terça-feira, 10 de dezembro de 2024

Por que se faz a “Missa do Galo” na noite de Natal?

Galo no topo da catedral São Vito, Praga
Galo no topo da catedral São Vito, Praga
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






“Missa do Galo” é o nome da celebração litúrgica da meia-noite, na véspera do Natal.

A expressão vem da tradição segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo cantou mais fortemente que qualquer outro, anunciando o nascimento do Menino Jesus.

Assim como o galo anuncia o nascer do sol e seu canto preludia o amanhecer, assim também a “Missa do Galo” comemora e canta o nascimento de Jesus, o Sol nascente que, clareando a escuridão do pecado, veio nos remir.

O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque ele representa, histórica e tradicionalmente, a vigilância, a fidelidade e a fé proclamada no auge das trevas.

Por isso podemos ver, no topo do campanário das igrejas, um galo proclamando para todos os quadrantes que Jesus nasceu.

A celebração é feita à meia-noite porque o nascimento ocorreu por volta dessa hora. A “Missa do Galo” foi celebrada pela primeira vez no século V pelo Papa Xisto III na então nova basílica de Santa Maria Maior, onde são hoje veneradas as relíquias do Santo Presépio, conservadas em artístico relicário.

Nos primórdios da Igreja, os cristãos se encontravam para rezar na cidade de Belém à hora do primeiro canto do galo. Com a expansão da Igreja, na vigília do Natal os fiéis se reuniam na igreja mais próxima e passavam a noite rezando e cantando.

Em algumas aldeias espanholas era costume os camponeses levarem um galo à igreja para que ele cantasse na missa.

A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. As paredes eram revestidas com panos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta.

Desde o início desta devoção a véspera de Natal é suave e nobremente jubilosa. Por isso é chamada de Noite Santa. Seus cânticos são festivos, como o tradicional Glória litúrgico.

Adoração do Menino Jesus no fim da Missa do Galo, igreja do Oratório, Londres
Adoração do Menino Jesus no fim da Missa do Galo, no Oratório, Londres
Segundo uma tradição católica muito generalizada, os fiéis iam acendendo uma vela a mais em cada semana do Advento, ou período de quatro domingos antes do Natal.

Elas já estavam todas acesas na “Missa do Galo”, solenemente celebrada e na qual a comunhão era oferecida pelo nascimento do Messias.

Em Roma, o Papa deve conduzir pessoalmente a celebração, pois ele é sucessor de Pedro, o Apóstolo designado pelo próprio Jesus para primeiro monarca da Igreja (Mt 16,18).

O Natal é uma das raríssimas datas litúrgicas que contemplam três Missas diferentes: a da noite, a da aurora e a do dia.

Segundo São Gregório Magno, a Missa da noite, ou “do Galoin galli cantu (à hora em que o galo canta) comemora a vinda de Jesus à Terra; a Missa da aurora, celebrada logo depois, comemora o nascimento de Jesus no coração dos fiéis; a Missa do dia, ou Missa de Natal propriamente dita, evoca o nascimento do Verbo de Deus.

A Missa começava com um cântico natalício. No momento do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o nascimento do Redentor. No fim da celebração, todos iam oscular o Menino. Em algumas Igrejas, o presépio permanecia coberto até o momento do cântico.

De início jejuava-se durante a vigília, como forma de desprendimento e convite à contemplação do grande mistério que vai se celebrar. Comia-se apenas peixe — e em Portugal bacalhau, costume que ainda perdura em muitos lares brasileiros.

Depois que se aboliu o jejum, o povo continuou a chamar a ceia de Natal de “consoada”, embora esta tenha passado a ser mais abundante. “Consoada” significa pequena refeição e surgiu no século XVII. Era feita após a “Missa do Galo”.

Os fiéis chegando para a 'Missa do Galo' (Clarence Gagnon,1933)
Os fiéis chegando para a 'Missa do Galo' (Clarence Gagnon,1933)
Até a revolução “pós-conciliar”, após a “Missa do Galo” as famílias voltavam para suas casas, colocavam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantavam e rezavam em seu louvor, faziam a Ceia de Natal e trocavam presentes.

O nome “Missa do Galo” usa-se apenas em português e espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal ou Missa da meia-noite.

Na Espanha havia uma tradição peculiar: “Antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de dezembro, cada lavrador da província de Toledo matava um galo, em memória daquele que cantou três vezes, quando Pedro negou Jesus, por ocasião da sua morte”.

Em seguida, a “ave era levada para a igreja e oferecida aos pobres”, informa a agência católica Ecclesia.

Apesar do laicismo moderno e da escalada do ateísmo materialista, nessa abençoada noite as catedrais de Paris, Londres, Barcelona e muitas outras se enchem, para acompanhar os coros que cantam as santas alegrias do Natal iminente... até o galo cantar anunciando a Boa Nova!



"Stille Nacht, Heilige Nacht" (Noite silenciosa, noite santa, Alemanha)




"Il est né le Divin Enfant" (Nasceu o Divino Menino, França)




"Gabriel, fram Heven-King" (Gabriel anunciou o Rei do Céu, Inglaterra)





"Pastores loquebantur" (Os pastores falavam, Daniel Bollius)





"Adeste fideles" (Vinde, fiéis, Daniel tradicional)





"Canta ruiseñor" (Canta rouxinol, Peru, tradicional)





"O du fröhliche, o du seliche" (O você feliz, oh você mesmo, Alemanha)





"Dormi Jesu dulcissime" (Dorme, oh meu docíssimo Jesus, Pal Esterhazy, Áustria)





terça-feira, 3 de dezembro de 2024

Imaculada entre ruinas carbonizadas na Argentina

A Inmaculada Conceição em Ongamira brilhava entre as brasas
A Imaculada Conceição em Ongamira brilhava entre as brasas
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs







Também na Argentina os devastadores incêndios que em 2024 pegaram em quase toda América do Sul simultaneamente por mãos de incendiários alguns dos quais presos, afetaram gravemente a região de Punilla, província de Córdoba, no coração do país, segundo registrou o importante site de Buenos Aires “Infobae”.

Mas, no pior da destruição as chamas tomaram conta do prédio do Centro Mariano do Espírito Santo, localizado entre Ongamira e Quebrada de la Luna.

Mas, de modo imprevisível, a imagem da Nossa Senhora das Graças permaneceu resplandecente de alvura entre as cinzas e as ruínas do prédio que a tinha albergado.

O fato tomou de surpresa ao fotógrafo profissional Ariel Luna, da InfoCórdoba, que tirou as fotos que se tornaram virais.

Ele descreveu o fato vivido deste modo: “de manhã eu estava procurando uma fonte de fogo para fotografar no meio da noite. E com um colega vimos que em Ongamira havia mais fogo e andámos nessa direção cerca de 12 quilômetros, montanha adentro”, recordou.

Ao se aproximar da área de maior intensidade encontrou fugitivos que lhe contaram que o santuário mariano estava em chamas porque “não havia bombeiros nem ninguém que pudesse apagar o fogo”. Era isso que os jornalistas procuravam e para lá eles foram.

Prossegue Ariel Luna: “encontramos uma estrutura pegando fogo. O impacto visual gerado por aquela queimada foi muito forte, vimos como destruiu toda a madeira das paredes e sobraram apenas alguns gravetos em chamas”, lembrou.

Após cerca de sete minutos, o profissional começou a tirar fotos do local, sem ainda ver a estátua.

“Era muito difícil, pois o fumo e as cinzas dificultavam a visão e a focagem à distância, por isso trabalhei dentro do fogo, sem lentes fotográficas grandes, mas sim curtas, em grande plano”, explicou.

Até que, entre as faíscas, percebeu algo ao que atribuiu um caráter quase divino. “Comecei a vislumbrar uma figura branca na fumaça, mas era impossível chegar perto por causa do fogo”, contou.

O fotógrafo viu primeiro a silhueta de Nossa Senhora até que a foto com flash o surpreendeu
O fotógrafo viu primeiro a silhueta de Nossa Senhora
até que a foto com flash o surpreendeu
Nessa hora aconteceu uma mudança repentina no vento que o ajudou a aproximar-se do que viu ser uma estátua da Virgem Maria.

“Estávamos procurando fogo e apareceu uma maré laranja e pensámos que era uma casa, mas depois vimos que era um santuário. Entrei para tirar fotos no meio de todas as estruturas em chamas, me virei e vi a Virgem completamente branca”, disse o fotógrafo ao ElDoce.tv.

“Não tinha nenhuma marca, não estava carbonizada, nada. Disseram-me que não queimou porque é de gesso, mas isso não é crível. Foi uma maré de fogo que consumiu tudo em 10 segundos”.

E acrescentou: “Na verdade enquanto eu tirava as fotos os gravetos continuavam caindo. Meu parceiro me disse para sair porque ele iria me queimar, então tirei mais algumas fotos e fui embora.”

“Não sobrou nada do santuário, só Ela, quando fui tirar a foto, vi que estava completamente branca, como se não tivesse estado ali antes e tivesse sido depositado recentemente”, revelou.

O que mais surpreendeu ao experiente repórter, é que a figura de gesso não apresentava manchas de fuligem, nem mesmo cinza acumulada, ao contrário de outra imagem sagrada encontrada recentemente em Los Coconuts.

“Aquela estava dourada, aqui está como está, por isso foi impactante para os fiéis”, comentou Luna, acrescentando que a imagem não foi deslocada do local. E ele busca se aproximar novamente. “Vou tentar entrar naquela área hoje, se o fogo permitir.”

Inalterada e impoluta via-se a imagem da Virgem após o fogo arrasar o santuário.
Inalterada e impoluta via-se a imagem da Virgem
após o fogo arrasar o santuário.
Luna confessou que “não vá à missa há 15 anos”, mas destacou que “nunca teve um impacto destas características, nenhuma cobertura deste incêndio teve tamanha magnitude midiática, a foto que está circulando por todo lado”, explicou.

Quando questionado se conseguiu se aproximar da Virgem e tocá-la para tentar entender por que a figura não sofreu nenhum dano, ele respondeu:

“Meu colega me disse ‘toquei’ e estava quente fervendo, mas não sofri absolutamente dano algum."

Luna descreveu o que ele qualificou surpreendente encontro com o divino: “Primeiro vi a silhueta dela, entre as chamas, e tirei várias fotos, depois fiz com flash e vi ela que ela nem estava marrom, mas o fogo vivo tinha acabado de passar e devastar tudo".

O fotografo retratou o que acontecia no incêndio em diversos locais de Córdoba inclusive do “minuto zero”, quando as chamas vindas de Villa Dolores avançaram para Capilla del Monte.

Enquanto ele tirava as fotos, as estruturas de madeira ao seu redor continuavam queimando, os gravetos continuavam caindo e seu companheiro o alertou para sair do local para evitar queimaduras.

Para Luna, capturar esta imagem não foi coincidência. “Descobri que há pessoas que rezam para a imagem e acreditam que é um milagre”, revelou o fotojornalista.

Em Los Cocos, Córdoba, Argentina, Nossa Senhora de Lourdes venceu o fogo
Em Los Cocos, Córdoba, Argentina,
Nossa Senhora de Lourdes venceu o fogo
Todos aqueles que viram a imagem expressaram seu espanto e interpretaram a imagem como um símbolo de esperança em meio à tragédia.

O incêndio referido na região central da Argentina destruiu casas, devastou vegetação avançando sem freios.

Um dos locais mais afetados foi a cidade de Los Cocos, onde dezenas de moradores perderam suas casas em questão de horas. Os jornais “Crónica” e “Diario 13”, este de San Juan, publicaram sendos relatos concordantes. 

Porém, em meio à destruição, mais uma descoberta inesperada trouxe esperança: uma imagem da Imaculada Conceição foi encontrada intacta entre os restos de casas consumidas pelas chamas.

Nossa Senhora da Imaculada Conceição de Luján é a padroeira do país, do mesmo modo que Nossa Senhora da Imaculada Conceição Aparecida é padroeira do Brasil

Segundo o jornal local “La Voz”, um novo foco de incêndio desencadeou-se no departamento de Calamuchita, nas zonas de Intiyaco e Villa Berna, perto de La Cumbrecita, mobilizando mais de 600 bombeiros e brigadistas.

Detalhe de Nossa Senhora de Lourdes em Los Cocos, Córdoba, Argentina
Detalhe de Nossa Senhora de Lourdes em Los Cocos, Córdoba, Argentina
No meio de uma luta encarniçada contra chamas infernais foi feita a descoberta de outra imagem intacta da Imaculada Conceição no vilarejo de Los Cocos.

Ela estava cercada por quatro casas reduzidas a cinzas, mas continuava em pé e intacta, inspirando uma onda de esperança entre os vizinhos vitimados.

Os moradores tinham invocado a intercessão da Virgem para proteger os bombeiros que estavam combatendo as chamas e as famílias afetadas.