grande que Tincq afirma “não mais reconhecer minha igreja” progressista, socialista, sindicalista e revolucionária.

Pois ele foi criado “nos famosos movimentos da Ação Católica” e se sente parte de uma “geração herdeira das grandes reformas do Concílio Vaticano II (1962-1965)”.

Dita geração se abriu ao mundo moderno no que tem de pior, iniciou o ‘diálogo’ convergente com falsas crenças e ateus.

Mosteiros tradicionais atraem muitas vocações, mas os seminários 'modernos' fecham. Foto abadia de Lagrasse.
Mosteiros tradicionais atraem muitas vocações, mas os seminários 'modernos' fecham.
Foto abadia de Lagrasse.
Esse catolicismo revolucionário gerou na França camadas de políticos e sindicalistas de esquerda. Seu equivalente brasileiro se articulou no PT e na CNBB.

Mas, lamenta Tincq, a França hoje se move em sentido inverso: os jovens abandonam o mundo laicista democratizado e vão procurar na Igreja valores e modelos seguros e visíveis: a fé.

Por certo, não vão para a ‘Igreja progressista’ e procuram a Igreja Católica em sua autenticidade, dita “conservadora” e/ou “tradicionalista”.

Tincq conta em seus primeiros anos os jovens abandonavam a Igreja para se entregar ao mundo. Hoje, abandonam o mundo e ingressam nessa Igreja Católica de sempre abandonada pelas gerações de pais e avós.


Manifestação  no Trocadero, Paris, por candidato conservador.
Ele observa que 48% dos eleitores franceses votou pelo candidato direitista François Fillon, fato que o deixou “gelado”.

O moderno “catolicismo praticante” engrossa as manifestações contra o aborto e o “casamento homossexual”.

Mas, diz ele, “aquilo que mais me surpreende e entristece é que a Conferência Episcopal Francesa não foi capaz de convocar os fiéis para formar uma barragem” contra a ‘extrema direita’.

Nas décadas anteriores, o episcopado dava orientações conformes à leitura revolucionária do Evangelho em nome do Vaticano II, disse Tincq a “Le Point”.

Presidenciais francesas foram mais uma ocasião para a explosão da 'virada conservadora' da França
Presidenciais francesas foram mais uma ocasião
para a explosão da 'virada conservadora' da França
Mas, a realidade francesa mudou: onda de atentados terroristas, ingresso assustador de migrantes, perda da identidade cultural e religiosa, soberania nacional ameaçada pela União Europeia, medo do Islã, recusa da hegemonia cultural e moral da esquerda iniciada em 1968, medo do laicismo militante e agressivo contra os símbolos católicos.

Multiplicam-se as vocações monásticas tradicionais, cresce o movimento de retorno às liturgias ‘extraordinárias’ e há uma retomada das devoções tradicionais que fogem da modernice que esterilizou seminários e ordens religiosas.

E isso acontece enquanto os “católicos de esquerda quase desapareceram”. Suas últimas e escassas atividades são “eclipsadas pelas manifestações multitudinárias tipo ‘Manif pour tous’, pelos blogs e as publicações de católicos ‘identitários’”, pranteia o militante do velho catolicismo revolucionário.

Tincq sublinha que “o catolicismo audaz e progressista do Papa” está cada vez mais “cortado dessa parte da Igreja”. Mais da metade do clero francês criado como Tincq hoje têm mais de 75 anos e seus seminários ou fecharam ou estão vazios.

O retorno do anel que teria sido de Santa Joana de Arco mobilizou as saudades do passado na França.
O retorno do anel que teria sido de Santa Joana de Arco
mobilizou as saudades do passado na França.
Tal vez, prossegue o escritor, o Papa Francisco se tenha tornado mais popular fora do mundo católico do que dentro de sua própria Igreja.

A causa?: seus apelos à tolerância face aos homossexuais, aos divorciados, às mulheres que abortam, suas diatribes contra o capitalismo financeiro devastador, seus apelos irrealistas pela acolhida dos imigrantes islâmicos.

Muitos católicos lhe reprocham desvalorizar a missão do Papa, de rifar a doutrina, de ser ‘angélico’ diante da imigração islâmica, de trair a alma cristã da Europa.

Até cardeais como Raymond Burke, Robert Sarah ou Gerhard Müller militam pelo fim dessa “desordem” do pontificado e anseiam o retorno a uma Igreja disciplinada e regida por leis, deplora o esquerdista desanimado Tincq.

Missa de réquiem pelo rei guilhotinado Luis XVI, lota igreja de Saint-Eugène-Sainte-Cécile em Paris, todos os anos
Missa de réquiem pelo rei guilhotinado Luis XVI,
lota igreja de Saint-Eugène-Sainte-Cécile
em Paris, todos os anos
Ele chega a temer que o atual pontificado “acabe virando um fogo de palha, um parêntese na história da Igreja moderna. Os católicos não escondem mais que estão aguardando que vire a página”.

Espalha-se, acrescenta, “que este Papa liberal estaria pronto a abandonar, ou pelo menos cessar de defender com energia os princípios da doutrina e da disciplina católica”.

Por fim, Tincq clama no deserto: “onde estão as grandes vozes episcopais, os intelectuais católicos de renome [obviamente progressistas ou subversivos] que, outrora davam o tom na mídia e no cenário político?”.

Mas, ele sabe que não há mais e se tiver não tem eco.

Ele fez alusão a ativistas revolucionários franceses que estiveram na moda. Equivalentes europeus de bispos “vermelhos” como dom Helder Câmara, D. Pedro Casaldáliga ou o Cardeal Paulo Evaristo Arns, e de ativistas leigos como os que fundaram e dirigiram o PT e que hoje até estão no cárcere ou estão sendo processados por corrupção.



Missa de réquiem por Luís XVI, em Paris, 2017





Mosteiros tradicionais ressurgem na França. Mas seminários "progressistas" fecham


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