Costumes do Natal

Sao Francisco de Assis, primeiro presepio vivo, Grecchio, Benozzo Gozzoli, 1452, Montefalco
São Francisco de Assis, no primeiro presépio vivo, em Grecchio, Itália.
Benozzo Gozzoli, 1452, Montefalco
Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






São Nicolau, a árvore maravilhosa, Santa Lucia e o pudding real

Natal 2020, anônimo peruano e igreja colegiata de Thann, Alsacia
Natal 2020, anônimo peruano e igreja colegiata de Thann, Alsácia

Natal abre clareiras de luz e alegria nas trevas e nas tristezas.

Enquanto em Belém raiava a salvação, o imperador Augusto refletia o fracasso de sua política moralizadora.

Perto dele iam noite adentro as orgias e os arúspices e falsos teólogos jogavam as sortes com o oculto.

Eles não sabiam a sociedade do futuro se decidia num estábulo da Judeia.

Ali as mãos virginais de Maria davam ao mundo o Messias que o redimiria com seu sangue, o reorganizaria com seu Evangelho e o inundaria de gáudios com sua graça.

Quem foi São Nicolau?


Foi o caso de São Nicolau (270–343) de Bari, Itália, bispo de Myra, hoje na Turquia, e cuja festa é o 6 de dezembro, no Advento.

São Nicolau joga pela janela a dote para as moças nobres pobres, Fra Angelico (1395 –1455), Pinacoteca Vaticana
São Nicolau joga pela janela a dote para as moças nobres pobres.
Fra Angelico (1395 –1455), Pinacoteca Vaticana
Um nobre arruinado de sua diocese, pai de três moças, não podia pagar a dote para casá-las e pensou dá-las ao meretrício.

Na noite o santo bispo viu as meias delas secando na lareira, e jogou pela janela uma sacolinha em cada uma com moedas que valiam a dote.

Ninguém imaginaria que essa caridade mudaria os costumes do mundo durante milênios. Do norte da Europa e da América uma torrente de cartas infantis o saúda e lhe implora presentes.

Na Alemanha, os Correios encaminham todo ano por volta de 500 mil cartas para a agência de Engelskirchen, ou Igreja do Anjo, na Renânia do Norte-Vestfália.

Uma outra agência na Finlândia, recebe mais meio milhão com saudações e pedidos.

A imaginação e a fé deram a São Nicolau uma realidade que não se limita ao Céu celestial.

A mente infantil está certa que ele vive nesta terra lendo essas cartas e faz suas listas aguardando o período natalino para distribuir os regalos.

Mas onde está ele? Por que só aparece nesse período? A tradição forjou a imagem de um piedoso ermitão que mora num local inacessível.

Qual? Pois, o Ártico! Lá, revestido de suas insígnias episcopais, agasalhado com peles, lê cada carta junto à lareira de uma cabana num bosque sepultado pelas neves.

Lá ele ajeita seu trenó e alimenta as renas que o conduzirão por todos os elementos.

Mas de onde saíram esse trenó e essas renas que nunca houve em Myra nem em Bari? Pois, da poesia de 1823 “Uma visita de São Nicolau”, de Clement Clarke Moore.

São Nicolau numa escola pública de Linéville, Alsácia.

Para a inocente alma infantil tudo ficou explicado.

As renas traziam São Nicolau de trenó! São quatro casais de renas, cada uma nomeada pelas suas qualidades.

Uma nona vai na frente de todas e é a mais famosa: Rodolfo Nariz Vermelha.

Ela tem um faro especial e seu nariz fica vermelho brilhante quando se aproxima da casa de uma criança que fez méritos. 

O comerciário Papai Noel e o verdadeiro São Nicolau

Deixemos de lado a contrafação comerciária de Papai Noel e vejamos como São Nicolau é recebido em alguns países.

Aliás, o primeiro Papai Noel que se fez ver no Brasil foi numa Ceia de Natal em São Luís do Maranhão por volta de 1890.

Entrou pela janela com a saca de presentes, mas os homens puxaram trabucos e revolveres.

Salvou a vida porque Da. Maria Barbara de Andrade, filha do poeta Joaquim de Sousa Andrade, se interpôs gritando: “Não o matem! É o Papai Noel! Eu o contratei!”.

Na Alsácia, na fronteira da França com a Alemanha. São Nicolau é um personagem oficial.

As escolas do Estado preparam os alunos lhes ensinando canções que pedem sua vinda no 6 de dezembro quando ele chega com seu cortejo e convoca cada criança a render contas e lhe dar o presente.

Atrás dele em ruas e praças vem um personagem sinistro: é o Padre Látego, encapuçado, de barba e cabelos desgrenhados, rosto escuro e olhar sombrio.

Ele faz ressoar no ar um látego, pau ou feixe de varas visando as crianças desobedientes.

São Nicolau e o 'Padre Látego' em Mulhouse, Alsácia
São Nicolau e o 'Padre Látego' em Mulhouse, Alsácia.
Numa grande saca garante levar os meninos que não fazem suas orações.

As crianças o vaiam e lhe jogam bolinhas de papel.

Jules Hoches o pintou como “um enviado do Diabo que ameaça levar as crianças que não cumprem as promessas”.

Em Wissembourg monta um cabalo negro e peludo, escoltado por ginetes apocalípticos que com o fragor de tambores aterrorizam a população.

Lutero, pai do protestantismo, detestava os santos e não queria a festa de São Nicolau.

E acabou sendo ele o Padre Látego dos maus cristãos! A Contrarreforma católica aprovou a figura para inculcar nas crianças o senso do prêmio e do castigo.

A árvore maravilhosa


Os presentes podem chegar na festa de São Nicolau, no Natal, ou ainda na Epifania, trazidos pelos Reis Magos, segundo as regiões.

O costume mais antigo é deixar meias penduradas na lareira em lembrança das três moças do início da cavalgada milenar de São Nicolau.

Árvore e meias para os presentes de São Nicolau, EUA
Árvore e meias para os presentes de São Nicolau, EUA
Na Holanda as crianças as enchem de feno para alimentar as pobres renas com a esperança que quanto maior a meia e o feno, mais grande será o presente.

Mas podem receber só um carvão se não se comportaram. Em alguns países os presentes chegam em mais de uma festa.

Sélestat, cidade da Alsácia, é uma das que reivindica a paternidade da Árvore de Natal e exibe o mais antigo documento que há sobre ele.

Mas os pinheiros ornados e com presentes ficam pendendo do teto no interior das igrejas.

Após a Missa de Epifania as crianças vão com varas derrubar os presentes.

O pai da árvore natalina tal vez seja São Bonifácio que derrubou um imponente carvalho que os bárbaros idolatravam como deus.

Depois plantou um pinheirinho que pelo seu perfil triangular servia para explicar o mistério de Deus Uno e Trino, e o ornou com frutas e sementes símbolo das graças que distribuía.

A maçã vermelha brilhante era ideal para isso, mas um aziago ano, a geada queimou a colheita.

Na Alsácia e na Turíngia mestres vidreiros substituíram as frutas e nozes com bolas cristalinas que a rainha Victória da Inglaterra (1819–1901) mandou adotar em seus castelos.

O mundo todo seguiu o exemplo.

Lucía: a Santa da Luz


Santa Lucia, seu dia na Suécia.
Nos países nórdicos, a mártir romana Santa Lucia (293–304) é especialmente comemorada no dia 13 de dezembro.

Ela é uma das oito santas invocadas no Canon da Missa católica tradicional.

Ela foi uma nobre de Siracusa, de riquíssima família e excecional beleza que consagrou sua virgindade a Deus.

Não sabemos seu nome, mas ela saía às noites a distribuir doações e alimentos aos pobres com uma lâmpada de vela que lhe dava luz e o nome Lucia.

Nas torturas para faze-la apostatar lhe arrancaram os olhos, mas Deus lhe deu outros ainda mais belos.

Por isso é a padroeira dos oftalmologistas e dos doentes dos olhos pois tira os cegos da escuridão.

Na Escandinávia os dias do Advento são curtos e escuros.

Então moças vestidas de branco com uma coroa de velas levam bolos ara os pobres e carvão para os que passam frio.

Na Noruega, na Suécia, e na Finlândia coros de meninas assim coroadas processionam lembrando a Luz de Cristo que ilumina as trevas – até nos recintos protestantes! Os rapazes usam vestes alusivas a Santo Estevão protomártir.

O culto foi levado por missionários medievais e paradoxalmente renasceu no século XIX sob o tamanco luterano.

Santa Lucia com roupas tradicionais suecas.
Santa Lucia com roupas tradicionais suecas.
As procissões públicas começaram em 1927 quando um jornal de Estocolmo escolheu a Lucia do ano e o exemplo pegou fogo em cidades, escolas, jornais e TVs.

Segundo o Guinness a procissão de Santa Lucia na capital sueca é a maior do mundo com 1200 membros de escolas de música. Ela ingressa numa sessão do Parlamento entoando uma canção tradicional napolitana e vilancicos locais.

Em certas universidades, há um jantar especial em seu dia.

A Finlândia imitou a Suécia e a Santa Lucia do ano é coroada na catedral de Helsinki, paradoxalmente protestante.

A também herética Dinamarca imitou a Suécia em 1944 pelo desejo oficial “de trazer luz numa época de escuridão”.

A festa é comemorada seletivamente nas escolas.

Na noite anterior só se acendem velas e se apagam as luzes elétricas e se canta o famoso vilancico napolitano à Santa.

Na Noruega, comemora-se Lucia como aquela que espanta os espíritos, gnomos e fantasmas que giram pela terra nos dias mais negros do ano e pune aqueles que trabalham no Natal.

No Norte da Itália, Santa Lucia leva presentes às crianças nos dias 12 e 13 de dezembro quando são feitas umas bolachinhas doces com forma de olhos que lembram seu martírio.

As crianças lhe deixam um pouco de café, palha para seu burrico e um copo de vinho de Castaldo.

Na Hungria e na Croácia planta-se uma semente de trigo num vaso em sua festa e o broto no Natal é símbolo do triunfo da vida sobre a morte e do nascimento de Jesus e da Eucaristia.

Nas Filipinas celebra-se uma novena de missas antes de sua festa.

No Caribe, a Santa é a padroeira de uma pequena ilha que leva seu nome e festeja sua data como Dia Nacional.

O ‘pudding’ real inglês


A rainha e os príncipes herdeiros preparam o pudding familiar tradicional.
A rainha e os príncipes herdeiros preparam o pudding familiar tradicional.
 ‘pudding’ inglês é a fonte de todos os pudins da terra e não pode faltar nem no Palácio real de Buckingham.

Cada família faz seu ‘pudding’ com fórmula exclusiva, inclusive a família real.

Em 2019, a rainha cedeu sua função aos príncipes herdeiros.

O encarregado de fazer a mistura dos 25 elementos foi o principinho George que agiu com ferrenho entusiasmo acolitado pelos príncipes Charles e William.

A receita secreta deu 99 pequenos ‘puddings’ presenteados pela rainha para o Natal dos postos militares mais afastados.

Elizabeth II presentou também 1.500 puddings de boa loja a seus 500 auxiliares nos castelos.

Eles receberam junto um cartão assinado pela rainha e receberam um cumprimento pessoal.

O pudding de Natal da famíliia real presenteado aos soldados servindo longe do país
O pudding de Natal da famíliia real presenteado aos soldados servindo longe do país
O ‘pudding’ não é de origem inglês, mas foi trazido pelos soldados romanos que amassavam – como os tropeiros com o cuscuz – em sua alforja frutos secos, nozes, amêndoas, etc. com leite e álcool e iam comendo a massa em suas longas expedições. Assim devia ser nos tempos de Jesus em Belém.

Vinte e um séculos depois da divina Natividade, o mesmo mundo comemora o Natal sem saber de seu destino que, aliás, intui cada vez mais negro.

A Terra afundou num caos que nem nos tempos de Augusto teve igual.

Mas, como os pastores que adoraram o Menino Deus no presépio, hoje os homens de boa vontade podem procurar a salvação nas mãos da Mãe de Deus.

Só por meio dEla será restaurado o reinado social de Jesus Cristo onde haverá festas de Natal incomparavelmente mais belas de tudo o que os homens até agora conheceram.




A Coroa do Advento, símbolo do próximo nascimento de Jesus

Entre os muitos costumes do Natal cujas origens nem muitos sabem, figura a de montar uma coroa de galhos de pinheiro – ou equivalente – ornada com flores, frutas, bolas, fitas, muita imaginação e o mais importante: quatro velas.

Trata-se da “Coroa do Advento”.

A palavra Advento vem do latim adventus e significa “vinda” ou “chegada”.

O período litúrgico do Advento foi instituído pelo Papa São Gregório I Magno para preparar os fiéis para a vinda de Cristo.

O Advento começa quatro domingos antes do Natal e marca o início do ano litúrgico.

No século XVI na Alemanha apareceu o costume de montar a Coroa de Advento para ir marcando os domingos que faltavam até o Natal.

Em cada domingo acendia-se uma das velas, de maneira que quando todas estivessem acessas o Natal era iminente.

Também em muitas famílias ou igrejas se acrescenta no centro uma grande vela branca. Essa quinta vela é acessa na Noite de Natal.

Na Alemanha há muitas variantes em torno da ideia central e tradicionalmente as velas são vermelhas, que é a cor do fogo da graça e da Luz que o Menino Jesus vem trazer ao mundo.

Porém, na Suécia, elas são brancas para evocar a pureza da festa e, na Áustria são roxas, cor litúrgica do Advento, e simbolizam a penitência que nos prepara para bem receber o divino Redentor. Fonte.


Clique aqui para Vom Himmel hoch ihr Engel kommt (Natal/Alemanha):




São Francisco de Assis iniciou o costume de fazer presépios vivos no Natal

A celebração da festa de Natal remonta aos primeiros séculos da Igreja, sendo uma comemoração especificamente católica.

Desde o século IV as relíquias da manjedoura da gruta de Belém são veneradas na basílica de Santa Maria Maggiore em Roma.

Elas se encontram num precioso relicário de ouro e cristal (foto ao lado), onde podem ser admiradas e adoradas por todos.

A liturgia própria da festa era chamada ad praecepe, de onde vem a palavra presépio, e que significa literalmente em volta do berço.

Relíquias do presépio de Belém, em artística urna. Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma.
Relíquias do presépio de Belém, em artística urna.
Basílica de Santa Maria Maggiore, em Roma.
Em 1223, São Francisco de Assis criou o primeiro presépio vivo, com personagens reais, na sua igreja de Grecchio, na Itália.

Os figurantes (o Menino Jesus numa manjedoura, Nossa Senhora, São José, os Reis Magos, os pastores e os anjos) eram representados por habitantes da aldeia.

Os animais, o boi, o burrico, as ovelhas e outros, também eram reais.

Este piedoso costume medieval espalhou-se rapidamente.

Os primeiros presépios em escala reduzida com imagenzinhas, entraram nas igrejas no século XVI por obra dos padres jesuítas.

Nessa época os jesuítas eram heróis na luta contra o protestantismo seco e hirsuto que desconhece o presépio e os seus imponderáveis divinos que enchem as almas de gáudio.

Presépio francês feito com 'santons'. Col. part.
Por volta dos séculos XV e XVI ficaram famosos os presépios de Nápoles, Itália, pela proliferação de figurinhas.

No início do século XIX, após a anticatólica Revolução Francesa, na França pareceu que o costume tinha morrido.

Mas, os habitantes da região de Provence (sul) deram novo impulso a esta piedosa devoção a partir de 1803 em casas particulares e igrejas criando famosos santons (figurinhas de massa) que representam os personagens da creche.

Na hora de montar o presépio, em geral, deixa-se a manjedoura vazia.

Nela, o Menino Jesus será instalado na noite do dia 24 para o 25.

Forma parte de o costume colocar uma estrela no topo do presépio.

Presépio francês feito com 'santons'. Col. part.
Presépio francês feito com 'santons'. Col. part.
Ela nos lembra a estrela que no céu guiou os três santos reis de Oriente vindos venerar o Salvador do mundo.

Os três Reis Magos (Gaspar, Melchior e Balthazar), simbolizam o conjunto dos povos da terra.

Em geral, são representados com camelos, ou até elefantes e dromedários que lhes teriam servido de montaria.

É um costume muito praticado, colocá-los longe da creche e, dia após dia, aproximá-los dela, até introduzi-los na gruta na festa da Epifania (6 de janeiro).

Epifania significa a irradiação da glória externa de Deus, precisamente posta em relevo pela adoração dos potentados de Oriente.

A presença dos anjos é de rigor, relembrando o cântico angélico “Glória a Deus nos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade” de que nos falam as Escrituras.




O Presépio católico e a graça de Natal

O Natal é comemorado em toda a face da Terra.

Mas, cada povo o comemora a seu próprio modo.

Por quê?

A Igreja Católica, vivendo na alma de povos diferentes, produz maravilhosas e diversas harmonias. Ela é inesgotável em frutos de perfeição e santidade.

Ela é como o sol quando transpõe vidros de cores diferentes. Quando penetra num vitral vermelho, acende um rubi; num fragmento de vitral verde, faz fulgurar uma esmeralda!

O gênio da Igreja passando pelos povos alemães produz algo único; passando pelo povo espanhol faz uma outra coisa inconfundível e admirável, e depois mais aquilo e aquilo outro num outro povo, num outro continente, numa outra raça.

No fundo é a Igreja iluminando, abençoando por toda parte. É Deus que na Sua Igreja realiza maravilhas da festa de Natal.

Canta a liturgia : “Puer natus est nobis, et Filius datur est nobis...”

“Um Menino nasceu para nós, e o Filho de Deus nos foi dado.

“Cujo império repousa sobre seus ombros e o seu nome é o Anjo do Grande Conselho”.


“Cantai a Deus um cântico novo, porque fez maravilhas”.

Aquele Menino nos foi dado — e que Menino! Então, cantemos a Deus um cântico novo.

O Natal do católico é sereno, cheio de significado, e ao mesmo tempo elevado como o interior de uma igreja!

A vitalidade inesgotável da festa natalina é sobrenatural, produz na alma católica uma paz profunda, uma sede insaciável de heroísmo, e um voltar-se completamente para as coisas do Céu.

No Natal, a graça da Igreja brilha de um modo especial na alma de cada católico. E de cada povo que conserva algo de católico na face da Terra inspirando incontáveis formas de comemorar o nascimento do Redentor!

Porque a Igreja é a alma de todos os Natais da Terra!










A saudade dos presépios cheios de unção católica

Eis um artigo tocante sobre o Natal publicado num jornal que com freqüência vem carregado de notícias em sentido oposto:


MENINO, LÁ EM MINAS , eu tinha inveja dos católicos. Eu era protestante sem saber o que fosse isso.

Sabia que, pelo Natal, a gente armava árvores com flocos de algodão imitando neve que não sabíamos o que fosse. Já os católicos faziam presépios.

Os pinheiros eram bonitos, mas não me comoviam como o presépio: uma estrela no céu, uma cabaninha na terra coberta de sapé, Maria, José, os pastores, ovelhas, vacas, burros, misturados com reis e anjos numa mansa tranquilidade, os campos iluminados com a glória de Deus, milhares de vagalumes acendendo e apagando suas luzes, tudo por causa de uma criancinha.

A contemplação de uma criancinha amansa o universo.

O Natal anuncia que o universo é o berço de uma criança.

Até os católicos mais humildes faziam um presépio.

As despidas salas de visita se transformavam em lugares sagrados.

As casas ficavam abertas para quem quisesse se juntar aos reis, pastores e bichos.

E nós, meninos, pés descalços, peregrinávamos de casa em casa, para ver a mesma cena repetida e beijar a fita.

Nós fazíamos os nossos próprios presépios. Os preparativos começavam bem antes do Natal.

Enchíamos latas vazias de goiabada com areia, e nelas semeávamos alpiste ou arroz.

Logo os brotos verdes começavam a aparecer. O cenário do nascimento do Menino Jesus tinha de ser verdejante.

Sobre os brotos verdes espalhávamos bichinhos de celulóide.

Naquele tempo ainda não havia plástico. Tigres, leões, bois, vacas, macacos, elefantes, girafas.

Sem saber, estávamos representando o sonho do profeta que anunciava o dia em que os leões haveriam de comer capim junto com os bois e as crianças haveriam de brincar com as serpentes venenosas.

A estrebaria, nós mesmos a fazíamos com bambus. E as figuras que faltavam, nós as completávamos artesanalmente com bonequinhos de argila.

Tinha também de haver um laguinho onde nadavam patos e cisnes, que se fazia com um pedaço de espelho quebrado.

Não importava que os patos fossem maiores que os elefantes. No mundo mágico tudo é possível. Era uma cena "naïve". Um presépio verdadeiro tem de ser infantil.

E as figuras mais desproporcionais nessa cena tranquila éramos nós mesmos. Porque, se construímos o presépio, era porque nós mesmos gostaríamos de estar dentro da cena. (Não é possível estar dentro da árvore!).

Éramos adoradores do Menino, juntamente com os bichos, as estrelas, os reis e os pastores.

Será que essa estória aconteceu de verdade? Foi daquele jeito descrito pelas escrituras sagradas?

As crianças sabem que isso é irrelevante. Elas ouvem a estória e a estória acontece de novo.

Não querem explicações. Não querem interpretações. A beleza da estória lhes basta.

O belo é verdadeiro. Os teólogos que fiquem longe do presépio. Suas interpretações complicam o mundo.

O presépio nos faz querer "voltar para lá, para esse lugar onde as coisas são sempre assim, banhadas por uma luz antiquíssima e ao mesmo tempo acabada de nascer. Nós também somos de lá. Estamos encantados. Adivinhamos que somos de um outro mundo." (Octávio Paz )

Seria tão bom se os pais contassem essa estória para os seus filhos!"

Fonte: Rubem Alves, Folha de S.Paulo, 23.12.2008

E, acrescentamos nós do blog, como seria bom que os sacerdotes contassem essa estória para os fiéis nas igrejas!!!




Árvore de Natal, árvore de Cristo

Árvore de Natal, Mittenwald, Baviera, Alemanha
Depois do Presépio, a Árvore de Natal é o símbolo mais expressivo da época natalina — sobretudo em tempos passados, nos quais o aspecto comercial do Natal não era tão protuberante e agressivo.

O inventor da árvore de Natal foi São Bonifácio, o apóstolo e evangelizador da Alemanha.

Em 723 São Bonifácio derrubou um enorme carvalho dedicado ao deus Thor, perto da atual cidade de Fritzlar.

Para convencer o povo e os druidas de que não era uma árvore sagrada, ele abateu-a.

Esse acontecimento é considerado o início formal da cristianização da Alemanha.

Na queda, o carvalho destruiu tudo o que ali se encontrava, menos um pequeno pinheiro.

São Bonifácio derruba árvore sagrada pagã.  Emil Doepler (1855 – 1922).  Uma santa truculência atraiu a bênção da árvore de Natal.
São Bonifácio derruba árvore sagrada pagã.
Emil Doepler (1855 – 1922).
Uma santa truculência atraiu a bênção da árvore de Natal.
Segundo a tradição, São Bonifácio interpretou esse fato como um milagre. Era o período do Advento e, como ele pregava sobre o Natal, declarou:

“Doravante, nós chamaremos esta árvore de árvore do Menino Jesus”.

O costume de plantar pequenos pinheiros para celebrar o nascimento de Jesus começou e estendeu- se pela Alemanha.

E no século XIX, a Árvore de Natal — também conhecida em alguns países europeus como a “Árvore de Cristo” — espalhou-se pelo mundo inteiro como símbolo da alegria própria ao Natal para se festejar o nascimento do Divino Infante.

(Fonte: Guia de Curiosidades Católicas, Evaristo Eduardo de Miranda)




A primeira Árvore de Natal surgiu pelas santas machadadas de São Bonifácio

A Árvore de Natal: símbolo católico  pelo apostolado de São Bonifácio.
A Árvore de Natal: símbolo católico
pelo apostolado de São Bonifácio.
Quando pensamos em um santo, talvez num primeiro momento não consideramos que essa pessoa seja ousada, empunhe um machado, um martelo ou que derrube árvores como os carvalhos.

Entretanto, existe um santo assim: é São Bonifácio.

Este santo nasceu na Inglaterra por volta do ano 680.

Ingressou em um monastério beneditino antes de ser enviado pelo Papa para evangelizar os territórios que pertencem a atual Alemanha.

Primeiro foi como um sacerdote e depois como bispo.

Sob a proteção do grande Charles Martel, Bonifácio viajou por toda a Alemanha fortalecendo as regiões que já tinham abraçado o catolicismo e levou a luz de Cristo àqueles que ainda não o conheciam.

O escritor Henry Van Dyke o descreveu assim, em 1897, em seu livro The First Christmas Tree (A primeira árvore de natal):

“Que pessoa tão boa! Que boa pessoa! Era branco e magro, mas reto como uma lança e forte como um cajado de carvalho.

“Seu rosto ainda era jovem; sua pele suave estava bronzeada pelo sol e pelo o vento.

“Seus olhos cinzas, limpos e amáveis, brilhavam como o fogo quando falava das suas aventuras e das más ações dos falsos sacerdotes aos quais enfrentou”.

Aproximadamente no ano 723, São Bonifácio viajou com um pequeno grupo de pessoas na região da Baixa Saxônia.

São Bonifácio não foi ecumênico e cortou a árvore do falso deus Thor.
São Bonifácio não foi ecumênico e cortou a árvore do falso deus Thor.

“O Carvalho do Trovão”


Ele conhecia uma comunidade de pagãos perto de Geismar que, no meio do inverno, realizavam um sacrifício humano (onde a vítima normalmente era uma criança) a Thor, o deus do trovão, na base de um carvalho o qual consideravam sagrado e que era conhecido como “O Carvalho do Trovão”.

São Bonifácio, acatando o conselho de um bispo, quis destruir o Carvalho do Trovão não somente a fim de salvar a vítima, mas também para mostrar àqueles pagãos que ele não seria derrubado por um raio lançado por Thor.

O Santo e seus companheiros chegaram à aldeia na véspera de Natal, bem a tempo para interromper o sacrifício.

Com seu báculo de bispo na mão, São Bonifácio se aproximou dos pagãos que estavam reunidos na base do Carvalho do Trovão e lhes disse:

“Aqui está o Carvalho do Trovão e aqui a cruz de Cristo que romperá o martelo do Thor, o deus falso”.

O verdugo levantou um martelo para matar o pequeno menino que tinha sido entregue para o sacrifício.

Mas, São Bonifácio estendeu seu báculo para impedir o golpe e milagrosamente quebrou o grande martelo de pedra e salvou a vida deste menino.

Após derrubar a árvore da superstição, São Bonifácio prega a verdadeira árvore da vida: Nosso Senhor Jesus Cristo.
Após derrubar a árvore da superstição, São Bonifácio prega
a verdadeira árvore da vida: Nosso Senhor Jesus Cristo.

Escutai filhos do bosque!


Logo, São Bonifácio disse ao povo:

“Escutai filhos do bosque! O sangue não fluirá esta noite, a não ser que piedade se derrame do peito de uma mãe. Porque esta é a noite em que nasceu Cristo, o Filho do Altíssimo, o Salvador da humanidade.

“Ele é mais justo que Baldur, maior que Odim, o Sábio, mais gentil do que Freya, o Bom. Desde sua vinda, o sacrifício terminou. A escuridão, Thor, a quem chamaram em vão, é a morte.

“No profundo das sombras de Niffelheim ele se perdeu para sempre. Desta forma, a partir de agora vocês começarão a viver.

“Esta árvore sangrenta nunca mais escurecerá sua terra. Em nome de Deus, vou destruí-la”.

Então, São Bonifácio pegou um machado que estava perto dele e, quando o brandiu poderosamente ao carvalho, uma grande rajada de vento atingiu o bosque e derrubou a árvore, inclusive as suas raízes.

A árvore caiu no chão, quebrou-se em quatro pedaços.

Depois deste acontecimento, o Santo construiu uma capela com a madeira do carvalho.

Relíquia de São Bonifácio venerada na catedral de Fulda, Alemanha.
Relíquia de São Bonifácio venerada na catedral de Fulda, Alemanha.
O “Apóstolo da Alemanha” continuou pregando ao povo alemão que estava assombrado e não podia acreditar que o assassino do Carvalho de Thor não tivesse sido ferido por seu deus.

São Bonifácio olhou mais à frente onde jazia o carvalho e assinalou um pequeno pinheiro e disse:

“Esta pequena árvore, este pequeno filho do bosque, será sua árvore santa esta noite.

“Esta é a madeira da paz…

“É o sinal de uma vida sem fim, porque suas folhas são sempre verdes. Olhem como as pontas estão dirigidas para o céu.

“Terá que chamá-lo a árvore do Menino Jesus; reúnam-se em torno dela, não no bosque selvagem, mas em seus lares; ali haverá refúgio e não haverá ações sangrentas, mas presentes amorosos e gestos de bondade”.

Desta forma, os alemães começaram uma nova tradição, a qual foi estendida até os nossos dias.

Ao trazer um pinheiro a seus lares, decorando-o com velas e ornamentos e ao celebrar o nascimento do Salvador, o Apóstolo da Alemanha e seu rebanho nos mostraram o que hoje conhecemos como a árvore de Natal.




Árvore de Natal: uma tradição requintada por Santos e reis católicos

O costume de ornar um pinheiro nas festas de Natal data dos tempos do Papa São Gregório Magno (540-604), que impulsionou a cristianização das tribos germânicas no início da época medieval.

Estas tribos tinham o costume esdrúxulo de adorarem árvores e lhes oferecerem sacrifícios.

Os missionários e monges aproveitaram então a forma triangular do pinheiro para explicar aos bárbaros o mistério da Santíssima Trindade.

Mas as coisas não eram fáceis.

A primeira árvore de Natal remonta ao longínquo ano 615. São Columbano, monge irlandês fora à França para abrir mosteiros.

Mas a indiferença dos habitantes era tal que ele estava quase desanimando.

Numa noite de Natal, teve ele a ideia de cortar um pinheiro, única árvore verde nessa época do ano e iluminá-lo com tochas.

Todo mundo ficou intrigado.

A aldeia correu em peso a ver a maravilha.

Então o santo monge pregou o nascimento do Menino Jesus!

Mas são muitas as cidades que disputam a autoria da encantadora árvore.

Segundo muitos, ela nasceu na Alsácia. Lá, na cidade amuralhada de Sélestat, o imperador Carlomagno passou a Santa Noite do ano 775.

Teria sido ele o inspirador da primeira árvore de Natal.

Posteriormente, os habitantes da cidade deram forma definitiva à arvore natalina católica.

Porém, o documento mais antigo que há em Sélestat é de 1521.

A cidade de Riga, na Letônia, diz ter sido a primeira em expor uma árvore de Natal no ano do Senhor de 1510.

É certo que no século XVI a árvore de Natal era montada no coro das igrejas da Alsácia representando a árvore do Paraíso.

Ela era ornamentada com maçãs para lembrar o fruto da tentação dos primeiros pais.

Mas tinha também representações de hóstias figurando os frutos da Redenção.

Elas também contavam com anjos, estrelas de papel e muitas outras decorações.

Escolhendo a árvore do Paraíso como símbolo das festividades do Natal, a Igreja Católica estabeleceu uma ponte entre o pecado de Adão e Eva numa extremidade, e a vinda de Jesus, o novo Adão que veio regenerar a humanidade nascendo do seio virginal da nova Eva, Nossa Senhora, na outra.

É fato assente que o costume generalizou-se na França quando a princesa Hélène de Mecklembourg o trouxe a Paris em 1837, após seu casamento com o duque d’Orléans.

Em 1841, o príncipe consorte Alberto, esposo da rainha Vitória da Inglaterra, ergueu uma árvore de Natal no castelo de Windsor.

A partir da corte inglesa, então a mais influente da terra, o católico costume propagou-se para todo o povo inglês, e de ali para o mundo inteiro.




O Pinheiro natalino, tradição católica medieval


No Natal, 88% dos alemães enfeitam suas casas com um pinheirinho.

Eles empregam mais de 1,5 bilhão de reais em mais de 28 milhões de árvores tiradas de 38 mil hectares plantados para este fim — informou a Deutsche Welle.

Muitas famílias derrubam a própria árvore. A variedade preferida é abeto do Cáucaso.

A tradição de enfeitar árvores no Natal provém da Idade Média.

A cidadezinha alsaciana de Sélestat é uma das que reivindicam a paternidade da tradição.

Segundo a tradição local, numa noite de Natal, o imperador Carlos Magno pernoitou na localidade e mandou ornar uma árvore para comemorar o nascimento do Menino-Deus.

A partir de então, Sélestat instala solenemente uma árvore natalina na sua igreja principal.




A origem das maravilhosas bolas de Natal

Aproxima-se o Natal e os olhares de voltam para as bolas natalinas sem que muitos saibam sua maravilhosa origem.

Nos primeiros séculos da árvore de Natal, colocavam-se frutas sobre tudo maçãs vermelhas e bem brilhantes que as crianças comiam na festa de Reis.

Porém em 1847, Hans Greiner, um mestre vidreiro de Lauscha, cidade alemã da Turíngia, quis agradar seus filhos e imitou com vidro as frutas e nozes que pendiam da árvore natalina.

Em 1858, uma grande seca deixou sem maçãs e frutas a região de Vosges e Mosela na França.

Foi então um artesão vidreiro de Meisenthal que fabricou suas maravilhosas bolas. Cfr.: Wikipedia.

As bolas natalinas de vidro alemãs e francesas começaram a conquistar as preferências.

Mas quando a rainha Victoria da Inglaterra manifestou seu entusiasmo pela árvore de Natal cheia de adornos cristalinos todo o mundo quis ter algo semelhante.

Os EUA consumiam fabulosas quantidades das bolas de Lauscha e novos fabricantes e novos materiais apareceram.

Após a II Guerra Mundial, o socialismo soviético, espécie de demônio da feiura anticristã estatizou as fábricas de Lauscha que acabaram fechando.

Com a queda do comunismo, reviveram as antigas tradições e a produção retomou na cidade.

No mundo todo em cada Natal produz-se mais de 100 milhões dessas bolas filhas do sorriso indizível da Civilização Cristã.


Clique aqui para ouvir Jesu Redemptor omnium (Natal/Ferdinando III, imperador do Sacro Império)








Significado do bói e do asno do Presépio de Natal

Afresco na catedral de Spoleto, Fra Filippo Lippi (1406 - 1469)
Afresco na catedral de Spoleto, Fra Filippo Lippi (1406 - 1469)
Uma das figuras que mais impressionam simpaticamente as almas que contemplam o Menino Jesus no presépio de Belém é a presença muito próxima de um asno e de um boi.

Os Evangelhos não fazem nenhuma referência a essa presença. Mas as razões de grande beleza moral trazem um ensino espiritual profundo.

Elas vêm do fundo do Antigo Testamento.

E nada mais e nada menos que de uma predição de Isaías (765 a.C. e 681 a.C. aprox.) o profeta que mais falou da futura vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo e o mais referido nos Evangelhos.

Ele diz no capítulo I:

3. O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento.

4. Ai da nação pecadora, do povo carregado de crimes, da raça de malfeitores, dos filhos desnaturados! Abandonaram o Senhor, desprezaram o Santo de Israel, e lhe voltaram as costas. (Isaías 1, 3)

O boi e o asno ajoelhados, presépio da escola de Fra Angelico, Metropolitam Museum of Art
O boi e o asno ajoelhados, presépio da escola de Fra Angelico, Metropolitam Museum of Art
Sim, o asno, ou mula, e o boi simbolizam a indiferença de Israel em relação a seu Messias.

Frieza que chegou ao ponto que o Menino Jesus teve que nascer numa gruta para animais porque ele não era verdadeiramente aguardado pelo seu povo amado!

São Justino mártir, um dos primeiros apologistas da Igreja, no século II (c. 100/114 – 162/168), mandou incluir o asno e o boi na representação do presépio.

Ele quis tornar visível que a profecia de Isaías tinha se realizado.

Na hora do magno acontecimento de Natal, Israel não reconheceu seu Salvador e nem estava preparado para faze-lo posta sua grande decadência moral, religiosa e também política e militar.

Por isso a representação da mula e do boi não está nos Evangelhos, mas sim no livro de Isaías.

A Tradição da Igreja desde São Justino no século II vem os representando no sentido.

Essa Tradição é inconteste, inclusive na nossa época em que predomina o vício de contestar e achincalhar tudo.

O então porta-voz da Conferência Episcopal Espanhola, Mons. Juan Antonio Martínez Camino, bispo auxiliar de Madrid e ex-secretário de dita Conferência Episcopal, respondeu aos jornalistas quando interrogado sobre a não inclusão nos Evangelhos da presença de animal algum no presépio.

Vitral na igreja de São Domingos em Londres
Vitral na igreja de São Domingos em Londres
Mons. Martínez Camino estudou muito o tema e explicou num pregão natalino para “belenistas” [montadores ou fabricantes de presépios] de Oviedo.

“Há dois mil anos que quem quer que seja lendo os Evangelhos percebe que ali não aparece a mula e o boi.

“O Papa [Bento XVI] explica que apareceram na arte, em virtude do capítulo primeiro de Isaías:

“O boi conhece o seu possuidor, e o asno, o estábulo do seu dono; mas Israel não conhece nada, e meu povo não tem entendimento”.

São Justino interpreta que Israel conheceu o Redentor embora com menos fé que esses animais no presépio.

Na pintura românica catalana do século XII eles são apresentados com os olhos grandes como pratos, olhando para o Menino Jesus, e também no presépio que criou São Francisco de Assis na Idade Média.

Os dois animais representam também a humanidade toda que diante da aparição humilde de Deus no estábulo, chega ao conhecimento enlevado e adorador de seu Salvador.

Na pobreza do nascimento divino, a humanidade fiel recebe a Luz de Cristo que a todos ensina a ver.

Por tudo isso, nenhuma representação do presépio pode prescindir do boi e do jumento.


Clique aqui para ouvir Die Geburt unsers Herren Jesu Christi (Natal/Heinrich Schutz):




Como nasceu o Panettone: sorriso da alma católica medieval

O Panettone, como tantos outros costumes católicos ligados ao Natal, teve sua origem em plena Idade Média, na Lombardia, Itália.

Tipicamente ele tem uma base cilíndrica com cerca de 30 cm de altura, a qual termina numa espécie de cúpula como que extravasando de sua forma original.

Composto de água, farinha, manteiga, ovos, frutas cristalizadas, cascas de laranja e cedro, além de uvas passa e muita imaginação, a tradição lhe atribui diversas origens.

Uma das versões mais respeitadas atribui a origem da receita aos tempos que governava Milão o turbulento duque Ludovico Maria Sforza, dito o Mouro (1452 – 1508).

O belicoso Ludovico, já renascentista em espírito, encomendou um suntuoso jantar de Natal que devia coroar sua glória como duque da poderosa cidade de Milão.

Para o evento convidou toda a nobreza das cidades vizinhas.

O cozinheiro fez tudo quanto de mais fabuloso lhe ocorreu.

E nada lhe faltou para isso.

Só falhou num pormenor: esqueceu o bolo da sobremesa no forno, e este acabou carbonizado.

O cozinheiro entrou em desespero, pois talvez sua cabeça estivesse em jogo com tão imprevisível patrão.

Essa foi a hora em que surgiu um pobre ajudante de cozinha, do qual só se conhece o nome de Toni.

Com o pouco que tinha sobrado na despesa, Toni propôs fazer um pão doce de acordo com uma receita que possuía.

Dito e feito, o pão foi servido na mesa dos magnatas, espionados pelo aterrorizado cozinheiro.

O entusiasmo dos potentados não teve igual.

O cozinheiro foi chamado no ato para explicar a iguaria.

Sem saber o que dizer ele balbuciou:

– “É o pão de Toni...”.

E assim nasceu o termo “panetone” (o pão de Toni). Sua receita já tem mais de 500 anos e é apreciada no mundo inteiro.

Um costume medieval existente já no século IX animava as festas natalinas no território milanês.

Todas as famílias se reuniam em volta da lareira, aguardando que o pater familias – o fundador ou herdeiro do fundador da família – dividisse “un pane grande” e oferecesse um pedaço a todos os presentes em sinal de união familiar.

Esse pão tinha também sua história impregnada de caridade católica.

Na época, o pão de farinha branca era raro e caro, quase exclusivo dos nobres.

Porém, no Natal, aristocratas e plebeus ganhavam de graça o mesmo pão de farinha branca, enriquecido com frutas e outros elementos, oferecido graciosamente pelos padeiros da região.

Era o “pão de Toni”!




A multiforme inspiração do Espírito Santo nos panettones de Natal

Christmas pudding inglês
Christmas pudding inglês
No Natal, os britânicos preparam o tradicional “pudding”, oriundo da Idade Média e que segundo instrução da Igreja Católica, “deve ser feito no domingo 25, após a Trindade.

“Ele é preparado com 13 ingredientes para representar Cristo e os 12 Apóstolos, e em cuja massa todos os membros da família devem dar uma mexida durante a preparação, um de cada vez, de leste a oeste, a fim de homenagear os Reis Magos e sua suposta jornada nessa direção”.
Por sua vez, os belgas degustam os chamados “cougnoles” ou “cougnous”, pães do tipo brioche cujo tamanho varia entre 15 e 80 cm, com a forma de um presépio que acolhe uma imagenzinha do Menino Jesus.

Christstollen alemão.
Christstollen alemão.
Os alemães preparam o “Christstollen”, bolo muito denso perfumado com especiarias e recheado com frutos cristalizados e passas, cozinhado numa forma especial.

Os espanhóis no Natal preferem o “turrón”, uma massa feita com amêndoas e mel. Ele tem muitas variantes: com chocolate, nozes, frutas secas, etc.

Os franceses comemoram com a “bûche”, literalmente pedaço de lenha, que suscita todo ano um verdadeiro concurso para ver quem é o “pâtissier” que concebe a variante mais criativa.

Bûche de Noël francesa.
Bûche de Noël francesa.
Porém, nesse ponto os italianos acabaram passando na frente de todos os outros com o universalmente conhecido e cobiçado “panettone”.

De onde vem ele?

Discute-se fortemente na Itália sobre a sua origem. Todos concordam que nasceu na região de Milão.

Segundo uma versão, o panettone nasceu pelo fim do século XV num banquete oferecido pelo tempestuoso duque Ludovico Sforza, dito “o Mouro”.

O ajudante de cozinha de nome Toni, encarregado de vigiar o forno durante a preparação da sobremesa, teria dormido. E quando acordou ela estava queimada!

Para se salvar da ira do colérico duque, ele então apanhou tudo o que estava sobrando na cozinha e misturou, para produzir um pão “enriquecido” que fez as delícias de todos.

Essa obra-prima passou para a posteridade como o “pão de Toni”, que acabou dando em “panettone”.

O Panettone famoso vem da região de Milão. Quem o inventou?
O Panettone famoso vem da região de Milão. Quem o inventou?
Mas há outra versão: um certo Ughetto degli Atellani, jovem nobre que queria casar com Algisa, filha do padeiro Toni, teria conseguido ser contratado pela padaria, onde concebeu o famoso pão de Natal para conquistar a moça.

Outra versão ainda é aquela segundo a qual Sóror Ughetta – cujo nome significa passa – teria comprado com suas últimas moedas algumas passas e frutas cristalizadas para acrescentar a seu pão de Natal, a fim de levar um sorriso às irmãs de seu convento.

O fato histórico incontestável é que, entre outras coisas, na Idade Média nasceu o costume de comemorar o Natal com um pão que fosse melhor que o quotidiano.

Até 1395, os fornos de Milão só podiam cozer esse pão no período natalino. Com frequência o “panettone” era marcado com uma cruz.

Mas tem o “panettone” glacé e com amêndoas de Turim.

E também o “pandoro”, de Verona, que é muito alto, pesa perto de um 1 kg, com sabor de baunilha, uma miga muito leve e que é servido num pacote feito com açúcar cristalizado que se come também.

Em Veneza, o “panettone” vem acompanhado de um creme de frutas cristalizadas.

E, além do mais, há o “pandolce” de Genova, um pouco mais compacto; o “panforte” de Siena, feito com especiarias e sem farinha, com a massa consolidada com mel, pimenta e canela.

O pandoro de Verona
O pandoro de Verona
O sul da Itália aplicou sua inspiração ao panettone, que vinha do Norte, e acrescentou delícias inéditas nas regiões frias: laranja, limão, pistache, bergamota e o licor limoncello.

O de Nápoles é feito com laranjas cristalizadas de Amalfi e limoncello.

Em Siracusa, ele vem com chocolate, pistaches, laranjas cristalizadas da Sicília e passas de Pantelleria. Todos eles em geral têm preços acessíveis.

Foi só no mundo católico que a ação multiforme da graça do Espírito Santo inspirou uma tão larga variedade de pães simples, mas deliciosos, próprios a elevar os espíritos e fortalecer o corpo nos gaudiosos dias do nascimento do Redentor.

Procure-se entre os amargados protestantes ou nos decaídos países pagãos e veja se eles criaram uma variedade análoga de uma gostosura pura e inocente, tão de acordo com o espírito sobrenatural do Natal católico.




La “bûche de Noël” na França

Durante séculos, na noite de Natal as famílias francesas acendiam um pedaço de lenha de árvores frutíferas como cerejeira, ameixeira, macieira ou oliveira, ou de madeiras nobres ou comuns. Ficou conhecida como a “bûche de Noël”.

A família aquecida por esse fogo se reunia para a Ceia de Natal entoando canções, conta “Le Petit Journal”.

Os restos das achas de lenha dos anos passados ficavam ornando a lareira para simbolizar que enquanto o tempo passa, a chama do Natal e sua bênção perduram eternamente.

Segundo as regiões a “bûche de Noël” era aspergida com sal (em Poitou-Charentes), vinho (Provence), água benta, azeite, leite ou ainda mel enquanto a família fazia as orações.

A “bûche de Noël” era tida em conta de benta, sobre tudo se o pároco a tinha abençoado. Ela protegia a casa e seus habitantes.

Pela mesma razão, suas cinzas eram dispersas nos estábulos, nos vinhedos, nas hortas ou nos campos para protegê-los das doenças e atrair abundantes colheitas.

Também lhes eram atribuídas o poder de afastar as raposas do galinheiro e as bruxas e fantasmas das moradias, dar mais força às sementes, proteger do raio e consolar os moribundos na agonia.

Se as cinzas fossem jogadas nos poços ou córregos afastavam as serpentes e as más línguas ! Simbolicamente também eram postas no esquife do defunto.

Na região da Borgonha, na véspera do Natal, as crianças nas aldeias e cidadezinhas iam cantando de casa em casa, batiam a porta, entravam e recebiam doces, frutos secos, bombons, flores secas e outras deliciosas iguarias.

Os presentes não estavam ligados ao papai Noel que elas desconheciam, mas à famosa acha de lenha que elas encontravam coberta de ingênuas delícias.

A acha na Borgonha devia arder toda a noite do Natal, a fim de que se a Virgem e a Sagrada Família fossem bater à porta na noite pedindo alojamento, eles pudessem entrar e se aquecer, sendo bem acolhidos.

Com o tempo, as velhas lareiras foram se apagando. Entraram novos sistemas de aquecimento. Mas eis que a “bûche de Noël” continuou a fazer bem!

E ela se transformou numa obra prima da pâtisserie francesa, a sobremesa indispensável nos lares da França nos dias abençoados do Natal.

É difícil saber quem fez esse prodígio, embora quiçá foram muitos e em muitas partes guiados pelo instinto católico, a tradição e o bom gosto.

Fala-se porém de um aprendiz de pastelaria de Paris que trabalhava numa chocolateria do aristocrático bairro de Saint Germain des Prés que teria tido a ideia.

Os palacetes do bairro eram habitados por nobres muito ligados a seus castelos muitas vezes erigidos em bosques e em continuo contato com a agricultura e as tradições locais.

E esses nobres não encontravam na refinada Paris suas rústicas mais abençoadas “bûches de Noël”.

Então o aprendiz concebeu um doce com forma de acha para aplacar a saudade inspirada pela fé.

Segundo outros, o famoso bolo foi inventado em Lyon por volta de 1860. E ainda outros defendem que Pierre Lacam, pasteleiro e sorveteiro do príncipe Carlos III de Mônaco, teria concebido a primeira requintada “bûche” em 1898.

Quem quer que seja o inventor, em forma de sorvete ou bolo, a “bûche de Noël” aparece nas pâtisseries da França nas proximidades do Natal avidamente procurada pelos espíritos amantes da família, da tradição e da Cristandade.

Na Córsega ela é forçosamente feita na base de castanhas.

Mas, as fórmulas e apresentações são infinitas. Dependem da preferência das famílias, dos padeiros, dos patisseiros de cada região, cidade, rua ou loja.




Família produz o “Torrão de Alicante” favorito de xeques e casas reais há três séculos

O “Torrão de Alicante”com trufas brancas e pão de ouro mais caro do mundo
O “Torrão de Alicante”com trufas brancas e pão de ouro mais caro do mundo
O “Torrão de Alicante” (Nugeat em francês; torrone em italiano; nogado ou mandolate no Brasil) é uma das delícias natalinas – e não-natalinas – feito de mel, clara de ovos, nozes, pistache, avelãs, nozes de macadâmia, etc., no sul da Espanha, com “denominação de origem” controlada.

Há inúmeras variedades segundo a arte ou inspiração do fabricante, sendo os caseiros os melhores de todos.

Mas há um que é o favorito das famílias reais e até dos xeques árabes. Também é o mais caro da terra, narrou "El Mundo".

Ele é feito artesanalmente pela família Sirvent que há dez gerações se mantém fiel ao golpe de gênio do avô Juan Antônio quando numa loja de gravatas na Champs-Élysées lhe ofereceram a gravata “mais cara do mundo”.

O “Torrão de Alicante” numa outra receita
O “Torrão de Alicante” numa outra receita
A reportagem do “El Mundo” prossegue contando que Juan Antônio Sirvent, a quem ofereceram em Paris a gravata “mais cara do mundo” voltou a sua cidade Jijona, em Alicante, decidido a fazer o melhor nougat. Ele ficou conhecido como 1880, e começou apostando na qualidade malgrado a guerra e a crise econômica que grassavam na época.

“Meu avô era gourmet e gostava de se vestir bem. Pagou uma fortuna pela gravata, ‘a mais cara do mundo’, e aí reforçou a ideia de fazer o melhor. Esse foi o segredo de seu sucesso” que perdura até hoje.

Assim recorda José Manuel Sirvent, seu neto da nona geração da família produtora do “Torrão de Alicante”, o mais famoso do mundo.

Há no fundo de cada alma, em todas as classes sociais, potencialidades inimagináveis, que conduzidas com retidão produzem frutos de toda espécie.

É o caso da família Sirvent que até hoje produz o melhor nougat do mundo.

A família trabalhando há muito
A família trabalhando há muito
Nessa perspectiva o desenvolvimento das possibilidades de produção nas diversas partes do mundo por todas as famílias retas em todas as especialidades criaria uma economia que nenhuma indústria nem nenhum capital poderia igualar em variedade e riqueza.

Se isso fosse feito apareceria uma ordem de riquezas no mundo como se este fosse um empório colossal, com enormes possibilidades de desenvolvimento.

O caso do “Torrão de Alicante” põe a nu um conceito vivo e orgânico das riquezas e dos movimentos econômicos e sociais, que geraria uma verdadeira maravilha.

Além do 1880, o patriarca inventou o boixet – uma máquina para fazer o nogado de Jijona e as tabletes de El Lobo.

Em 2021 os descendentes de Juan Antônio lançaram uns torrones, malgrado a pandemia e a crise econômica, feitos com matérias primas requintadas como a trufa branca de Alba (Itália), o café de Kopi Luwak e o açafrão da Mancha.

Cada um destes nogados, só feitos por encomenda, custa 250 euros e os Sirvent não especificam quantos venderam, mas superaram as expectativas.

“O preferido é o nougat Jijona (o mole) com o café Kopi Luwak, o mais caro do mundo (900 euros o quilo).

Atual sede onde se faz o melhor “Torrão de Alicante”
Atual sede onde se faz o melhor “Torrão de Alicante”
O mais procurado pelos ricos do mercado árabe, é o de Alicante (o duro) com trufa branca, talvez por ter folha de ouro, um ímã para os xeques.

Os três mais sofisticado estão na mesma loja 1880 aberta em 2021 na rua Mayor no centro de Madrid.

Também fabricam outros mais tradicionais e acessíveis. Os turistas adoram e levam como lembrança.

“É um produto gourmet de Espanha, com grande reputação”, justifica Sirvent.

A família começou a fazer nogado em 1725. Quase 300 anos depois, ainda está em mãos dela em virtude de um respeitado sistema de morgadio que evitou brigas familiares.

José Manuel estudou nos EUA e na Suíça, e seu pai fez sociologia em Oxford. Empresários de Jijona no século XIX construíram fábricas em Cuba, Argentina ou Venezuela.

Mas ele nasceu na fábrica de sua família, como seu avô e seu pai, e aos 24 anos assumiu as rédeas da empresa.

“A casa dos meus pais era na fábrica, você não tinha acesso pela rua e entrava pela loja ou pelo escritório”, conta.

O “Torrão” feito em Montelimar, França
O “Torrão” feito em Montelimar, França
A sala de jantar de sua casa era um showroom onde os clientes eram recebidos.

A estimativa para 2021 é de um faturamento de 22 milhões de euros e a fabricação de 2,5 milhões de quilos de torrão e mais meio milhão de rebuçados de Natal.

65% das vendas acontecem no Natal, percentagem que aos poucos vai diminuindo com o aumento das exportações.

Os EUA e a América Latina são os seus principais mercados, seguidos da Europa e dos países árabes, onde têm várias famílias reais entre os seus clientes.

Sirvent não dá nomes, mas garante que muitas celebridades e membros da realeza europeia, e não apenas árabes, estão na lista de clientes.

“Nosso torrão foi servido de sobremesa no casamento real de uma espanhola e um príncipe europeu”, acrescenta, deixando o leitor adivinhar.




O “Bolo dos Reis”

No início do mês de janeiro, as vitrines das pâtisseries de Paris se enchem de “galette des rois” ou “gateau des rois”, conta “Le Petit Journal”.

O nome, como o de tantos produtos culinários franceses não tem tradução, mas alguns tentaram “bolo dos reis”.

Ele é vendido já com uma coroa especial. Em 2014 entre 85% e 97% dos franceses diziam come-la na festa da Epifania, ou Reis.

O Bolo dos Reis com a fava
As receitas, acompanhamentos e formas são incontáveis, em geral redondas.

Quando contêm o prezado marzipã e chamado de “parisiense”. Com frutas abrilhantadas é o “bordelês”.

Existem outras receitas em Nova Orleans (EUA), Bélgica, o “bolo rei” em Portugal, a “rosca” no México, a “vassilopita” na Grécia e a “pitka” na Bulgária, para só citar algumas.

O mais típico é que a criança mais nova sentada na mesa se encarregue de cortar a “galette des rois” e distribua um pedaço a cada um.

O bolo dos reis em família: quem ganha a 'fava'?

Porque dentro do bolo, em alguma parte há uma fava também chamado “rei” e que faz a alegria da mesa.

A fava respeita a forma da humilde semente original, mas depois passou a ser substituída por pequenos objetos simbólicos imaginosos como lâmpadas douradas, ou outros.

O fato é que quem recebe o pedaço com a “fava” é chamado de “rei”, recebe a coroa que veio com o bolo e deve beber numa taça especial enquanto os demais cantam “o rei bebe, o rei bebe”, em meio ao gáudio geral.

O costume tradicional: reservar uma parte para o primeiro pobre que bater na porta
O costume tradicional católico: reservar uma parte
para o primeiro pobre que bater na porta
Nos bons tempos, aliás, partia-se a “galette” no número dos presentes mais um.

Esse pedaço extra era chamado “a parte do Bom Deus”, ou “parte da Virgem”, ou “parte do pobre”, e era destinado ao primeiro pobre que fosse bater a porta do lar.

O costume comemora a festa da Adoração do Menino Jesus pelos três Reis Magos, ou Epifania, 6 de janeiro.

A Epifania comemora precisamente a chegada dos Reis Magos Melchor, Gaspar e Balthazar, conduzidos pela miraculosa estrela.

Na Espanha, para as crianças, os Reis Magos são muito mais importantes que Papai Noel.

São eles que trazem os presentes na noite de 5 para 6 do janeiro.

Os Reis deixam os presentes sobre os sapatinhos que elas puseram na sacada, ou na lareira.

É normal que o fato seja comemorado com um bolo. É o denominado Roscón de Reyes com forma de coroa, e introduz uma variedade grande em relação à galette des rois francesa.


Clique aqui para Laudate Dominum (Natal, França):




Origens e significados da Missa do Galo

Missa do Galo é aquela que se celebra na Véspera de Natal
Missa do Galo é aquela que se celebra na Véspera de Natal
A Missa do Galo é aquela que se celebra na Véspera de Natal, começando à meia noite de 24 para 25 de dezembro.

O nome “Missa do Galo” deriva da tradição segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo cantou como nunca se tinha ouvido de um animal semelhante, anunciando a vinda do Messias, filho de Deus vivo, Jesus Cristo.

Um costume da província de Toledo, na Espanha, consistia em que, antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de dezembro, cada lavrador matava um galo em memória daquele que cantou três vezes quando Pedro negou Jesus.

A ave era depois levada para a Igreja a fim de ser oferecida aos pobres, que viam assim o seu Natal melhorado.

Era costume, em algumas aldeias espanholas e portuguesas, levar o galo para a igreja, a fim de que este cantasse durante a missa, significando um prenúncio de boas colheitas.

A Missa do Galo foi instituída no século V, após o Concílio de Éfeso (431 d.C.), começando a ser celebrada na basílica do monte Esquilino, erigida pelo o papa Sisto III em honra de Nossa Senhora.

Trata-se da famosíssima Basílica de Santa Maria Maggiore. O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque representa vigilância, fidelidade e testemunho cristão.

Nos primeiros séculos, as vigílias festivas eram dias de jejum. Os fiéis reuniam-se na igreja e passavam a noite rezando e cantando. A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas.

Para iluminar a Missa havia círios e tochas junto ao altar, enquanto as paredes eram revestidas de panos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios, era costume deitar palha no chão para aquecer o ambiente.

Dada a sua importância, pois anuncia o nascimento do Deus vivo – eis que o verbo se fez carne (Jo, 1:14) –, o próprio Papa, bispo de Roma, deve conduzir a celebração pessoalmente, pois ele é sucessor de Pedro, o apóstolo que Jesus mesmo designou como primeiro monarca da Igreja (Mt 16:18).

Incensação do Menino Jesus
Incensação do Menino Jesus.

Ao entrar na Igreja, a grande curiosidade era o presépio. A vigília de Natal começava com uma oração, com a leitura das Sagradas Escrituras, pregação e com um canto. Antes de o sol nascer, rezava-se a Missa do Galo ou da aurora.

Após seguia-se a representação de um auto de Natal, dentro da igreja. Na metade da manhã do dia 25, celebrava-se a missa da festa.

A missa de Natal começava com um cântico natalício. No momento do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o nascimento do Redentor.

No fim da missa, todos iam oscular o Menino. Em algumas igrejas, o presépio estava velado até à altura do cântico.

Hoje, tradicionalmente, depois da missa, as famílias voltam para suas casas, colocam a imagem do Menino Jesus no Presépio, realizam cânticos e orações em memória do Messias, Filho de Deus, confraternizam-se e compartilham a Ceia de Natal, com eventual distribuição de presentes.







Mais sobre a 'Missa do Galo'

Galo no topo da catedral São Vito, Praga
Galo no topo da catedral São Vito, Praga
“Missa do Galo” é o nome da celebração litúrgica da meia-noite, na véspera do Natal.

A expressão vem da tradição segundo a qual à meia-noite do dia 24 de dezembro um galo cantou mais fortemente que qualquer outro, anunciando o nascimento do Menino Jesus.

Assim como o galo anuncia o nascer do sol e seu canto preludia o amanhecer, assim também a “Missa do Galo” comemora e canta o nascimento de Jesus, o Sol nascente que, clareando a escuridão do pecado, veio nos remir.

O galo foi escolhido como símbolo desta celebração porque ele representa, histórica e tradicionalmente, a vigilância, a fidelidade e a fé proclamada no auge das trevas.

Por isso podemos ver, no topo do campanário das igrejas, um galo proclamando para todos os quadrantes que Jesus nasceu.

A celebração é feita à meia-noite porque o nascimento ocorreu por volta dessa hora. A “Missa do Galo” foi celebrada pela primeira vez no século V pelo Papa Sisto III.

A Missa foi na então nova basílica de Santa Maria Maior, onde são hoje veneradas as relíquias do Santo Presépio, conservadas em artístico relicário.

Nos primórdios da Igreja, os cristãos se encontravam para rezar na cidade de Belém à hora do primeiro canto do galo.

Com a expansão da Igreja o costume ficou impraticável.

Então, na vigília do Natal os fiéis se reuniam na igreja mais próxima e passavam a noite rezando e cantando.

Em algumas aldeias espanholas era costume os camponeses levarem um galo à igreja para que ele cantasse na missa.

A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. As paredes eram revestidas com panos e tapetes. O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta.

Desde o início desta devoção a véspera de Natal é suave e nobremente jubilosa. Por isso é chamada de Noite Santa. Seus cânticos são festivos, como o tradicional Glória litúrgico.

Adoração do Menino Jesus no fim da Missa do Galo, igreja do Oratório, Londres
Adoração do Menino Jesus no fim da Missa do Galo, igreja do Oratório, Londres
Segundo uma tradição católica muito generalizada, os fiéis iam acendendo uma vela a mais em cada semana do Advento, ou período de quatro domingos antes do Natal.

Elas já estavam todas acesas na “Missa do Galo”, solenemente celebrada e na qual a comunhão era oferecida pelo nascimento do Messias.

Em Roma, o Papa deve conduzir pessoalmente a celebração, pois ele é sucessor de Pedro, o Apóstolo designado pelo próprio Jesus para primeiro monarca da Igreja (Mt 16,18).

O Natal é uma das raríssimas datas litúrgicas que contemplam três Missas diferentes: a da noite, a da aurora e a do dia.

Segundo São Gregório Magno, a Missa da noite, ou “do Galoin galli cantu (à hora em que o galo canta) comemora a vinda de Jesus à Terra; a Missa da aurora, celebrada logo depois, comemora o nascimento de Jesus no coração dos fiéis; a Missa do dia, ou Missa de Natal propriamente dita, evoca o nascimento do Verbo de Deus.

A Missa começava com um cântico natalício. No momento do “Gloria in excelsis Deo”, as campainhas tocavam para assinalar o nascimento do Redentor.

No fim da celebração, todos iam oscular o Menino. Em algumas Igrejas, o presépio permanecia coberto até o momento do cântico.

De início jejuava-se durante a vigília, como forma de desprendimento e convite à contemplação do grande mistério que vai se celebrar.

Comia-se apenas peixe — e em Portugal bacalhau, costume que ainda perdura em muitos lares brasileiros.

Depois que se aboliu o jejum, o povo continuou a chamar a ceia de Natal de “consoada”, embora esta tenha passado a ser mais abundante.

“Consoada” significa pequena refeição e surgiu no século XVII. Era feita após a “Missa do Galo”.

Os fiéis chegando para a 'Missa do Galo' (Clarence Gagnon,1933)
Os fiéis chegando para a 'Missa do Galo' (Clarence Gagnon,1933)
Até a revolução “pós-conciliar”, após a “Missa do Galo” as famílias voltavam para suas casas, colocavam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantavam e rezavam em seu louvor, faziam a Ceia de Natal e trocavam presentes.

O nome “Missa do Galo” usa-se apenas em português e espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal ou Missa da meia-noite.

Na Espanha havia uma tradição peculiar: “Antes de baterem as 12 badaladas da meia-noite de 24 de dezembro, cada lavrador da província de Toledo matava um galo, em memória daquele que cantou três vezes, quando Pedro negou Jesus, por ocasião da sua morte”.

Em seguida, a “ave era levada para a igreja e oferecida aos pobres”, informa a agência católica Ecclesia.

Apesar do laicismo moderno e da escalada do ateísmo materialista, nessa abençoada noite as catedrais de Paris, Londres, Barcelona e muitas outras se enchem, para acompanhar os coros que cantam as santas alegrias do Natal iminente... até o galo cantar anunciando a Boa Nova!


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O mundo maravilhoso das feiras de Natal, apetência do Céu

Bremen
Longe da banalidade comercial de hoje, o sorriso sobrenatural do Natal de Nosso Senhor Jesus Cristo enchia de alegria suave e de aconchego as praças de cidades e aldeias, de palácios e choupanas da Idade Média.

A tradição, embora deformada, pervive até hoje.

Trata-se das feiras de Natal que ainda dominam em cidades alemãs, austríacas, alsacianas, etc., na Europa.

Elas constituem um eco saudoso, requintado em épocas posteriores, do Natal medieval.

Cheiro de ervas, amêndoas torradas, vinho, cravo, canela, incenso e resina de pinheiro.

Enfeites natalinos que falam não ao corpo mas à alma nos fazem reviver as profundas alegrias da infância.

Feira de Natal, Frankfurt
Alegrias que a festa do nascimento do Menino Jesus reaviva em toda alma reta.

Luz de vela, utensílios de madeira: tudo relembra o aspecto material rude da Gruta de Belém.

Ao mesmo tempo, parece ecoar a insondável luz sobrenatural da graça, do cântico dos anjos, da alegria ingênua e enlevada dos pastores, do maravilhamento entusiasmado dos Reis do Oriente diante do Menino Deus.

As feiras de Natal da Alemanha começam no Advento, período litúrgico tradicional das quatro semanas antes do Natal.

Dresden erige uma “pirâmide” de Natal de 14 metros de altura que não é outra coisa senão um bolo de frutas típico (Christstollen), pesando quatro toneladas.

Nuremberg

A mais antiga feira, porém, é a de Nuremberg.

A de Colônia, muito famosa, na realidade é só de 1820.

Mas como que querendo estabelecer uma ligação com o imponderável da Idade Média a cidade tem seis feiras natalinas, uma delas ao lado de sua catedral gótica, a maior da Alemanha.

Em Augsburgo, a especialidade é o pão de mel.

Lá, o imenso pinheiro de Natal fica pequenino ao lado das torres da igreja, que medem 150 metros.

Em dezembro, cerca de dois milhões de pessoas passam pela feira natalina a respirar uma pontinha do charme medieval que nelas paira impalpavelmente.

Passau
Quanto mais autênticas, mais querem se parecer com os mercados medievais.

Pode se encontrar um porco sendo assado em um espeto de madeira, pessoas com roupas longas, sapatos de couro de ovelha e chapéus de uma outra era.

E se alguém perguntar, a resposta é uma só: o Sr., a Sra. está em um mercado de Natal medieval!

Iluminados por fogueiras acessas no chão ao invés da chata moderna lâmpada, o cheiro de madeira queimada domina o local.

Mergulhadas num ambiente que fala de fé e lógica, as pessoas compram artigos forjados no fogo, como facas e utensílios de cozinha.

Em Siegburg, um grupo de saltimbancos-trovadores anuncia o fim da feira todos os dias, com um show de fogo e instrumentos medievais.




Primeiro Papai Noel em São Luís do Maranhão quase foi morto com trabucos

Natal: Papai Noel hoje foi muito banalizado
Em 1863, o caricaturista laicista Thomas Nast, do tablóide Harper’s Weekly de Nova Iorque inventou o Papai Noel para tirar São Nicolau, bispo católico, das festas de Natal. Hoje é um figurino banalizado.

Mas, como foi recebido no Brasil? De início ele foi achado muito estranho.

Em São Luís do Maranhão, por volta de 1890, no fim da ceia de Natal numa distinta família, um homem gordo, de barbas brancas, roupa e gorro vermelho com um grande saco às costas irrompeu sem aviso pela janela.

Os homens não duvidaram: puxaram os trabucos e renderam o invasor num canto.

A professora Maria Barbara de Andrade, filha do poeta Joaquim de Sousa Andrade se interpôs dizendo: “Não o matem! É o Papai Noel! Eu o contratei!”.

Os homens abaixaram as armas, abraçaram o Papai Noel e lhe serviram vinho.

Por certo, o Papai Noel não causou boa impressão, mas a pressão da moda e a descatolização crescente da sociedade acabou aceitando-o em todo o País empurrando para fora a tradicional figura de São Nicolau.




Quem foi São Nicolau, o bispo dos presentes maravilhosos?

São Nicolau sagrado bispo
Em 1993, uma equipe de arqueólogos descobriu na ilha de Gemile, Turquia, um centro de peregrinações composto de quatro igrejas, um caminho processional e uma quarentena de prédios em torno do primeiro túmulo de São Nicolau (+ 326).

O conjunto foi arrasado pelo furor maometano, mas as relíquias do santo foram salvas e levadas a Myra, e hoje se veneram em Bari (Itália).

A história do santo bispo, que numa noite de Natal lançou pela janela os dotes a três moças pobres, possibilitando assim seu casamento, está na origem da tradição dos presentes natalinos.

A deturpação hodierna de São Nicolau deu no Papai Noel mas não desqualifica em nada essa bela tradição.

Enquanto o Natal se aproxima é proveitoso conhecermos mais da vida desse santo que marcou tão a fundo os costumes cristãos.

O Bem-aventurado Jacques de Voragine, arcebispo de Genova, escreveu uma história do Santo cheia de unção poética. A festa é o 6 de dezembro.

O NOME Nicolau vem de nichos, que significa “vitória”, e leos, que quer dizer “povo”; por isso, Nicholaus é como que “vitória do povo”, isto é, sobre os vícios que são mais vulgares e mais vis; ou quer dizer vitória do povo porque, com a sua vida e a sua doutrina, ensinou muitos povos a vencer os vícios e os pecados.

Ou Nuholaus vem de nichos, que é “vitória”, e laus, “louvor vitorioso”. Ou ainda, de nitor (brancura) e leos (povo), como se significasse “brancura do povo”, pois teve em si tudo o que faz a brancura e a limpeza. De facto, segundo Santo Ambrósio, a palavra divina limpa, a verdadeira confissão limpa, a santa meditação limpa e a boa obra limpa.

A sua história foi escrita pelos doutores Argólicos; segundo Santo Isidoro, Argos é uma cidade da Grécia e, por isso, os Argólicos também se chamam gregos. Lê-se noutro lugar que o patriarca Metódio a escreveu em grego e só depois, João, o Diácono, a traduziu para latim, fazendo-lhe muitos acréscimos.


São Nicolau nasceu na cidade de Patras, de pais santos e ricos. O pai, Epifânio, e a mãe, Joana, geraram-no na primeira flor da juventude e viveram a partir de então em continência, levando uma vida de celibatários.

DIZ-SE QUE no primeiro dia em que o lavavam se pôs de pé na bacia; além disso, às quartas e sex¬tas-feiras só mamava uma vez.

Chegando à juventude, evitava as lascívias dos outros jovens, preferindo entrar nas igrejas e decorar o que lá podia ouvir acerca da Sagrada Escritura.

Quando seus pais morreram, começou a pensar em como haveria de gastar as suas enormes riquezas, não para os louvores dos homens, mas para a glória de Deus.

Então, certo nobre seu vizinho pensou prostituir as suas três filhas virgens por falta de recursos, para, com o infame comércio delas, se poder sustentar.

Quando o santo homem soube, ficou horrorizado com o crime e atirou uma quantidade de ouro envolvida num pano através de uma das janelas da casa onde ele morava e regressou à sua às escondidas.

São Nicolau salva as moças numa noite de Natal, Lübeck, Annenmuseum
Quando chegou a manhã, o homem encontrou aquela quantidade de ouro e, dando graças a Deus, celebrou o casamento da filha mais velha. Não muito tempo depois, o servo de Deus voltou a realizar obra semelhante.

Voltando a encontrar o ouro e dando muitas graças, aquele homem decidiu vigiar para saber quem socorria a sua miséria.

Passados alguns dias, Nicolau atirou o dobro do ouro para a casa do vizinho, que acordou com o barulho e seguiu São Nicolau que fugia, dizendo-lhe em alta voz:

‒ Para, por favor, e não escondas o teu rosto do meu!

E, correndo mais depressa que Nicolau, reconheceu-o. Logo se prostrou e queria beijar-lhe os pés, mas ele, evitando-o, exigiu que nunca tornasse público aquele fato.

DEPOIS DISTO, tendo morrido o bispo da cidade de Mira, combinaram os bispos nomeá-lo para aquela igreja. Havia entre eles um de grande autoridade de quem todos dependiam para aquela eleição.

Depois de ter aconselhado todos a fazerem jejum e orarem, ouviu naquela noite uma voz a dizer-lhe que de manhã cedo observasse as portas da igreja e quando visse chegar o primeiro homem cujo nome fosse Nicolau, olhasse bem para ele, para consagrá-lo bispo.

Revelou isto aos outros, aconselhando-os a insistirem na oração enquanto ia observar as portas da igreja.

Admirou-se muito ao ver que, àquela hora matinal, o homem enviado por Deus antes de todos os outros era Nicolau; chamando-o a si, o bispo disse-lhe:

‒ Como te chamas?

Ele, com uma simplicidade de pomba, respondeu de cabeça inclinada:

‒ Nicolau, servo de vossa santidade.

Levaram-no para a igreja e, embora ele a isso muito se opusesse, colocaram-no na cátedra episcopal.

MAS ELE em tudo continuava a observar a humildade e a seriedade da sua conduta anterior: passava as noites em oração, mortificava o corpo, fugia do convívio com mulheres.

Era humilde com quantos recebia, eficaz no falar, entusiasta no exortar e severo no corrigir. Também se lê numa crônica que São Nicolau participou no Concílio de Nicéia.




São Nicolau padroeiro dos navegantes, inimigo do diabo e da idolatria

São Nicolau salva os marinheiros, Museu de San Marco, Florenca
CERTO DIA, alguns marinheiros que estavam em perigo, dirigiram-lhe por entre lágrimas esta oração:

‒ Nicolau, servo de Deus, se é verdade o que ouvimos a teu respeito, faz que agora o experimentemos.

Imediatamente lhes apareceu alguém parecido com ele, que lhes disse:

‒ Eis-me aqui, pois me chamastes!

E começou a ajudá-los nos mastros, nos cabos e nos outros aparelhos da nau, e logo a tempestade cessou. Depois, quando foram à sua igreja, reconheceram-no, embora nunca o tivessem visto nem alguém lho indicasse.

Então deram graças a Deus e a ele pela sua salvação; o Santo, porém, ensinou-os a atribuir o milagre à misericórdia divina e à fé que haviam demonstrado, mas não aos seus méritos.

HOUVE TEMPO em que toda a região de São Nicolau foi assolada por uma fome tão grande que todos ficaram sem alimentos. Quando o homem de Deus ouviu que estavam no porto uns barcos carregados de trigo, foi logo lá e pediu aos marinheiros que lhe dessem, ao menos, cem moios [antiga unidade de medida] por cada nave, para matar a fome aos que estavam em perigo.

Eles responderam-lhe:

São Nicolau, inimigo das falsas religiões, Lübeck, Annenmuseum.
‒ Pai, a isso não nos atrevemos, porque temos de entregar nos armazéns do Imperador o que foi medido em Alexandria.

‒ Agora, fareis o que vos digo ‒ disse-lhes o Santo ‒, pois, em nome de Deus, vos prometo que não tereis nenhuma diminuição quando chegardes junto do recebedor.

Tendo feito como ele dizia e entregado aos servos do Imperador a mesma medida que tinham recebido em Alexandria, contaram o milagre e, com grande louvor, atribuíram-no a Deus por intermédio do seu servo.

O homem de Deus distribuiu o trigo segundo a indigência de cada um, de modo que miraculosamente, durante dois anos, não só bastou para viverem, mas foi suficiente para as sementeiras.

NAQUELA REGIÃO prestava-se culto aos ídolos e o povo honrava sobretudo a nefanda Diana, a ponto de, até ao tempo do homem de Deus, terem sido muitos os camponeses que serviram essa execrável religião, fazendo determinados ritos dos gentios debaixo de certa árvore consagrada à deusa.

O homem de Deus baniu esse rito para fora das suas fronteiras e mandou cortar a árvore. Irado com isto, o antigo adversário fabricou um óleo mágico ‒ que, contra a natureza, arde na água e nas pedras ‒ e, transformando-se numa mulher religiosa, foi ao encontro de uns navegantes que a ele se dirigiam; então lhes falou assim:

‒ Gostaria de ir convosco ao Santo de Deus, mas não posso. Por isso, peço-vos que leveis este óleo para a sua igreja e que, em minha memória, unjais com ele as suas paredes.

E logo desapareceu. Mas avistaram um barquinho com pessoas honestas, entre as quais havia um muitíssimo parecido com São Nicolau que lhes perguntou:

‒ Olhai! Que vos terá dito ou vos deu aquela mulher?

Então eles contaram-lhe tudo do princípio ao fim. Disse-lhes ele:

‒ Esta é a impudica Diana; e para que vejais que falei verdade, atirai esse óleo ao mar.

Mal eles o atiraram, acendeu-se um grande fogo e, contra a natureza, viu-se arder no mar durante muito tempo. Quando chegaram junto do servo de Deus, disseram:

‒ Na verdade, tu és aquele que nos apareceu no mar e nos livraste das insídias do diabo.

São Nicolau, campeão da Justiça

NESSE MESMO TEMPO, houve um povo que se rebelou contra o Império Romano; o Imperador enviou contra ele três generais ‒ Nepociano, Urso e Apoio ‒ que entraram num porto do Adriático por causa do vento contrário; São Nicolau convidou-os a comer consigo, querendo que poupassem a sua gente às rapinas que faziam.

Entretanto, o Santo ausentou-se e o cônsul, corrompido por dinheiro, mandou decapitar três militares inocentes. Quando o santo homem tal ouviu, pediu àqueles generais que se dirigissem até lá em passo rápido.

Chegando ao lugar onde iriam degolá-los, encontrou-os de joelhos e de rosto coberto no momento em que o carrasco já vibrava a espada sobre as suas cabeças.

Nicolau, inflamado pelo zelo, arremessou-se audaciosamente contra o comandante, afastou o gládio para longe da sua mão, desamarrou os inocentes e levou-os incólumes consigo; dirigiu-se sem demora ao pretório do cônsul e abriu, à força, as portas fechadas.

O cônsul acorreu imediatamente e saudou-o; mas o Santo, recusando o cumprimento, disse-lhe:

‒ Inimigo de Deus, prevaricador da lei, culpado de tamanho crime, como te atreves a olhar-me no rosto?

Depois censurou-o com muita dureza, mas a pedido dos três chefes, aceitou-o benignamente como penitente.

Uma vez recebida a bênção, os enviados imperiais puseram-se a caminho, submeteram os amotinados ao Império sem derramamento de sangue e, quando chegaram, foram magnificamente recebidos pelo Imperador.

Alguns, porém, invejosos da sua boa sorte, com pedidos e presentes sugeriram ao prefeito do Imperador que, perante ele, os acusasse do crime de lesa-majestade.

Tendo sugerido isso ao Imperador, ele, cheio de um grande furor, ordenou que os encarcerassem e, sem qualquer interrogatório, naquela mesma noite os mandou matar.

Quando souberam isso por um guarda, rasgaram as suas vestes e começaram a gemer amargamente. Então, um deles, Nepociano, lembrando-se do modo como São Nicolau tinha livrado os três inocentes, exortou os outros a que suplicassem a sua ajuda.

Tendo eles orado, naquela noite, São Nicolau apareceu ao Imperador Constantino e disse-lhe:

‒ Porque prendeste tão injustamente aqueles generais e os entregaste à morte, sem terem cometido crime algum? Levanta-te e ordena que os soltem o mais depressa possível.

De contrário, pedirei a Deus que suscite uma guerra em que morras e sejas convertido em alimento das feras.

São Nicolau: terrível com os maus,
dadivoso com os bons. A seu lado, Santa Catarina
‒ Quem és tu ‒ disse-lhe o Imperador ‒, para entrares de noite no meu palácio e ousares dizer-me essas coisas?

‒ Sou Nicolau, bispo da cidade de Mira.

Mas também aterrorizou o prefeito da mesma maneira em sonhos, dizendo-lhe:

‒ O louco insensível! Porque consentiste na matança dos inocentes? Levanta-te depressa e esforça-te por libertá-los, se não o teu corpo ficará cheio de vermes e a tua casa em breve será destruída.

Ele replicou-lhe:

‒ Quem és tu para nos fazeres tais ameaças?

‒ Fica a saber ‒ respondeu ‒ que sou Nicolau, o bispo da cidade de Mira.

Por isso, ambos acordaram e imediatamente revelaram um ao outro os seus sonhos e, de contínuo, mandaram buscar aqueles encarcerados. Disse-lhes o Imperador:

‒ Que artes mágicas conheceis para nos enganardes com tais sonhos?

Responderam-lhe que não eram magos nem mereciam a sentença de morte. Volveu-lhes o Imperador:

‒ Conheceis um homem chamado Nicolau?

Quando eles ouviram este nome, estenderam as mãos para o céu pedindo a Deus que, pelos méritos de São Nicolau, os livrasse daquele perigo. Depois de saber por eles toda a sua vida e milagres, disse-lhes o Imperador:

‒ Ide, dai graças a Deus que vos libertou pelas suas orações e levai-lhe as nossas saudações, pedindo-lhe que nunca mais me ameace e que reze ao Senhor por mim e pelo meu Reino.

Poucos dias depois, aqueles homens foram ter com o servo de Deus e, prostrados a seus pés, logo humildemente lhe disseram:

‒ És verdadeiramente um servo de Deus e um fiel seguidor de Cristo.

Depois de lhe terem contado tudo em pormenor, ergueu as mãos ao céu e fez grandes ações de graças a Deus, mandando os prudentes generais regressar a suas casas.




São Nicolau: bispo inflexível, obteve o impossível ofertando milagres como presentes

São Nicolau ressuscita um jovem, Ambrogio Lorenzetti.
COMO O SENHOR queria chamá-lo a Si, ele pediu-Lhe que lhe mandasse os seus anjos. Então, inclinou a cabeça, viu os anjos que se dirigiram a ele, e logo se deitou no chão, munindo-se com o crucifixo e, dizendo o Salmo “Em Ti, Senhor, esperei ...” até “nas tuas mãos”, e entregou o espírito, no ano do Senhor de 343, enquanto se ouvia a melodia dos coros celestes.

Foi sepultado num sepulcro de mármore; da cabeceira brotava uma fonte de azeite e dos pés uma fonte de água; e, até hoje, tem emanado dos seus membros um óleo sagrado que restituiu a saúde a muitos.

Sucedeu-lhe um homem bom que, por invejas, foi deposto da sua cátedra; desde que foi deposto, o azeite deixou de correr, voltando a fluir logo que para ela voltou a ser chamado.

Passado muito tempo, os turcos destruíram Mira, mas quarenta e dois soldados de Bari foram lá com quatro monges que lhes mostraram o túmulo de São Nicolau; abriram-no e levaram com toda a reverência os seus ossos, que nadavam em azeite, para a cidade de Bari, no ano do Senhor de 1087.

São Nicolau o bispo inflexível, modelo de Justiça e Caridade.
Um homem pediu emprestado a um judeu certa soma de dinheiro, Jurando sobre o altar de São Nicolau, por não poder ter fiador, que lha devolveria tão depressa pudesse.

Como já tinha o dinheiro havia muito tempo, o judeu pediu-lho; mas apenas prometia que lhe havia de devolver. Citou-o por isso perante o juiz que obrigou o devedor a jurar.

Levara ele um bastão oco que enchera com o ouro miúdo, pois precisava dele para se apoiar.

Querendo prestar o juramento entregou o bastão ao judeu para que o segurasse; e jurou que já lhe tinha dado mais do que lhe devia.

Feito o juramento, pediu o bastão e o judeu deu-lho, porque não sabia da astúcia,

Mas, quando o que fizera a fraude regressava, ao passar numa encruzilhada adormeceu, perturbado; um carro que passava velozmente matou-o e partiu o bastão cheio de ouro e o ouro espalhou-se.

Quando o judeu ouviu isto, foi ao local para verificar o dolo e muitos lhe sugeriram que recolhesse o dinheiro; porém, ele recusou em absoluto, a não ser que o defunto voltasse à vida, por intercessão de São Nicolau, afirmando que receberia o batismo e se faria cristão.

Como, de imediato, o defunto ressuscitou, o judeu foi batizado em nome de Cristo,

São Nicolau amou os inocentes porque foi modelo de inocência
UM JUDEU que via o poder virtuoso de São Nicolau nos milagres que fazia, mandou esculpir uma imagem dele, colocou-a na sua casa, e quando saía para mais longe, confiava-lhe os seus haveres, dizendo-lhe, com ameaças, estas e outras palavras:

‒ Olha, Nicolau! Entrego-te todos os meus bens para que mos guardes; e, se o não fizeres castigar-te-ei com pancadas e chicotadas.

Ora, uma vez, enquanto estava ausente, os ladrões chegaram, roubaram tudo deixando apenas a imagem. Quando o judeu regressou, vendo-se espoliado, falou à imagem com estas ou semelhantes palavras:

‒ Senhor Nicolau, não te pus na minha casa para que guardasses os meus bens dos ladrões? Porque o não quiseste fazer e não os defendeste dos ladrões? Por isso, receberás tormentos horríveis e pagarás pelos ladrões; assim, compensar-te-ei com os teus tormentos e arrefecerei o meu furor com pancadas e chicotadas.

Agarrou na imagem, bateu-lhe e chicoteou-a terrivelmente. Foi uma coisa espantosa.

Entretanto, o Santo de Deus, como se estivesse realmente a apanhar as chicotadas, apareceu aos ladrões que estavam a dividir o roubo e disse-lhes estas ou semelhantes palavras:

‒ Porque sou tão terrivelmente chicoteado em vez de vós? E por que razão, tão cruelmente espancado? Eis como o meu corpo está lívido e como fica vermelho do sangue derramado!

Ponde-vos já a caminho e devolvei tudo o que tirastes, senão a ira de Deus onipotente enfurecer-se-á tanto contra vós que o vosso crime será conhecido por todos e cada um de vós será enforcado.

‒ Quem és tu que dizes tais coisas? ‒ perguntaram eles?

São Nicolau, catedral de Burgos (Espanha)
‒ Sou Nicolau, servo de Jesus Cristo, que aquele judeu, a quem roubastes esses bens, flagelou tão cruelmente.

Aterrados, os ladrões foram ter com o judeu, contaram-lhe o milagre e ouviram dele o que tinha feito à imagem, devolveram tudo quanto haviam roubado e voltaram ao caminho da retidão enquanto o judeu abraçava a fé do Salvador.


UM HOMEM, por amor de um filho que andava a aprender a ler, celebrava a festa de São Nicolau solenemente todos os anos.

Uma vez, o pai preparou um festim para o rapaz e convidou muitos clérigos.

O diabo chegou à porta vestido de peregrino, pedindo esmola; imediatamente, o pai disse ao filho que desse uma esmola ao peregrino.

O rapaz apressou-se; mas, como não o encontrou, foi atrás dele.

Quando chegou a uma encruzilhada, o diabo apanhou o rapaz e estrangulou-o.

Quando o pai soube, chorou copiosamente, tomou o corpo, colocou-o na cama e, no auge da sua dor, começou a clamar dizendo:

‒ Filho muito querido, que te aconteceu? São Nicolau é esta a paga da veneração que durante tanto tempo vos dediquei?

Dizendo estas e outras palavras, logo o rapaz, como se acordasse de um sono, abriu os olhos e ressuscitou.


São Nicolau, alegria das crianças.
UM HOMEM nobre pediu a São Nicolau que rogasse ao Senhor para lhe dar um filho, prometendo-lhe que o levaria à sua igreja e ofereceria uma taça de ouro,

O filho nasceu, chegou à idade de ir à igreja e o pai mandou fazer uma taça, mas, como ela lhe agradou muito, destinou-a ao seu uso pessoal e mandou fazer outra igual.

Depois, indo a navegar para a igreja de São Nicolau, o pai mandou ao filho que lhe levasse água na taça que mandara fazer primeiro; mas, quando o rapaz queria tomar água na taça, caiu ao mar e logo desapareceu.

Apesar disso, o pai foi cumprir o seu voto, mesmo chorando amargamente.

Depois, chegou junto do altar de São Nicolau e quando estava a oferecer a segunda taça, ela caiu do altar como que projetada.

Ergueu-a e pô-la de novo sobre o altar; mas foi de novo projetada para longe do altar; ergueu-a novamente sobre o altar e, pela terceira vez, a pousou, mas também, pela terceira vez, foi projetada ainda para mais longe.

Estando todos admirados com tão grande acontecimento, eis que chegou o rapaz, são e salvo, levando a primeira taça nas mãos e contou diante de todos que, quando caiu ao mar, logo São Nicolau chegou e o conservara ileso.

E, assim, o pai cheio de contentamento ofereceu ambas as taças a São Nicolau.


Túmulo de São Nicolau em Bari, Itália.
UM HOMEM RICO teve um filho por intercessão de São Nicolau e deu-lhe o nome de Adeodato.

Depois, construiu em sua casa uma capela dedicada ao Santo de Deus e todos os anos celebrava solenemente a sua festa. Aquele lugar estava situado junto da terra dos agarenos.

Uma vez, Adeodato foi capturado por agarenos e levado como escravo do seu rei.

No ano seguinte, quando o pai celebrava devotamente a festa de São Nicolau e o rapaz servia o rei segurando uma taça, lembrou-se da sua captura, das dores dos pais e da alegria que naquele dia havia na sua casa, e começou a soluçar mais alto.

Quando o rei, com ameaças, lhe arrancou a causa dos soluços, disse-lhe:

‒ Faça o que fizer o teu Nicolau, aqui ficarás conosco para sempre.

De repente, um fortíssimo vento abanou a casa e o rapaz foi arrebatado com a taça e colocado à porta da igreja onde seus pais celebravam a solenidade, tendo-se gerado em todos uma grande alegria.

Com todo, lê-se noutro lugar que o referido jovem saiu a pé da Normandia, e foi até ao outro lado do mar, sendo capturado por um sultão perante o qual era muitas vezes espancado.

No dia de São Nicolau, tendo sido espancado e atirado para um calabouço, chorava; mas, entretanto adormecera, cansado das pancadas, sonhando com a alegria que naquele dia costumava sentir. Quando acordou, estava na capela do pai.

(Autor: Bem-aventurado Jacques de Voragine, “Légende Dorée”)


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Quem foram os Reis Magos?

'A viagem dos Magos' (1894), James Jacques-Joseph Tissot (1836-1902). Brooklyn Museum, New York City.
'A viagem dos Magos' (1894), James Jacques-Joseph Tissot (1836-1902).
Brooklyn Museum, New York City.
Um antigo documento conservado nos Arquivos Vaticanos lança uma certa luz, embora indireta e sujeita a caução, sobre a pessoa dos Reis Magos que foram adorar o Menino Jesus na Gruta de Belém. A informação foi veiculada por muitos órgãos de imprensa e páginas da Internet.

O documento é conhecido como “A Revelação dos Magos”. Provavelmente seja algum “apócrifo”, nome dado aos livros não incluídos pela Igreja Católica na Bíblia. Portanto, não são “canônicos”, apesar de poderem ser de algum autor sagrado.

“Canônico” deriva de “Cânon”, que é o catálogo de Livros Sagrados admitidos pela Igreja Católica e que constituem a Bíblia. Este catálogo está definitivamente encerrado e não sofrerá mais modificação.

Há uma série de argumentos profundos que justificam esta sábia decisão da Igreja.

Entretanto, uma extrema ponderação em apurar a verdade faz com que a Igreja não recuse em bloco esses “apócrifos” e reconheça que pode haver neles elementos históricos ou outros que ajudem à Fé.


Por isso mesmo, o Vaticano conserva a maior coleção mundial desses “apócrifos”, e os põe à disposição dos críticos de todas as religiões que queiram estudá-los.

A Igreja não tem medo de que possa sair qualquer coisa que desdoure a integridade e a santidade da Bíblia. Antes bem, deseja ardentemente encontrar qualquer dado que possa ajudar a melhor compreendê-la.

O apócrifo “A Revelação dos Magos” aparenta ser um relato de primeira mão da viagem dos Reis do Oriente para homenagear o Filho de Deus.

Reis Magos, Nicolás de Verdun (1130 – 1205).
Urna dos Reis Magos na catedral de Colônia
Só recentemente foi traduzido do siríaco antigo. O mérito é do Dr. Brent Landau, professor de Estudos Religiosos da Universidade de Oklahoma, EUA, que dedicou dois anos para decifrar o frágil manuscrito.

Trata-se de uma cópia feita no século VIII a partir de algum original perdido que, por sua vez, fora transcrito meio milênio antes. Portanto, a fonte original desse apócrifo dos Reis Magos remonta a menos de um século depois do Evangelho de São Mateus.

O documento levanta questões em extremo interessantes: quem foram ao certo, os Reis Magos? Foram três? Quais eram seus nomes? De onde vieram? Por quê?

Vejamos primeiro o que nos diz a única fonte digna de fé religiosa, o Evangelho de São Mateus:

“1. Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que magos vieram do oriente a Jerusalém.
“2. Perguntaram eles: Onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no oriente e viemos adorá-lo.
“3. A esta notícia, o rei Herodes ficou perturbado e toda Jerusalém com ele.
“4. Convocou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo e indagou deles onde havia de nascer o Cristo.
“5. Disseram-lhe: Em Belém, na Judéia, porque assim foi escrito pelo profeta:
“6. E tu, Belém, terra de Judá, não és de modo algum a menor entre as cidades de Judá, porque de ti sairá o chefe que governará Israel, meu povo(Miq 5,2).
“7. Herodes, então, chamou secretamente os magos e perguntou-lhes sobre a época exata em que o astro lhes tinha aparecido.
“8. E, enviando-os a Belém, disse: Ide e informai-vos bem a respeito do menino. Quando o tiverdes encontrado, comunicai-me, para que eu também vá adorá-lo.
“9. Tendo eles ouvido as palavras do rei, partiram. E eis que e estrela, que tinham visto no oriente, os foi precedendo até chegar sobre o lugar onde estava o menino e ali parou.
“10. A aparição daquela estrela os encheu de profunda alegria.
“11. Entrando na casa, acharam o menino com Maria, sua mãe. Prostrando-se diante dele, o adoraram. Depois, abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe como presentes: ouro, incenso e mirra.
“12. Avisados em sonhos de não tornarem a Herodes, voltaram para sua terra por outro caminho.” (São Mateus, cap. 2, 1ss)

Três Reis Magos, mosaico em San Apollinare Nuovo, Ravenna, Itália.
No muro da igreja, concluida em 569, lê-se os nomes dos três.
Apresentados com gorros frígios (chapéu originário da Ásia Menor.
No Irã era atributo do deus Mitra).
A narração de São Mateus contém tudo o que é necessário para a Fé. Mas com o beneplácito e a aprovação da Igreja a piedade popular acrescentou muitos outros pormenores, que foram transmitidos por tradição oral e que são aceitos sem contestação.


O que diz a Tradição sobre seu número, condição, proveniência e destino?

É aqui que entra o papel do grande São Beda, o Venerável (673-735), Doutor da Igreja e monge beneditino nas abadias de São Pedro e São Paulo em Wearmouth, e na de Jarrow, na Nortumbria, Inglaterra.

São Beda é uma das máximas autoridades dos primeiros tempos da Idade Média pelo fato de ter recolhido relatos transmitidos oralmente pelos Apóstolos aos seus sucessores, e destes aos seguintes.

São Beda é também considerado como fonte de primeira mão da história inglesa, sendo muito respeitado como historiador. Sua História Eclesiástica do Povo Inglês (Historia Ecclesiastica Gentis Anglorum) lhe rendeu o título de Pai da História Inglesa.

No tratado “Excerpta et Colletanea”, o Doutor da Igreja assim recolhe as tradições que chegaram até ele:
“Melquior era velho de setenta anos, de cabelos e barbas brancas, tendo partido de Ur, terra dos Caldeus. Gaspar era moço, de vinte anos, robusto e partira de uma distante região montanhosa, perto do Mar Cáspio. E Baltasar era mouro, de barba cerrada e com quarenta anos, partira do Golfo Pérsico, na Arábia Feliz”.
Três Magos adoram o Menino Jesus.
Sarcófago romano dos primeiros tempos do cristianismo, Museu Vaticano.
É, pois, São Beda quem por primeira vez escreveu o nome dos três. Nomes com significados precisos que nos ajudam a compreender suas personalidades.

Gaspar significa “aquele que vai inspecionar”; Melquior quer dizer: “Meu Rei é Luz”, e Baltasar se traduz por “Deus manifesta o Rei”.

Para São Beda – como para os demais Doutores da Igreja que falaram deles – os três representavam as três raças humanas existentes, em idades diferentes.

Neste sentido, eles representavam os reis e os povos de todo o mundo.

Também seus presentes têm um significado simbólico. Melquior deu ao Menino Jesus ouro, o que na Antiguidade queria dizer reconhecimento da realeza, pois era presente reservado aos reis.

Gaspar ofereceu-Lhe incenso (ou olíbano), em reconhecimento da divindade. Este presente era reservado aos sacerdotes.

Por fim, Baltasar fez um tributo de mirra, em reconhecimento da humanidade. Mas como a mirra é símbolo de sofrimento, vêem-se nela preanunciadas as dores da Paixão redentora. A mirra era presente para um profeta. Era usada para embalsamar corpos e representava simbolicamente a imortalidade.

Desta maneira, temos o Menino Jesus reconhecido como Rei, Deus e Profeta pelas figuras que encarnavam toda a humanidade.

Em coerência com essa visão, a exegese católica interpreta a chegada dos Reis Magos como o cumprimento da profecia de David:

“Os reis de Társis e das ilhas lhe trarão presentes, os reis da Arábia e de Sabá oferecer-lhe-ão seus dons. 11. Todos os reis hão de adorá-lo, hão de servi-lo todas as nações”. (Sl. 71, 10-11) (P.S.: na numeração das traduções direto do hebraico, é o Sl. 72, 10-11).

Alguns especularam que talvez pelo menos um deles veio da terra de Shir (não identificada nos mapas modernos), na antiga China.

Em livro – escrito a título pessoal, portanto não sendo documento do magistério eclesiástico – Joseph Ratzinger (S.S.Bento XVI) comenta que “a promessa contida nestes textos [N.R.: Salmo 72,10] estende a proveniência destes homens até ao extremo Ocidente (Tarsis, Tartessos em Espanha), mas a tradição desenvolveu posteriormente este anúncio da universalidade aos reinos de que eram soberanos, como reis dos três continentes então conhecidos: África, Ásia e Europa”, segundo informou “Religión Digital” de Espanha.

A amplidão do leque de possibilidades geográficas fica patente neste comentário.

Tarsis ou Tartessos ficaria na Andaluzia, Espanha, especificamente em “algum lugar compreendido entre Cádiz, Huelva e Sevilha”.

Segundo o “ABC” de Madri, os sevilhanos acham que se Melquior, Gaspar e Baltasar fossem andaluzes teriam se manifestado mais alegremente, teriam cantado “sevilhanas” e levado pandeiros. A reação popular suscita um amável sorriso.


O que foi depois dos Reis Magos?

Reis Magos. Representam todas as raças. Andrea Mantegna (1431-1506). J. Paul Getty Museum, Los Angeles.
Reis Magos. Representam todas as raças.
Andrea Mantegna (1431-1506). J. Paul Getty Museum, Los Angeles.
De acordo com uma tradição acolhida por São João Crisóstomo, Padre da Igreja, os três Reis Magos foram posteriormente batizados pelo Apóstolo São Tomé e trabalharam muito pela expansão da Fé (Patrologia Grega, LVI, 644).

A fama de santidade dos Reis Magos chega até os nossos dias.

Seus restos são venerados na nave central da Catedral de Colônia, Alemanha, em magnífica urna de ouro e de pedras preciosas que extasia os visitantes.

As relíquias deles foram descobertas na Pérsia pela imperatriz Santa Helena e levadas a Constantinopla, capital do Império Romano de Oriente.

Depois foram transferidas a outra capital imperial no Ocidente – Milão –, até que foram guardadas definitivamente na Catedral de Colônia em 1163 (Acta SS., I, 323).

Por que eram "Magos"?

O nome “mago” era sinônimo de “sábio”. O tratamento dado a eles como grandes eruditos, prudentes e judiciosos, provinha do fato de os sacerdotes da Caldeia serem muito voltados para a consideração dos astros com uma sabedoria que surpreende até hoje.

A eles devemos o início da ciência astronômica.

Sem dúvida, seu caráter de “magos”, reconhecido pelo Evangelho de São Mateus, aponta para a área da civilização caldeia (cujo epicentro foi no atual Iraque, mas incluiu diversos países vizinhos, entre eles o Irã).

Com a decadência moral, os “magos” caldeus viraram uma espécie de bruxos, divulgadores de toda espécie de superstições.

Os Três Reis Magos teriam sido os últimos sacerdotes honrados daquele mundo pagão que aspiravam sinceramente conhecer o Salvador.

Relicário dos Três Reis Magos, catedral de Colônia.
Neste caso, foram exemplos arquetípicos do pagão de boa-fé que deseja conhecer a verdadeira religião, e que assim que a encontra adere a ela sem demoras nem restrições.

Foram "Reis"?

Discute-se também em que sentido podem ser chamados de “Reis”, pois não se lhes conhece a procedência e menos ainda a localização do reino.

Porém, na Antiguidade, os patriarcas, ou chefes de grandes clãs, ou grupos étnico-culturais, governavam com poderes próprios de um rei, sem terem esse título ou equivalente. E seu reinado se concentrava sobre sua hoste, por vezes nômade.

São João Damasceno não recusava que eles fossem descendentes de Set, terceiro filho de Adão.

E este pormenor nos leva de volta ao “apócrifo” do Vaticano.

A estrela que os guiou

O referido manuscrito estava na Biblioteca Vaticana havia pelo menos 250 anos, mas não se sabe mais nada de sua proveniência.

Está escrito em siríaco, língua falada pelos primeiros cristãos da Síria e ainda hoje, bem como do Iraque e do Irã.

O Prof. Landau acredita que no apócrifo entra muita imaginação. Mas, há uma muito longa descrição das supostas práticas, culto e rituais dos Reis Magos.

Relicário dos Três Reis Magos, catedral de Colônia, Alemanha.
Feitos, pois, os devidos descontos no apócrifo, lemos nele que Set, terceiro filho de Adão, transmitiu uma profecia, talvez recebida de seu pai, de que uma estrela apareceria para sinalizar o nascimento de Deus encarnado num homem.

Prêmio a uma fidelidade de séculos

Gerações de Magos teriam aguardado durante milênios até a estrela aparecer, confiantes no aviso de Set.

Mistérios da fidelidade! Milênios aguardando, gerações morrendo na esperança e transmitindo aos filhos o anúncio de um dia remoto em que o mundo receberia o Salvador!

Segundo o Prof. Landau, o apócrifo diz que a estrela no fim “transformou-se num pequeno ser luminoso de forma humana que foi Cristo, na gruta de Belém”.

A afirmação não é procedente se a interpretarmos ao pé da letra. Mas, levando em conta o estilo altamente poético do Oriente, poderíamos supor que o brilho da estrela de Belém convergiu no Menino Jesus e desapareceu.

E, de fato, depois de encontrar o Menino Deus, os Magos não mais viram a estrela.

Alertados por um anjo, voltaram por outro caminho às suas terras, como ensina o Evangelho de São Mateus, que não mais menciona a estrela no retorno.

Anúncio dos profetas e juízo de Padres e Doutores da Igreja

Adoração dos Magos, Gentile da Fabriano (1370-1427). Galleria degli Uffizi, Florença
Adoração dos Magos, Gentile da Fabriano (1370-1427). Galleria degli Uffizi, Florença
A festa da adoração dos Reis Magos ao Menino Jesus recebeu o nome de Epifania do Senhor. Epifania vem do grego: πιφάνεια que significa “aparição; fenômeno miraculoso”.

A festa se comemora no dia 6 de janeiro, ou seja, doze dias após o Natal, ou 2 domingos após o Natal, dependendo do calendário litúrgico usado.

“Andaram as gentes na tua luz e os reis no esplendor do teu nascimento”, profetizou Isaías (Is 60, 3).

E São Tomás de Aquino explica: ‘Os Magos foram as primícias dos gentios que acreditaram em Cristo. E neles se manifestou, como um presságio, a fé e a devoção das gentes que vieram a Cristo das mais remotas regiões’.

Santo Agostinho sublinha que eles procuraram com fé mais ardente Àquele que punham de manifesto o clarão da estrela e a autoridade das profecias.

São João Crisóstomo completa dizendo: “porque buscavam um Rei celeste, embora nada descobrissem nele denotador da excelência real, contudo, contentes com o só testemunho da estrela, adoraram-no”.


Clique aqui para Adeste fideles (Natal, tradicional):



Reis Magos e pastores: santa harmonia social aos pés do Menino-Deus

Os medievais tinham uma devoção encantada pelos Reis Magos. Essa devoção tem seu fundamento nos Evangelhos, mas eles a desenvolveram com uma força que chega até nossos dias.

A catedral de Colônia exibe a urna que conteria os restos dos três reis, venerados como santos.

Quis a Providência que o Menino Jesus recebesse a visita de três sábios — que segundo uma venerável tradição eram também reis — e alguns pastores.

Precisamente os dois extremos da escala humana dos valores.

Pois o rei está de direito no ápice do prestígio social, da autoridade política e do poder econômico, e o sábio é a mais alta expressão da capacidade intelectual.

Na escala dos valores o pastor se encontra, em matéria de prestígio, poder e ciência, no grau mínimo, no rés-do-chão.

Ora, a graça divina, que chamou ao presépio os Reis Magos do fundo de seus longínquos países, chamou também os pastores do fundo de sua ignorância.

A graça nada faz de errado ou incompleto. Se ela os chamou e lhes mostrou como ir, há de lhes ter ensinado também como apresentar-se ante o Filho de Deus.

E como se apresentaram eles? Bem caracteristicamente como eram.

Os pastores lá foram levando seu gado, sem passar antes por Belém para uma “toilette” que disfarçasse sua condição humilde.

Os Magos se apresentaram com seus tesouros — ouro, incenso e mirra — sem procurar ocultar sua grandeza que destoava do ambiente supremamente humilde em que se encontrava o Divino Infante.

A piedade cristã, expressa numa iconografia abundantíssima, entendeu durante séculos, e ainda entende, que os Reis Magos se dirigiram para a gruta com todas as suas insígnias.

Quer isto dizer que ao pé do presépio cada qual se deve apresentar tal qual é, sem disfarces nem atenuações.

Pois há lugar para todos, grandes e pequenos, fortes e fracos, sábios e ignorantes.

É questão apenas, para cada qual, de conhecer-se, para saber onde se pôr junto de Jesus.



Excertos de artigo do Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, Catolicismo, dezembro/1955









25 de dezembro é bem o dia em que Jesus nasceu

Natividade e Adoração dos Magos.
Ícone anônimo do século XVII, Museu Benaki, Atenas.
O Natal católico é celebrado no dia 25 de dezembro. Mas há vozes, não raramente protestantes, falsamente ecumênicas ou anticristãs, que questionam a historicidade dessa data.

Elas arguem que na primeira metade do século IV a Igreja substituiu a celebração pagã Dies natalis Solis invicti (o deus persa/hinduísta/greco-romano Mitra?) por uma memória cristã do solstício de inverno (21-22 de dezembro).

E, portanto, não seria uma data histórica mas uma cristianização de uma festa pagã.

Essa posição é de molde a gerar confusão. E muitos gostarão ver a clareza do fundamento para comemorar a festa de Natal em 25 de dezembro.

Diferenças entre os calendários judeus e romano

A dificuldade tem azo na diversidade dos calendários.

Os romanos usavam o seu, o calendário juliano, que continha defeitos, mas que nós herdamos. Hoje é usado pelo mundo ocidental e pelos países civilizados após a sábia reforma do Papa Gregório XIII. Por isso é chamado de calendário gregoriano.

Mas, no tempo de Nosso Senhor, os judeus usavam um calendário completamente diferente, que era o calendário do Templo, aliás mais preciso que o romano daquela época.

Nos Evangelhos todas as datas são referidas usando esse calendário do Templo.

Quais são essas datas e ao que correspondem em nosso calendário?

O professor Pier Luigi Guiducci, historiador da igreja, esclareceu para a agência Zenit, as dificuldades da datação.

Mas, o professor apontou que a principal referência a uma data se encontra no Evangelho de São Lucas. Este Evangelho de Lucas traça a genealogia de Jesus até Adão, passando pela Anunciação e por seu nascimento virginal.

O arcanjo São Gabriel apareceu a São Zacarias e lhe anunciou que sua mulher Sara tinha concebido Très Riches Heures du duc de Berry, Musée Condé, Chantilly, século XV
O arcanjo São Gabriel apareceu a São Zacarias
e lhe anunciou que sua mulher Sara tinha concebido
Très Riches Heures du duc de Berry, Musée Condé, Chantilly, séc.XV
São Lucas narra que o anjo Gabriel anunciou ao velho sacerdote Zacarias que sua esposa Isabel, estéril e idosa, havia concebido um filho, destinado a preparar o povo para aquele que estava por vir (Lc 1,5-25).

E São Lucas acrescenta que esta miraculosa comunicação aconteceu seis meses antes da Anunciação a Maria (Lc 1,26-38).

Lucas sublinha que Zacarias pertencia à “classe [sacerdotal] de Abias” (Lc 1,5), e que a aparição de São Gabriel aconteceu enquanto “exercia a função de sacerdote na ordem de sua classe” (Lc 1,8).

Esse dado especifica uma data precisa de acordo com o calendário do Templo que os judeus conheciam perfeitamente.

A Lei Mosaica era muito exigente em matéria de dias e datas e os judeus observantes faziam questão de obedecê-las à risca.

Eles sabiam precisamente o dia que significavam e pautavam por eles os eventos fundamentais de sua vida, como sacrifícios, apresentação da criança ao Templo [prefigura do batismo], etc.

E no Templo de Jerusalém, os sacerdotes eram divididos em classes que deviam desempenhar os ofícios em 24 turnos (1Cr 24,1-7.19). Essas “classes”, se revezavam na ordem, porque deveriam prestar serviço litúrgico por uma semana, “de sábado a sábado”, duas vezes ao ano.

A versão hebraica do Antigo Testamento segundo o texto da Septuaginta indica que a classes sacerdotais, até a destruição do Templo (70 d.C) se revezavam conforme segue:

I) Iarib; II) Ideia; III) Charim; IV) Seorim; V) Mechia; VI) Miamim; VII) Kos; VIII) Abia; IX) Joshua; X) Senechia; XI) Eliasibe; XII) Iakim; XIII) Occhoffa; XIV) Isbosete; XV) belga; XVI) Emmer; XVII) Chezir; XVIII) Afessi; XIX) Fetaia; XX) Ezekil; XXI) Jaquim; XXII) Gamoul; XXIII) Dalaia; XXIV) Maasai.

E Zacarias pertencia ao “turno de Abia”, o oitavo.

Descobertas arqueológicas permitem precisar as datas

O arqueólogo escocês Sir William Ramsay, uma das maiores autoridades na matéria, escreveu que “Lucas é um historiador de primeira classe, não só suas afirmações sobre os fatos são dignas de fé... ele deve ser posto entre o grandíssimos historiadores”. Cfr “Luke the Evangelist”, Wikipedia.

A composição do Evangelho de Lucas aconteceu no início dos anos 60 d.C. Portanto São Lucas, escrevia quando o Templo ainda estava em atividade e todos os sacerdotes conheciam suas funções, classes e datas.

O rodízio referido se repetia duas vezes por ano e o evangelista não anota em qual dos dois turnos anuais Zacarias recebeu o anúncio do anjo.

Fac-símile dos documentos de Qumran.
Fac-símile dos documentos de Qumran.
Porém, em 1953 a especialista francesa Annie Jaubert, vasculhou o calendário do Livro dos Jubileus, [apócrifo hebraico do século II a.C.] e publicou os resultados no artigo: Le calendrier des Jubilées et de la secte de Qumran. Ses origines bibliques [em “Vetus Testamentum”, suppl. 3, 1953, pp. 250-264].

Por outro lado, Shemarjahu de Talmon, especialista da Universidade Hebraica de Jerusalém auscultou os documentos de Qumran que incluem o Calendário dos Jubileus.

Os resultados de Talmon foram publicados no artigo ‘The Calendar Reckoning of the Sect from the Judean Desert. Aspects of the Dead Sea Scrolls’ (em “Scripta Hierosolymitana”, vol. IV, Jerusalém 1958, pp. 162-199).

Os dois chegaram a conclusões convergentes. Assim Talmon foi capaz de precisar a sucessão da ordem de 24 turnos sacerdotais no Templo, no tempo de Jesus.

O estudioso judeu estabeleceu que o ‘turno de Abia’ acontecia a primeira vez, do dia 8 ao dia 14 do terceiro mês do calendário hebreu. A segunda vez acontecia de 24 a 30 do oitavo mês do calendário do Templo, período que correspondia à última semana de setembro no calendário romano.

Antonio Ammassari [‘Alle origini del calendario natalizio’ em “Euntes Docete” 45 (1992) pp. 11-16], mostra que São Lucas indicando o “turno de Abia” fornece a sucessão das datas históricas.

Cronologia da Encarnação e do Nascimento de Jesus

Desta maneira ficou esclarecido que o anúncio divino a Zacarias da concepção de São João Batista tem uma data histórica precisa: 24 de setembro do nosso calendário gregoriano do ano 7-6 a.C.

E o nascimento de São João Batista nove meses depois como escreve São Lucas (Lc 1,57-66), aconteceu o dia 23/25 de junho. É portanto, uma data histórica, explicou o professor Guiducci.

Natividade. Mestre do altar de Vyšší Brod, Galeria Nacional de Praga.
Natividade. Mestre do altar de Vyšší Brod, Galeria Nacional de Praga.
A Anunciação a Maria e a Encarnação do Verbo “no sexto mês” depois da concepção de Isabel registrada no evangelho de São Lucas (1,28), aconteceu portanto no dia 25 de março. E é também uma data que tem certeza histórica.

Cumpridos os nove meses chegamos a 25 de dezembro.

O professor Pier Luigi Guiducci, historiador da igreja, conclui que “podemos dizer que é histórico o nascimento do Senhor a 25 de dezembro, 15 meses após o anúncio a Zacarias, nove meses após a Anunciação a Maria, seis meses após o nascimento de João Batista”.

O professor judeu Talmon baseado no calendário do Templo, reconstitui a mesma sucessão de fatos que conduzem a 25 de dezembro.

Portanto a festa nesse dia não foi fixada ao acaso e está fundada na tradição judeu-cristã da Igreja primitiva de Jerusalém, escreveu Vittorio Messori: “Jesus nasceu verdadeiramente em 25 de dezembro”, em Il Corriere della Sera, 9 de julho de 2003.

A circuncisão e a apresentação ao Templo concordam

Guiducci acrescentou que a data da circuncisão [prefigura do batismo] no dia 1º de janeiro também é histórica. Pois a prescrição de Moisés ordenava ser feita dentro do oitavo dia do nascimento. E o oitavo dia após o 25 de dezembro é o 1º de janeiro.

Apresentação do Menino Jesus ao Templo. Jean Bourdichon (1457 -- 1521),  J.P.Paul Getty Museum, Los Angeles
Apresentação do Menino Jesus ao Templo.
Jean Bourdichon (1457 -- 1521),  J.P.Paul Getty Museum, Los Angeles.
“A circuncisão, oito dias após seu nascimento, é uma data histórica”, conclui. “Completados que foram os oito dias para ser circuncidado o menino, foi-lhe posto o nome de Jesus, como lhe tinha chamado o anjo, antes de ser concebido no seio materno” (Lucas 2:21).

Mais ainda, a apresentação da criança no Templo e a purificação da mãe devia acontecer dentro do 40º dia após o nascimento segundo lei de Moisés. Segundo o costume, a mãe se apresentava ao templo com uma vela acesa.

E os quarenta dias se cumprem na festa de Nossa Senhora da Candelária.

“Então, quarenta dias após o nascimento, dia 2 de fevereiro, a Apresentação do Senhor no Templo, é uma data histórica”, diz também o professor.

O censo de César Augusto

O evangelho de São Lucas menciona o censo ordenado pelo imperador César Augusto, como sendo a época em que aconteceu o nascimento do Redentor.

Augusto nomeia Quirino governador de Síria. Jean Bourdichon (1457 - 1521), Paris, BnF, manuscrit NAF. 21013, folio 65o.
Augusto nomeia Quirino governador da Síria.
Jean Bourdichon (1457 - 1521),
Paris, BnF, manuscrit NAF. 21013, folio 65o.
Na Palestina, o censo foi efetivado por Quirino prefeito da Síria (7-6 a.C).

No site Católicos online podemos ler o erudito trabalho de Dom Estêvão Bettencourt O.S.B., que esclarece os vários censos ordenados naquela época em anos diversos pelo imperador César Augusto.

O autor foi um dos mais destacados teólogos brasileiros do século XX, monge da Ordem dos Beneditinos do Mosteiro de São Bento, no Rio de Janeiro.

Num erudito, denso e sábio trabalho ele ordena e esclarece as intrincadas dificuldades a propósito dos vários censos na Terra Santa e a ele remetemos os leitores interessados. Veja: O Recenseamento sob César Augusto e Quirino (Lc 2, 1-5)

Comparando com rica documentação tirada dos historiadores Tito Lívio, Suetônio, Flávio José, Strabo e de inscrições antigas o douto autor confirma a historicidade do texto de Lucas.

O imperador Augusto três vezes promoveu o recenseamento dos cidadãos de seu Império entre 28 a.C. e 14 d.C.

E Quirino, que foi governador da Síria desde o ano 6 a.C até 12 d.C, foi o executor de um desses recenseamentos nas regiões confiadas à sua jurisdição, para sujeição e lealdade a César Augusto

Precisando o ano do Natal

O recenseamento referido por São Lucas efetivou-se cerca de um ano antes da morte de Herodes. Isso aponta o nascimento de Cristo no ano 5 a.C.

No cálculo atual, seria outono de 1 a.C, mas segundo explicou o professor Pier Luigi Guiducci, a partir do século VI houve um erro de cerca de seis ou cinco anos da data real do ano do nascimento do Senhor.

Apresentamos a continuação um destaque gráfico com a explicação deste erro por Dom Estêvão Bettencourt OSB.

O ano do nascimento de Cristo esclarecido por Dom Estêvão Bettencourt OSB

No século VI o monge Dionísio o Exíguo ou Pequeno (+556), desejoso de calcular a data de Páscoa para os anos subsequentes, conjeturou o ano se baseando em datas históricas romanas e chegou ao ano que ele indicou como sendo o do nascimento de Cristo e o inicio da era cristã, ainda hoje em voga.

Dionísio, porém, enganou-se.

Herodes recebe os três Reis Magos. British Library Royal 1 D X, f2.
Herodes recebe os três Reis Magos. British Library, Royal 1 D X, f2.
Dionísio não levou em conta a noticia consignada por Mt 2,1: Jesus nasceu antes do falecimento do rei Herodes.

Ora Herodes passou doente os últimos meses de sua vida em Jericó, ao passo que os Magos ainda o encontraram em Jerusalém (cf. Mt 2,3).

Disto se conclui que a visita destes personagens a Herodes se deve ter dado, pelo menos, por volta do ano 5 a.C.

Note-se outrossim que Herodes mandou matar todos os meninos que tivessem até dois anos de idade: supunha, portanto, que Jesus pudesse ter nascido havia dois anos.

Admitindo que o monarca haja feito um cálculo largo, teremos que recuar um ano ou mais para além do ano 5º a. C., a fim de chegar ao ano em que Cristo nasceu.

É o que leva os melhores exegetas a admitir que Jesus tenha vindo ao mundo por volta do ano 6° antes da era cristã, ou seja, cerca de 748 da era de Roma.

(Autor: Dom Estêvão Bettencourt, PERGUNTE E RESPONDEREMOS 003 – março 1958)


Outras datas chaves solidamente definidas

A pregação de João Batista teria começado no ano XV do império de Tibério César (cerca de 27-28 d.C).

São Lucas também registra que “Jesus, quando começou o seu ministério, tinha cerca de 30 anos” (Lc 3,23). A relação entre a pregação dos dois é preciosa para acertar as datas.

A principal datação histórica sobre a vida do Senhor está centrada no evento-chave: a sua morte ocorreu às 15 horas da sexta-feira, 7 de abril de 30 d.C.

E isto é astronomicamente certo. Pois São Lucas nos ensina que antes de Nosso Senhor lançar um grande brado e entregar a alma “em toda a terra houve trevas”.

44. Era quase à hora sexta e em toda a terra houve trevas até a hora nona.

A Ressurreição que aconteceu na madrugada de domingo, 9 de abril do ano 30 d. C.
A Ressurreição aconteceu na madrugada de domingo 9 de abril do ano 30 d.C.
45. Escureceu-se o sol e o véu do templo rasgou-se pelo meio.

46. Jesus deu então um grande brado e disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, dizendo isso, expirou. (São Lucas, 23, 44-45

E isto se deu por um eclipse de sol acontecido nesse dia e nessa hora, não tendo acontecido outro eclipse igual em algum outro ano próximo, verificável por cômputos astronômicos, inclusive digitais.

Define-se a partir daqui outras datas históricas, notadamente a Ressurreição que aconteceu na madrugada de domingo, 9 de abril do ano 30 d. C., data astronômica também certa, portanto.


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Assim nasceu a canção “Noite Feliz” (“Stille Nacht!”)

Capelinha de São Nicolau, Oberndorf (Áustria), onde nasceu “Noite Feliz”
Capelinha de São Nicolau, Oberndorf (Áustria), onde nasceu “Noite Feliz”
Em 24 de dezembro de 1818, a canção “Stille Nacht” (“Noite Feliz”) foi ouvida pela primeira vez na aldeia de Oberndorf (Áustria). Foi na Missa de Galo na minúscula capelinha de São Nicolau.

Estavam presentes o pároco Pe José Mohr, o músico e compositor Franz Xaver Gruber com seu violão, e o pequeno coro da esquecida aldeia. No fim de cada estrofe, o coro repetia os dois últimos versos.

Naquela véspera de Natal nasceu a música que passou a ser como um hino oficial do Natal no mundo todo. Hoje se canta nas capelas dos Andes e no Tibete, ou nas grandes catedrais da Europa.

Há muitas histórias sobre a origem dessa canção. Entretanto, a verdadeira é simples e risonha como a canção ela própria.

O Pe. Joseph Mohr, jovem sacerdote, compôs a letra em 1816. Ele estava encarregado da igreja rural de Mariapfarr, Áustria. Seu avô morava perto e é fácil imaginar que ele criou o texto enquanto caminhava para visitar seu ancião parente.

Vitrais da capelinha de São Nicolau,  Oberndorf (Áustria) contam  a origem da famosa canção
Vitrais da capelinha de São Nicolau,
Oberndorf (Áustria) contam
a origem da famosa canção
Vitrais da capelinha de São Nicolau,  Oberndorf (Áustria) contam  a origem da famosa canção
Vitrais da capelinha de São Nicolau,
Oberndorf (Áustria) contam
a origem da famosa canção
Nenhum evento particular inspirou o Pe. José para escrever a poética canção do nascimento de Jesus.

Em 1817 ele foi transferido para Oberndorf.

Na véspera do Natal de 1818 o Pe. José visitou seu amigo, o professor de música Franz Gruber, que morava num apartamentinho acima da escolinha da vizinha aldeia de Arnsdorf.

Mostrou-lhe o poema e pediu-lhe uma melodia para a Missa de Galo daquela noite.

Quando aqueles dois homens acompanhados pelo coro cantavam por vez primeira em pé diante do altarzinho da capela de São Nicolau, o Stille Nacht! Heiligen Nacht! não faziam ideia da repercussão que o fato teria no mundo.

Karl Mauracher, mestre construtor e reparador de órgãos viajou várias vezes a Oberndorf para consertar o órgão.

Numa das viagens obteve a partitura e a levou para sua terra. Foi assim, também despretensiosamente, que começou a difusão.

De início, nem tinha nome e era chamada de “canção folclórica tirolesa”.

Duas famílias que viajavam cantando canções populares do vale de Ziller incorporaram a peça a seu repertório e a entoaram em dezembro de 1832 em Leipzig num concerto de música folclórica. A partir de então a difusão progrediu como mancha de azeite.

Por fim, a família Rainer cantou o Stille Nacht na presença do imperador da Áustria Francisco I e do czar da Rússia Alexandre I. A canção natalina passou a ser a preferida do rei Frederico Guilherme IV da Prússia.

O Pe. José morreu pobremente na cidadinha de Wagrain, nos Alpes, como pároco. Ele doou todos os seus bens para a educação das crianças.

O inspetor escolar de São Johann, num relatório ao bispo, descreve o Pe. José como um amigo dos fiéis, sempre perto dos pobres e um pai protetor. Seu nome foi esquecido por todos até ser recuperado posteriormente.

A família de Franz Xaver Gruber conservou alguns dos humildes móveis do músico e o violão daquela noite abençoada, hoje peça histórica.

O túmulo de Franz é decorado com uma árvore de Natal todos os meses de dezembro.

A imagem dos dois co-autores está nos vitralzinhos da capelinha de São Nicolau.

Assim é a riqueza insondável da Igreja: faz nascer no coração dos humildes e despretensiosos frutos de graça, perfeição e beleza que os gênios naturalmente mais dotados do mundo jamais conseguem superar.

Essa é a causa sobrenatural do insondável mistério que faz da Civilização Cristã a obra prima por excelência sobre a face da Terra e o bem supremo dos homens logo abaixo, e só abaixo, da Igreja Católica, Corpo Místico de Nosso Senhor Jesus Cristo, única Igreja verdadeira.


Vídeo: Assim nasceu a canção “Noite Feliz” (“Stille Nacht!”)






Dado essencial: houve o fenômeno astronômico denominado “estrela de Belém”

O astrônomo e matemático alemão Johannes Kepler (1571 — 1630)
também propendeu para a hipótese de uma conjunção estelar única.
No post anterior referimos a tese do astrônomo Mark Thompson, da Royal Astronomical Society de Londres e apresentador científico da BBC, noticiada por "The Telegraph".

Cabe ponderar que essa tese não é a única nos meios científicos.

Há anos, Werner Keller, num livro muito divulgado e que é digno de uma atualização com as novas descobertas científicas (Werner Keller, “E a Bíblia tinha razão”) recolhe afirmações avalizadas de cientistas de fama universal.

Pouco antes do Natal, no dia 17 de dezembro de 1603, o famoso matemático imperial e astrônomo da corte, Johannes Kepler (ao lado), estava em Praga observando, com seu modesto telescópio, a “conjunção” de Saturno e Júpiter na constelação de Peixes.

Kepler lembrou que segundo o rabino Abarbanel (1437-1508) para os astrólogos judeus o Messias viria por ocasião de uma conjunção de Saturno e Júpiter na constelação dos Peixes.

Após muitos cálculos, Kepler decidiu-se pela ideia que aquela “conjunção” aconteceu no ano 6 a.C. Mas, a época de Kepler era a dos “filósofos das Luzes”, laicistas e agnósticos, que recusavam a priori tudo o que falasse em favor do cristianismo, e não prestou ouvidos à hipótese do cientista.

Em 1925, o assiriólogo alemão Paul Schnabel decifrou as anotações cuneiformes da escola astrológica de Sippar, na Babilônia. Nelas encontrou uma nota sobre a conjunção de Júpiter e Saturno cuidadosamente registrada durante cinco meses no ano 7 antes do nascimento de Cristo!

Para os caldeus, Peixes representava Ocidente e para a tradição judaica, simbolizava Israel e o Messias. Júpiter foi considerado por todos os povos e em todos os tempos a estrela da sorte e da realeza.

Céu de Jerusalém, 12 de novembro do ano 7 a.C., direção sul. CLIQUE PARA VER MOVIMENTO
Segundo a velha tradição judaica, Saturno deveria proteger Israel; Tácito comparava-o ao Deus dos judeus. A astrologia babilônia considerava o planeta dos anéis como astro especial das vizinhas Síria e Palestina.

Uma aproximação esplendorosa de Júpiter com Saturno, protetor de Israel, na constelação do “Ocidente”, do Messias, significava o aparecimento de um rei poderoso no Ocidente, na terra de Israel. E esse foi o motivo da viagem dos magos do Oriente, conhecedores das estrelas!

Assim como eles podiam prever os futuros eclipses do Sol e da Lua, souberam prever com exatidão a data da “conjunção” seguinte: o 3 de outubro, data da festa judaica da propiciação.

Os magos devem ter entrado em Jerusalém em fins de novembro.

“Onde está o rei dos judeus, que nasceu? Porque nós vimos a sua estrela no Oriente, e viemos adorá-lo. E, ouvindo isso, o Rei Herodes turbou-se, e toda a Jerusalém com ele” (Mateus 2.2, 3). 

Para os conhecedores dos astros do Oriente, essa devia ser a primeira e natural pergunta, e era lógico que produzisse espanto em Jerusalém.

Caravana dos Reis Magos, Benozzo Gozzoli, detalhe.
Herodes era um tirano odiado, fora posto no trono pelos romanos, não era propriamente judeu, e sim idumeu. O anúncio de um rei recém nascido fê-lo temer pela sua soberania.

O historiador judeu Flávio Josefo informa que, por essa época, correu entre o povo o rumor de que um sinal divino anunciara o advento de um soberano judeu.

Herodes consultou os príncipes dos sacerdotes e os escribas do povo para indagar onde havia de nascer o Cristo. Estes encontraram no livro do profeta Miquéias:

“E tu, Belém Efrata, tu és pequenina entre milhares de Judá; mas de ti é que me há de sair aquele que há de reinar em Israel...” (Miquéias 5.2).

Ouvindo isso, Herodes mandou chamar os magos “e enviou-os a Belém” (Mateus 2.4 a 8). Como em 4 de dezembro Júpiter e Saturno se reuniram pela terceira vez na constelação de Peixes, eles “...ficaram possuídos de grandíssima alegria” e partiram para Belém, “e eis que a estrela, que tinham visto no Oriente, ia adiante deles” (Mateus 2.10 e 9).

Na terceira conjunção, Júpiter e Saturno pareciam fundidos numa grande e rutilante estrela e, no crepúsculo do anoitecer, apareciam no sul, isto apontando o caminho de Jerusalém para Belém. Desta maneira, tinham a brilhante estrela sempre diante dos olhos, e, como diz o Evangelho, a estrela ia “adiante deles”.

Afinal, temos vontade de perguntar: com o quê foi a conjunção de Júpiter: com Saturno, como diz Kepler, ou com Regulus, como diz Thompson?

A pergunta só poderá ser respondida em definitivo pelos cientistas.

O mesmo pode se dizer sobre a relativa disparidade das datas. As avançadas hoje por Mark Thompson têm em seu favor a precisão de computadores que Kepler e os astrônomos da Babilônia não dispunham.

Nós, como simples leigos, entretanto, tiramos uma certeza: é que segundo o que a ciência pôde apurar, uma grande conjunção de astros formou a famosa “estrela de Belém” que conduziu os três Reis até Belém como narra o Evangelho.

A fé fica pois confortada pela ciência.

Sobre se foi Saturno ou Regulus, e se os babilônios, Kepler ou os computadores acertaram melhor as datas, os cientistas algum dia se porão de acordo.

Mas, qualquer que for a solução final, não mudará o fato histórico essencial: a estrela existiu bela e esplendorosa apontando para o local onde o Salvador do mundo haveria de nascer.


Clique aqui para “O magnum mysterium (Natal/Giovanni Gabrielli):




Astrônomo defende com computador
a existência da estrela de Belém

O astrônomo Mark Thompson, membro da Royal Astronomical Society de Londres e apresentador de astronomia no The One Show da BBC, realizou um estudo científico que explicaria a natureza da estrela que conduziu os Reis Magos até Belém, confirmando a narração do Evangelho de São Mateus.

Usando registros históricos e simulações de computador que permitem mapear a posição das estrelas e dos planetas em torno da data em que Jesus nasceu, Thompson defende que nessa época houve um evento astronômico incomum.

Segundo ele, entre setembro do ano 3 a.C. e maio do ano 2 d.C. houve três “conjunções” onde o planeta Júpiter e a estrela Regulus passaram perto um do outro no céu da noite estrelada.

A estrela Regulus ‒ literalmente “pequeno rei” ‒ está no plano dos planetas e não raro ela aparece próximo a um dos planetas.

1ª) Júpiter cruzou com Regulus por vez primeira seguindo seu movimento habitual rumo ao leste.

2ª) Depois apareceu revertendo o caminho e cruzou a estrela novamente, desta vez em direção oeste.

3ª) Por fim, mudando de direção mais uma vez, retomou sua direção normal rumo ao leste e cruzou com a estrela pela terceira vez.

Thompson, que apresentou na BBC o programa de astronomia Stargazing Live junto com o Professor Brian Cox, disse:

“Curiosamente no mundo da astrologia antiga, Júpiter é considerado o rei dos planetas e Regulus, que é a estrela mais brilhante da constelação de Leão, é considerada a rainha das estrelas.”

“Os três Reis Magos, acrescentou, eram considerados por alguns como sacerdotes zoroastristas, que eram astrônomos de renome na época, e quando o rei dos planetas passou tão perto da rainha das estrelas e em três ocasiões, devem ter julgado que era um fato muito significativo interpretável como o nascimento de um novo rei”.

Numerosas teorias de astrônomos do passado tentaram apresentar como explicação científica da estrela de Belém um cometa, uma supernova ‒ quando uma estrela explode e produz enormes quantidades de luz ‒ ou até um planeta.

Thompson disse que ele considerou “todas essas possibilidades” antes de chegar à sua conclusão.


As três conjunções de Júpiter e Regulus, tiveram lugar em 14 de setembro do ano 3 a.C., em 17 de Fevereiro e em 8 de maio do ano 2 d.C. Elas foram causadas pelo fenômeno astronômico chamado de movimento retrógrado aparente, em que um planeta parece que para na noite sua marcha normal rumo ao leste e ruma para o oeste, por um período de várias semanas.

Isso acontece porque os planetas exteriores do nosso sistema solar orbitam em volta do Sol a uma velocidade mais lenta que a Terra, e por isso nosso planeta, ocasionalmente os ultrapassa.

“O movimento retrógrado [no caso estudado] deu a impressão que Júpiter estava se movendo em direção oeste do céu e por isso os [Três Reis Magos] puderam segui-lo a partir da Pérsia”, explicou Thompson.

“Uma viagem de camelo até Israel teria levado cerca de três meses. Curiosamente, este é aproximadamente o mesmo tempo em que Júpiter parecia estar viajando na direção oeste”, disse

E concluiu: “Não cabe a mim dizer se realmente a Bíblia está certa ou errada, eu estou apresentando o mapa dos fatos que estão diante de mim”.

De fato, é esse o papel da ciência dentro de seus limites. E é natural concluir que confirma de modo sugestivo o relato evangélico.

O astrônomo inglês chegou a essas conclusões utilizando tecnologias computacionais avançadas e o saber acumulado pela ciência ao longo dos séculos.

Sua teoria, entretanto, não é inteiramente nova. Ela concorda com as apresentadas por outras autoridades da astronomia em épocas diversas.

Esta concordância reforça a teoria de Thompson.

De fato, a estrela de Belém sempre intrigou filósofos, teólogos e cientistas. E a ideia que a famosa estrela tinha sido resultante de uma conjunção de astros de primeira magnitude já foi defendida por respeitadas autoridades da astronomia.




Lógica e ternura aliadas na comemoração do Natal

É a noite de Natal. A Missa de Galo vai começar. Na igrejinha toda coberta de neve, iluminada e bem aquecida, todos entram de depressa.

Ao longe ficaram as casinhas da aldeia, a fumaça sobe das chaminés, a lareira está acesa, as suculentas, deliciosas e apetitosas iguarias da culinária alemã já estão no forno...

É a festa de Natal que segue à festa litúrgica.

O coro canta “Stille Nacht, heilige Nacht” (“Noite Feliz”) (a música está no vídeo embaixo).

“Noite tranquila, noite silenciosa, noite santa.

“Tudo dorme, só está acordado o nobre e santíssimo Casal!

“O nobilíssimo menino de cabelos cacheados dorme em celestial tranqüilidade.”

A canção manifesta submissão de espírito, reverência e compaixão. Mas também alta cogitação.

Foi num ambiente desses que o povo da bravura e da proeza militar compôs essa canção de Natal universal: o “Stille Nacht, heilige Nacht” (“Noite Feliz”).

Uma outra canção natalina alemã conta que os dois iam juntos: Nossa Senhora, a flor de delicadeza, e o Menino, o tesouro do Universo!

E atravessaram um bosque de espinhos que havia sete anos que não florescia.

Nossa Senhora sozinha, trazia o Menino Jesus amparado junto a seu coração.

Mas, enquanto Nossa Senhora atravessava o bosque, os espinhos transformavam-se em rosas perfumadas para Ela.

E Ela compreendeu: foi um gesto de amabilidade de seu Filho!

Comprazida, Ela olhou maternalmente para o Divino Infante. Ele estava dormindo, mas governava a natureza!

Eis o paradoxo do povo germânico: esse povo dos grandes exércitos impecavelmente ordenados, dos couraceiros com capacetes encimados por águias, na hora da ternura sabe cantar afetuosamente o Natal como nenhum outro.










“Os 12 dias de Natal”: canção-catecismo dos católicos perseguidos

São Gabriel, Rodez, França
São Gabriel, Rodez, França
Há uma bela canção de Natal inglesa intitulada Twelve Days of Christmas (Os 12 dias do Natal), pouco conhecida entre nós.

Ela surgiu na Idade Média quando na Inglaterra o Natal era comemorado durante doze dias.

Depois foi adaptada para fugir da perseguição anglicana contra os católicos naquele país, no século XVI.

Com a pseudo-reforma protestante, países como a Inglaterra, ao abandonarem o regaço da Santa Igreja e caírem na heresia, começaram a perseguir os católicos, tornando quase impossível a prática da verdadeira Religião.

Para comunicar aos fiéis a sã doutrina e poderem celebrar sem medo de represálias o Natal do Salvador, segundo a tradição da Santa Igreja, católicos ingleses compuseram tal música, que é um catecismo secreto, porquanto expressa em símbolos a realidade de nossa fé.

Ela foi também utilizada muitas vezes pelos católicos durante as perseguições anticristãs e anti-monárquicas da Revolução Francesa.

Decifre seu significado antes de ler o que ela quer dizer:

“Os 12 dias de Natal”


Ei-la:

“No primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: uma perdiz numa pereira.

No segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira.

No terceiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira”. (Dia após dia, ela vai narrando, em ordem decrescente, o que o “meu amor deu-me”).

Anjos da Borgonha, França
Anjos da Borgonha, França
“No quarto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 4 pássaros cantando...

No quinto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 5 anéis dourados...

No sexto dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 6 gansos chocando...

No sétimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 7 cisnes nadando...

No oitavo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 8 servas ordenhando...



O canto da “Ave Maria” é um sublime exemplo.

No nono dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 9 senhoras dançando...

No décimo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 10 lordes saltando...

No décimo primeiro dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 11 flautistas tocando...”

E termina dizendo:

“No décimo segundo dia de Natal o meu verdadeiro amor deu-me: 12 tocadores de tambor, 11 flautistas tocando, 10 lordes saltando, 9 senhoras dançando, 8 servas ordenhando, 7 cisnes nadando, 6 gansos chocando, 5 anéis dourados, 4 pássaros cantando, 3 galinhas francesas, 2 pombas-rolas e uma perdiz numa pereira...”

Qual o significado da letra dessa música?

1º dia: O meu verdadeiro amor é Deus Pai. E a perdiz na pereira simboliza Nosso Senhor Jesus Cristo. A perdiz é um animal corajoso, capaz de lutar até a morte para defender seus filhotes. E a pereira representa a Cruz.

O anjo traz a estrela de Belém. Presépio Convento Carboneras. Madri, Espanha
O anjo traz a estrela de Belém.
Presépio Convento Carboneras. Madri, Espanha
2º dia: Duas pombas-rolas representam o Antigo e o Novo Testamento. Durante séculos, judeus ofereciam pombas a Deus. As duas pombas lembram o sacrifício de Nossa Senhora e São José oferecido por Nosso Senhor.

3º dia: Três galinhas francesas representam as três virtudes teologais: fé, esperança e caridade. Essas galinhas eram muito caras durante o século XVI e só os ricos tinham condições de comprá-las. Simbolizavam os três presentes ofertados pelos Reis Magos a Nosso Senhor: ouro, o mais precioso dos metais; incenso, usado nas cerimônias religiosas solenes; e a mirra, uma especiaria sem igual.

4º dia: Quatro pássaros cantando representam os quatro Evangelhos. Neles estão contidos a vida de Nosso Senhor e seus ensinamentos. Como pássaros cantando de modo claro e em alta voz, os quatro Evangelistas espalham por todo o mundo a Boa-Nova da Vida, Morte e Ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo.

5º dia: Cinco anéis dourados representam os cinco primeiros livros do Antigo Testamento ou o Pentateuco (Gênesis, Êxodo, Levítico, Números e Deuteronômio), que lembravam aos católicos suas raízes. Os judeus consideravam esses livros mais valiosos que o ouro. E depois que a devoção do Rosário tornou-se mais conhecida, lembravam as cinco dezenas do Rosário da Bem-aventurada Virgem Maria.

6º dia: Seis gansos chocando representam os seis dias que Deus empregou na criação da Terra, do Universo e das criaturas. Os seis gansos chocando ovos recordam como a Palavra deu vida à Terra.

7º dia: Sete cisnes nadando representam os sete sacramentos e também os sete dons do Espírito Santo. Com os sacramentos e os dons, os fiéis poderiam sustentar-se através dos tempos de perseguição. Como os filhotes de cisnes transformam-se de patinhos feios em belos cisnes, assim a graça de Deus nos transforma de simples criaturas em filhos de Deus.

8º dia: Oito servas ordenhando representam as oito bem-aventuranças pregadas por Nosso Senhor no Sermão da Montanha. As bem-aventuranças, como o leite, alimentam e nutrem o católico.

Presépio do Convento Carboneras, Madri
Presépio do Convento Carboneras, Madri
9º dia: Nove senhoras dançando são os nove frutos do Espírito Santo (Gal. 5, 22-23): caridade, alegria, paz, paciência, afabilidade, bondade, fidelidade, brandura e temperança.

Da mesma forma como as senhoras que dançam alegres, os cristãos podem alegrar-se com a vida transformada pelos frutos do Espírito Santo.

10º dia: Dez Lordes pulando simbolizam os 10 Mandamentos da Lei de Deus. Os Lordes eram homens com autoridade para governar e disciplinar o povo.

11º dia: Onze flautistas tocando representam os 11 Apóstolos que permaneceram fiéis a Nosso Senhor, após a infame traição de Judas. Como crianças que seguem alegremente o flautista, esses discípulos acompanharam a Jesus. Eles também chamaram outros a segui-Lo. E tocaram uma canção eterna: a mensagem de salvação e da ressurreição após a morte.

12º dia: Doze tocadores de tambor representam os doze artigos do Credo. Assim como eles tocam sonoramente para que os outros acompanhem o ritmo da música, o Credo revela a fé daqueles que são chamados cristãos.

Muitas pessoas não imaginam quais são esses 12 Dias de Natal. Trata-se dos dias entre o Natal e a Festa da Epifania, a qual é tradicionalmente celebrada no dia 6 de janeiro e na qual culminavam na alegria os “Doze dias de Natal”.

Então se comia um bolo todo especial: o Bean Cake, deliciosamente cheio de frutas cristalizadas no qual estava escondido um pequeno feijão seco.

“Quem pegasse a fatia de bolo com o feijão dentro era ‘rei’ da noite e poderia dar às pessoas penas festivas que elas tinham que obedecer”.




A impregnação das alegrias de Natal

A festa do Santo Natal tem o privilégio de interromper o tempo.

Pode uma pessoa estar na situação aflitiva que estiver, chegando o Natal, abre-se como que um paredão e as desgraças ficam do outro lado.

Bimbalham os sinos, o Natal começou! Cristo nasceu: alegria para todos os homens!

A alegria própria ao Natal é toda feita de luz - é o Lumen Christi, a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo que brilhou na Terra na noite de Natal.

Uma alegria que não é a alegria vulgar do homem que fez um bom negócio, que venceu uma jogada política ou ganhou na loteria.

Não.

É uma alegria muito mais interna, muito mais leve, toda feita de luz.

Enquanto as outras alegrias são feitas de coisas palpáveis e de segunda ordem, a alegria própria ao Natal é toda feita de luz — é o Lumen Christi, a luz de Nosso Senhor Jesus Cristo que brilhou na Terra na noite de Natal.

Luz que nunca mais, de ano em ano, deixou de brilhar, trazendo uma verdadeira alegria, uma verdadeira paz de alma até para as pessoas mais atormentadas.

No meu tempo de menino, a noite de Natal era um hiato luminoso, cheio de algo que não se consegue descrever.

Mas que todos sentiam: era aquela suavidade, aquela paz, aquela doçura que dava a impressão de que todo o céu estrelado da noite estava como que impregnando a Terra de perfumes.

Os sinos tocavam, o som se espalhava e o júbilo impregnava até os jardins.

Era uma alegria enorme que circundava todos os homens, porque Cristo nasceu, nasceu em Belém!

(Fonte: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, 21.12.1984. Sem revisão do autor. “Catolicismo”


Clique aqui para “O magnum mysterium (Natal/Giovanni Gabrielli):




O Anjo apontando para o lugar onde Jesus nasceu reaparece em Belém

Anjo redescoberto na basílica Natividade, Belém, olha fixo para o local onde Jesus nasceu
Anjo redescoberto na basílica Natividade, Belém,
olha fixo para o local onde Jesus nasceu
Veio à luz graças a uma equipe de restauradores italianos precioso mosaico de um anjo encoberto por uma massa de pintura na Basílica da Natividade, em Belém, informou a BBC Brasil.

O feliz achado, depois da primorosa restauração, exibe em toda sua beleza um anjo que olha fixo para o local onde Jesus nasceu.

Coberta por reboco há quase mil anos, a obra encontrava-se fora do alcance do olhar humano.

A Basílica da Natividade, em Belém, precisava de uma importante restauração que envolvia a própria estrutura do milenar templo.

Contudo, um imprudente “ecumenismo” fazia depender as obras de restauro da aprovação de um conjunto de denominações cristãs.

As denominações ditas “ortodoxas” vivem apegadas a um passado mofado e amarfanhado, antipatizando-se com as restaurações.

Ademais, não têm a escola teológica nem o amor pelo passado que é sinal distintivo dos católicos. Esses possuem outra visão da tradição, da importância das obras de arte do passado e de sua contribuição para o presente e o futuro.

Malgrado os defeitos que possam ocorrer, o dinamismo católico é impulsionado por um amor sincero ao belo, à tradição, à história e de tudo o que se refere a Nosso Senhor Jesus Cristo.

Em tudo procura o brilho que merece a única Igreja e que resplandece ao longo das vicissitudes tempestuosas dos milênios.

O resultado da incompatibilidade entre essas duas mentalidades é que havia toda espécie de desentendimentos, concorrendo para que as reformas na Basílica não se dessem apesar de cada vez mais urgentes numa das mais antigas igrejas em uso no mundo.

A Basílica da Natividade é uma das igrejas mais antigas do mundo
A Basílica da Natividade é uma das igrejas mais antigas do mundo
Em 2009, o presidente palestino temendo que a igreja desmoronasse e motivado por razões políticas ordenou reformar o prédio, passando por cima das brigas “ecumênicas” desprovidas de sentido.

Participou da equipe de restauradores o engenheiro cristão-palestino Issa Hazboun.

Com efeito, ter trabalhado no local foi uma fonte de “orgulho” não só para ele mas para todos os cristãos do Oriente Médio, hoje tão perseguidos pelo furor islâmico anticristão na Síria, Iraque e outros países. Milhões deles tiveram de abandonar suas casas sob a injustificada invasão islâmica.

Tampouco o governo de Israel os trata com benevolência, mas a população cristã vem crescendo neste país desde 1940, enquanto decai em todos os outros países do Oriente Médio.

Os reparos ainda não foram concluídos e há muito a fazer, de modo especial com 50 colunas do século VI nas quais estão representados cruzados renomados que partiram da Europa a fim de resgatar a Terra Senta, tendo contribuído para a manutenção da Basílica ao ‘adotar uma coluna’.

Ziad Bandak, chefe do comitê da autoridade palestina que supervisiona o andamento dos trabalhos, mencionou problemas com “córregos subterrâneos, terremotos e outros incidentes históricos acontecidos em Belém e que causaram impactos negativos na estrutura da igreja, sobretudo no teto”, citou o jornal londrinense “The Guardian”.

Ele não quis mencionar o tema polêmico, mas os “incidentes históricos” a que se referiu foram as invasões e depredações dos islâmicos acontecidas em séculos passados.

A principal porta de ingresso da Basílica que inclui a Gruta de Belém é minúscula. É chamada 'Porta da Humildade'
A porta principal da Basílica que inclui a Gruta de Belém é minúscula.
É chamada 'Porta da Humildade'
E sempre há o perigo de um atentado dos fanáticos seguidores da falsamente denominada “religião de paz”, o Islã.

A equipe principal da restauração é italiana.

O jornal israelense “Times of Israel” escreveu que desde 2013, os restauradores italianos, de acordo com a autoridade palestina, vinham fazendo um esforço titânico para restaurar a Basílica visitada por milhões de romeiros que vão beijar e venerar o local onde nasceu Jesus.

O teto e as janelas foram recuperados, mas o caso mais complicado eram os mosaicos, dificilmente perceptíveis após séculos de usura e reformas mal feitas, sendo necessário restaurar pedrinha por pedrinha de cada um deles.

Já na fase final desse paciente trabalho apareceram sinais da existência de um mosaico coberto de reboco que havia passado despercebido.

Câmaras semelhantes às usadas pelos soldados para “ver” na noite, serviram para escanear as paredes e descobrir o que havia por trás, segundo descreveu Giammarco Piacenti, diretor geral da empresa de restauração responsável principal pelos trabalhos.

“Esta parte se via completamente diferente, aqui onde agora vemos o anjo. Nós dizemos: ‘o que é isto? Não pode ser um anjo!’, explicou à agência France Press.

Na basílica já haviam sido recuperados seis mosaicos de anjos e não se suspeitava que houvesse mais um. Mas, agora podem se ver os sete.

Apresentação dos mosaicos recuperados na basílica
Apresentação dos mosaicos recuperados na basílica
Com sua mão estendida o anjo aponta em direção à local exato onde estava a gruta onde Jesus nasceu há dois mil anos.

Um sorriso especial para a restauradora que descobriu o anjo, que é a sobrinha de Gianmarco Piacenti, pois logo depois de descobrir o anjo, ela soube que esperava uma criança e toda a família começou a dizer que o anjo a tinha abençoado.

A igreja foi construída pela primeira vez no ano 339, mas após um incêndio foi feita uma nova no século VI. Outra grande reforma aconteceu em 1478, explicou Piacenti. Após 800 anos, a reforma se impunha.

“De um ponto de vista histórico, artístico e espiritual, [a Basílica de Belém] é o centro do mundo – Ela é tudo”, comentou Piacenti.

Marcello Piacenti é o patriarca da empresa familiar de restauradores que durante seis gerações vem recuperando antigos santuários da Europa.

Ele se sentiu muito honrado vencendo a licitação internacional e recebendo a incumbência de reparar as vigas de madeira da basílica doadas pelo rei Eduardo IV da Inglaterra em 1479.

Piacenti conta com ufania que “seus” especialistas recuperaram o anjo de mosaico de ouro na nave do século VI construída pelo imperador Justiniano.

Também analisaram o estado dos muros e concluíram que “esta antiga estrutura se manteve em pé durante séculos, e esperamos que com nossa contribuição continue sempre presente aqui”.

As infiltrações de umidade tinham danificado os afrescos de colunas e muros que datam dos tempos dos Cruzados e outros mais antigos ainda.

O local onde Jesus nasceu é marcado por uma estrela de prata, sobre o mármore
O local onde Jesus nasceu é marcado por uma estrela de prata,
sobre o mármore do chão
O empreendimento recebeu escassas verbas e sente necessidade delas para prosseguir.

Mas, disse Piacenti: “Há muitos anjos acima de nós. E eu tenho a esperança de que podemos salvá-los”.

Por certo, eles, os próprios, lá no Céu, vão dar a sua contribuição para honrar a Rainha dos Anjos que ali deu a luz virginalmente ao Redentor e Senhor Rei de todo o criado.

O antigo mosaico de beleza admirável relembra o revoar dos anjos protetores e adoradores em volta da Gruta de Belém na luminosa noite do Natal.

O sétimo anjo está olhando fixamente para o local que sempre foi venerado como o ponto exato em que Jesus veio maravilhosamente à vida, conservando imaculada a integridade virginal de Sua Santíssima Mãe.

Quer dizer, a gruta de Belém, hoje acobertada na grandiosa Basílica da Natividade.

O mosaico do anjo, por assim dizer, dissipa toda dúvida e exorciza qualquer confusão ou sofisma que se queira fazer a respeito do magno evento de Natal que o mundo inteiro comemorará até o fim dos séculos.


Clique aqui para Khindl wiegen auf Weihnachten (Natal/Pater Ignatius):







Saudade do imperador perfuma o Natal na capital de Carlos Magno

Natal, nas ruas estreitas da Aachen medieval
Natal, nas ruas estreitas da Aachen medieval
No Natal, nas ruas estreitas da Aachen (Aquisgrão, Aix-la-Chapelle) medieval se respira o perfume de canela, cardamomo, coentro, anis, cravo, pimenta, gengibre.

Dezenas de padarias, pastelarias e chocolatarias preparam as bolachas Aachener Printen, enquanto no mercado de Natal se bebe o Glühwein (quentão com muitas especiarias) e se comem tradicionais castanhas recém-assadas, informou reportagem de “La Nación”.

As comemorações começam na festa de São Martinho de Tours (11 de novembro) e Santa Catarina (25 de novembro).

Glühwein: o quentão natalino
Glühwein: o quentão natalino
A mais aguardada é a de São Nicolau (6 de dezembro), o maravilhoso portador dos presentes pedidos por incontáveis crianças.

Essas festas anunciam o início dos quatro domingos do Advento na preparação penitencial do Natal e na expectativa feliz da vinda do Menino Jesus.

As Aachener Printen se remontam aos tempos em que Carlos Magno escolheu sua prezada cidade para nela instalar o centro de seu imenso império sacral europeu.

A residência imperial deve muito, desde os primeiros séculos medievais, às suas águas termais, privilegiadas pelos romanos.

Não espanta, pois, que um soldado romano uniformizado como na Antiguidade cuide dos banhos termais.

E dezenas de crianças passeiam pelo empedrado medieval com faróis de papel de arroz e uma vela dentro, ao som das músicas de orquestras de rua que enchem os ares de melodias natalinas.

Marienschrein a urna que conserva as sagradas relíquias na catedral de Aquisgrão
Marienschrein a urna que conserva as sagradas relíquias na catedral de Aquisgrão
A catedral está cheia de tesouros medievais, vitrais e, mais importante: excepcionais relíquias da Sagrada Família, de Nosso Senhor no Santo Sepulcro e de São João Batista.

Além, é claro, dos restos mortais de Carlos Magno que, em Aquisgrão e numerosas outras dioceses do norte da Europa é venerado como Beato com liturgia e ofício próprios.

A cada sete anos, centenas de romeiros – a próxima vez será em 2021 – concorrem para contemplar ou venerar as quatro preciosas relíquias guardadas numa esplêndida urna gigante a Marienschrein , as quais são exibidas só nessa ocasião.

São elas:

Vestido que Nossa Senhora usou no Nascimento de Jesus. Foto de 2014, Andreas Steindl - Diocese de Aachen
Vestido que Nossa Senhora usou no Nascimento de Jesus.
Foto de 2014, Andreas Steindl - Diocese de Aachen
1. a túnica que Nossa Senhora usou no dia do Natal;

2. os panos com que Ela envolveu o Menino Jesus recém nascido;

3. o tecido menor usado por Cristo durante a Crucificação e

4. o lenço em que foi envolvida a cabeça de São João Batista após a sua decapitação.

As relíquias ficam normalmente na urna da Santíssima Virgem Maria (Marienschrein).

Carlos Magno foi o primeiro Imperador do Sacro Império Romano Alemão instituído pelo Papa São Leão Magno e durante 500 anos seus sucessores foram coroados nessa catedral.

As Aachener Printen são simples, deliciosas, maravilhosas e fazem lembrar ao grande imperador Carlos Magno
As Aachener Printen são simples, deliciosas, maravilhosas
e fazem lembrar ao grande imperador Carlos Magno
A padaria Klein consagra-se às Printen desde 1912. Seu dono explica que cada um “tem sua própria fórmula” e que Carlos Magno as preferia mais duras.

Klein produz sete mil quilos diários, “no velho estilo”, quer dizer, mais moles, úmidas, banhadas em chocolate, trazendo avelãs e amêndoas, com formas minúsculas ou com enormes de animais ou personagens.

Aachen procura com avidez as “Lebkuchen”, bolachas que impressionaram tanto os irmãos Grimm, que em seus Contos de Fadas as escolheram para decorar a casinha de Hansel e Gretel.

Feitas com múltiplos ingredientes, até hoje deliciam toda a Alemanha.

As crianças as produzem em casa, e nos Kindergarten elas são penduradas em calendários até o dia 24 de dezembro.

A lembrança do grande imperador é a justo título onipresente.

O nascimento do Sacro Império com sua a sagração em Roma pelo Papa Leão III no dia 25 de dezembro do ano 800 foi um segundo Natal para a Cristandade.

O nascimento do Sacro Império com sua a sagração em Roma pelo Papa Leão III no dia 25 de dezembro do ano 800 foi um segundo Natal para a Cristandade.

As Aachener Printen não podiam ter outro imperador senão Carlos Magno!
As Aachener Printen não podiam ter outro imperador senão Carlos Magno!
Tudo aconteceu de modo surpreendente para ele, mas não para o Papa santo que havia muito queria restaurar o grandioso Império.

A esplêndida laje de porfírio sobre a qual sucedeu o magno e feliz evento se conserva encravada no precioso chão da Basílica de São Pedro.


Clique aqui para Resonet in laudibus (Natal/Michael Praetorius):




Natal de Colônia degusta gastronomia carolíngia, simples e abundante

A catedral acolhe maternalmente o Mercado de Natal
A catedral acolhe maternalmente o Mercado de Natal
Perto de Aachen (Aquisgrão, Aix-la-Chapelle), a grande cidade de Colônia também está muito associada à memória de Carlos o incomparável imperador, mas com costumes bem diferenciados.

As cervejarias tradicionais conservam sua arquitetura original, sendo adentradas através de arcos de madeira para nelas encontrar a lareira acesa, as paredes de lambri e as dependências aconchegantes.

O Rheinische Sauerbraten mais uma truculência no gosto carolíngio
O Rheinische Sauerbraten mais uma truculência no gosto carolíngio
Os copos para a cerveja são pequenos, mas constantemente renovados.

Se a pessoa não quiser mais, deve cobrir o copo, pois do contrário receberá outro cheio.

A atmosfera é informal: nas longas mesas todo o mundo se encontra e conversa em alta voz.

Os menus estão escritos naturalmente em alemão, mas também em inglês para os estrangeiros.

Os pratos são do gosto e do tamanho carolíngio: Rheinische Sauerbraten, carne marinada quatro dias em vinagre com molho de passas e mirtilo, acompanhada de croquetes gigantes (do tamanho de uma bola de tênis, batata misturada com farinha, batida e frita, muito pesada) e purê de maçã.

O Himmel und Erde é truculento, com muitas variedades
O Himmel und Erde é truculento, com muitas variedades
Originalmente era feito com carne de cavalo; certas cervejarias, como a Brauhaus Stüsser ou a Sünner Keller, ainda o servem.
Em Colônia a cerveja vem em copos pequenos
Em Colônia a cerveja vem em copos pequenos

Entre outros pratos para apetites com aspirações carolíngias está o Himmel und Erde (Céu e Terra): fatias gordas de linguiça de sangue frito com cebola, purê de batatas e maçãs; junta de porco com chucrute; linguiça grelhada com salada de batata.

Também está o Goulasch de porco ou veado e sopa de chucrute com pedaços de linguiça defumada.

Não houve uma taberna ou hospedagem que acolhesse a Sagrada Família e não sabemos o que havia para comer na humilde Gruta de Belém.

Mas a infinita bondade do Menino Jesus, de sua Santa Mãe e de São José encheu as mesas da humanidade com encantadoras iguarias por todos os séculos.




A capital financeira da Europa reverencia Carlos Magno no Natal

Na sacada do prédio central era apresentado o imperador que acabava de ser eleito
Na sacada do prédio central era apresentado
o imperador que acabava de ser eleito
No Römer (Paço Municipal) de Frankfurt am Main se realizava outrora a eleição dos Imperadores do Sacro Império Romano-Alemão.

Hoje a cidade é o centro financeiro de Europa, com um dos maiores aeroportos da Alemanha, 240 bancos e os arranha-céus mais altos do continente.

O Römer é a sede histórica da Prefeitura da cidade cujos fundamentos remontam à época do domínio romano.

Mas, por ser o prédio mais antigo passou a acolher a sessão de eleição do imperador do Sacro Império Romano-Alemão.

O vinho de maçã, o Apfelwein, é preparado para o Natal.
O vinho de maçã, o Apfelwein, é preparado para o Natal.
Essa acontecia na atual Kaisersaal, ou Salão do Imperador, no segundo andar.

O eleito era sagrado depois na catedral de Aachen, mas comparecia na sacada para ser aclamado pelo povo reunido na praça onde hoje se faz o Mercado de Natal.

A aclamação popular era seguida por um carolíngio banquete de coroação.

Não eram épocas de complicadíssimos requintes, mas de abundâncias que falavam da dimensão das almas.

A grande sala está decorada com os retratos de 52 imperadores pintados ao longo dos séculos até o infeliz e anticatólico imperador Francisco II que abdicou em 1806 e dissolveu o Sacro Império.

No maravilhoso Mercado de Natal diante do Römer no superabundam as melhores iguarias: presunto de Parma, fungos de todo tipo, trufas, caviar, frios, queixos, peixes e doces.

A linguiça branca, Münchener Weisswurst vem da Baviera.
A linguiça branca, Münchener Weisswurst vem da Baviera.
Bebe-se vinho de maçã (Apfelwein) e principalmente sidra em grandes jarras de cerâmica ou copos que se levam de lembrança.

Frank Wintler, dono da taberna Lorsbacher Tal [Vale Lorsbacher], explica que “as maçãs são colhidas a partir de agosto, e o suco fermenta até dezembro, quando é bebido bem fresco com queixo Handkäs, pão preto e manteiga”.

No Advento, sopa com veado e castanhas, ou pratos com pato e ganso. Cada época do ano traz seus produtos.

No Sul, veado e javali, e no Norte, peixe, principalmente arenque cru ou fritado, além de camarões do Mar do Norte sobre pão branco e molho rosa.

O Sauerkraut está em todas.
O Sauerkraut está em todas.
As linguiças tradicionais de todo tipo e cor, batatas em variadas apresentações, bem como repolho em quantidades superabundantes constituem a “santíssima trindade culinária germânica” ao alcance de todos.

A linguiça grossa de Berlim – a Bockwurst – com curry, a Currywurst e a Bratwurst, designam muitas variedades.

A linguiça branca de cordeiro vem da Baviera e é servida com pão preto no café da manhã, e mostarda doce com cerveja nos fins de semana.

O delicioso e popular Sauerkraut é um infaltável
O delicioso e popular Sauerkraut é um infaltável
Também com o tradicional Sauerkraut – chucrute vermelho e branco –, que é um ancestral método de conservação dos alimentos, cozinhados por fermentação.

O novo Imperador se dirigia em cortejo da catedral até o palácio medieval Römer, de cuja sacada jogava ao público moedas de ouro comemorativas de seu reinado.

Hoje, o Römer está primorosamente restaurado após os impiedosos bombardeios da II Guerra Mundial.

E, no início do período natalino, o povo ainda se concentra na mesma praça diante das autoridades que comparecem  na sacada, e ovaciona simbolicamente a memória de Carlos Magno, como que clamando pela volta dele.



O presépio de Natal num castelo da França

« Gloire à Dieu au plus Haut des Cieux, Et paix sur la Terre au hommes de bonne volonté »

[“Glória a Deus nas alturas! E paz na Terra aos homens de boa vontade!”]

Em Belém, nenhum albergue abriu suas portas para a Sagrada Família.

E o Menino Jesus nasceu numa pobre gruta, aquecido pelo calor de um boi e de um asno.

Como reparação, no Natal de cada ano, salões franceses abrem suas portas ao Divino Menino, sua Santa Mãe e o Patriarca São José.

Em salões nobremente decorados, num ambiente penetrado pelo sorriso e cortesia, etiqueta e elegância, uma sociedade de salão apresenta-se diante de um presépio que não tem nada do salão.

Mas, o Menino-Deus está ali, Nossa Senhora e São José, príncipes da Casa de David, também.

O charme e a beleza, a graça e o encanto, homenageiam ao Rei dos Reis.

Visite nossas páginas dedicadas ao Natal.

Ó Jesus que tanto se humilhou por nós!

Ó Majestade Onipotente!

Ó criança tão pequenina e Rei tão poderoso, vinde reinar inteiramente sobre nós!

É um ato de submissão dos mais requintados salões da Terra, ao Divino Monarca que conquistou o Mundo deitado naquele simples presépio!

No Céu, a Corte dos anjos se rejubila juntamente com a Corte dos homens glorificando o Divino Menino Rei e Redentor.


Natal num castelo da França





O Espírito Santo canta o Natal pela voz da Igreja Católica

O Natal é cantado por todos os povos com seus estilos próprios, em Vladivostock, no Ceilão, no Pamir, ou em qualquer recanto do mundo. Porque a alma universal da Igreja Católica está em todas as latitudes.

Porém, a Igreja, Ela mesma, comemora o Natal com seu canto próprio: o cantochão, cantado a uma só voz, sem ritmo, sem acompanhamento, sem ornatos, aproveitando o som das palavras para sublinhar seu significado profundo.


Mas, transmitindo uma alegria serena que sobe diretamente ao Céu, um recolhimento que exclui todas as coisas da Terra, sem agitação nem folia, dizendo com toda naturalidade o que tem a dizer.

O cantochão é a voz da Igreja cantando o dom do Espírito Santo, que Deus a ela comunicou por meio de Nossa Senhora.

Na extrema simplicidade de cada uma das palavras cantadas está contida uma catedral de significados e imponderáveis.

O canto da “Ave Maria” é um sublime exemplo.

São Gabriel apresentou-se diante de uma Virgem, e disse que Ela conceberia do Divino Espírito Santo e seria a Mãe de Deus.

O Evangelho narra com toda simplicidade: “Ave Maria, cheia de graça...”

Com essa singeleza, o arcanjo transmite a mensagem aguardada durante milênios pelos Patriarcas e pelos Profetas.

A Santíssima Virgem ficou perplexa e o anjo lhe esclareceu.

Ela então deu a resposta mais dócil do mundo: “Eis aqui a Escrava do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra” ‒ “Ecce Ancilae Domini, fiat mihi secundum verbum tuum”.

Serena, tranquila, admiravelmente disse tudo. Tudo simples e inocente, mas com elevadíssimo significado.

Cada palavra reflete a ordem do universo como uma catedral sonora.

Ó serenidade, ó tranqüilidade, Ó dignidade e caráter profundamente religioso como o cantochão!

É a voz da Igreja cantando o dom que Deus concedeu a Nossa Senhora, ao sopro do Espírito Santo!

Assim a Igreja comemora o Natal, Ela, a alma dos tesouros de todos os Natais diferentes da Terra!


Como a Igreja Católica canta o Natal





O Natal no país dos Reis Magos, hoje


Os católicos no Irã passaram mais um Natal sob um estatuto legal iníquo e persecutório.

Os que nasceram católicos puderam festejar a portas fechadas em casas ou clubes, e ir nas igrejas que tem um estatuto precário.

A polícia vigiava as portas dos templos para impedir que os “ilegais” i. é, os que renegaram o islamismo e os filhos de casais mistos, pudessem entrar, informou “AsiaNews”.

Já um anterior presidente islâmico de nome Ahmadinejad ameaçou: “acabarei com o Cristianismo neste país”.

Oficialmente há 340.000 cristãos no Irã.

Entretanto, o país (antiga Pérsia) é a terra dos Reis Magos.

Quer dizer, dos primeiros chefes de Estado que adoraram o Menino Jesus, maravilhosamente conduzidos por uma estrela até a gruta de Belém.





O Menino Jesus do Espinho: piedosa lenda de Natal

"Niño Manuelito", Cuzco, Peru.
Uma piedosa lenda de Natal conta que o Menino Jesus sentado num troneto brincou tecendo uma coroa de espinhos.

E um espinho machucou seu dedo indicador da mão direita.

Nesse momento, com ciência profética, Ele previu os sofrimentos que haveria de aceitar para redimir o genro humano.

Em sua doçura de criança e na candura de sua inocência infinita Ele pressentiu as dores lancinantes de sua Paixão e Morte na Cruz.

Contemplou também a glória de sua Ressurreição. Anteviu a Redenção da humanidade, o triunfo universal da Igreja e da Cristandade.

escola de Murillo
Na iconografia tradicional, o Menino Jesus do Espinho aparece sentado numa poltrona com braços de madeira, estofada em veludo vermelho, meditando sobre os futuros tormentos da Paixão.

Numa outra tela do célebre pintor espanhol Francisco de Zurbarán (1598-1664)  o Menino Deus contempla o dedo sangrando.

O rosto mais sereno parece velado pelo presságio do sofrimento vindouro trazido pela ferida.

Anônimo sevilhano

Visite nossas páginas dedicadas ao Natal.

Assim também e representado na tela da escola de Murillo.

É uma clara premonição da Paixão de Cristo, através de uma descrição suave e melancólica.

O contraste entre a inocência e a doçura da criança com o horror da tortura toca os mais nobres sentimentos dos fiéis.

E inspira uma meditação apropriada para o Advento, período litúrgico iniciado no último domingo de novembro, tempo penitencial que nos prepara para bem receber no Natal ao Menino Jesus.

A piedosa lenda tem, aliás, diversas narrações em volta do tema central. No vídeo, oferecemos uma delas adaptada para a imagem.


O Menino Jesus do Espinho






No âmago das cancões de Natal perfeitas: fé, coragem, ternura

É a noite de Natal.

A Missa de Galo vai começar.

Na igrejinha toda coberta de neve, iluminada e bem aquecida, todos entram de depressa.

Ao longe ficaram as casinhas da aldeia, a fumaça sobe das chaminés, a lareira está acesa, as suculentas, deliciosas e apetitosas iguarias da culinária alemã já estão no forno...

É a festa de Natal que segue à festa litúrgica.

O coro canta “Stille Nacht, heilige Nacht” (“Noite Feliz”) (a música está no vídeo embaixo).

“Noite tranquila, noite silenciosa, noite santa.

“Tudo dorme, só está acordado o nobre e santíssimo Casal!

“O nobilíssimo menino de cabelos cacheados dorme em celestial tranquilidade.”

A canção manifesta submissão de espírito, reverência e compaixão. Mas também alta cogitação.

Foi num ambiente desses que o povo da bravura e da proeza militar compôs essa canção de Natal universal: o “Stille Nacht, heilige Nacht” (“Noite Feliz”).

Uma outra canção natalina alemã conta que os dois iam juntos: Nossa Senhora, a flor de delicadeza, e o Menino, o tesouro do Universo!

E atravessaram um bosque de espinhos que havia sete anos que não florescia.

Nossa Senhora sozinha, trazia o Menino Jesus amparado junto a seu coração.

Mas, enquanto Nossa Senhora atravessava o bosque, os espinhos transformavam-se em rosas perfumadas para Ela.

E Ela compreendeu: foi um gesto de amabilidade de seu Filho!

Comprazida, Ela olhou maternalmente para o Divino Infante. Ele estava dormindo, mas governava a natureza!

Eis o paradoxo do povo germânico: esse povo dos grandes exércitos impecavelmente ordenados, dos couraceiros com capacetes encimados por águias, na hora da ternura sabe cantar afetuosamente o Natal como nenhum outro.


Noite Feliz: as almas das canções de Natal perfeitas






Criança recém-nascida, mas Rei de toda majestade e de toda glória

O Divino Infante, com majestade de verdadeiro Rei, repousa em seu presépio, embora seja ainda uma criança recém-nascida.

Ele, Rei de toda majestade e de toda glória, o criador do Céu e da Terra, Deus encarnado feito homem.

Ele, detentor desde o primeiro instante de seu ser — portanto já no claustro de Nossa Senhora — de mais majestade, mais grandeza, mais manifestações de força e de poder que todos os homens, em toda a História da humanidade.

Ele, conhecedor de todas as coisas, sabendo incomparavelmente mais do que qualquer cientista.

Ele, em vários momentos, manifestando na fisionomia, sempre variável, esta majestade feita de sabedoria, de santidade, de ciência e de poder.

Imaginemos perceber tudo isso misteriosamente expresso na fisionomia desse Menino.

Às vezes ao mover-se e no movimento aparecendo sua faceta de Rei.

Abrindo os olhos e no olhar externando um fulgor de tal profundidade que n`Ele divisamos um grande sábio.

Rodeando-O, uma atmosfera que nimba de santidade todos aqueles que d`Ele se acercam.

Uma atmosfera de pureza tal, que as pessoas não se aproximam daquele local sem antes pedir perdão por seus pecados; mas, ao mesmo tempo, sentindo-se atraídas à emenda pela santidade que emana daquele sagrado recinto.


(Autor: Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, 29-12-1973. Sem revisão do autor. “Catolicismo”





A Sagrada Família na noite de Natal: quanta pobreza, e quanta glória!

Uma dinastia que perdeu o trono e a riqueza tem em São José um rebento que vive na pobreza.

A Santíssima Virgem aceita esta situação com uma paz perfeita.

Ambos se empenham em manter uma existência ordenada e composta nessa pobreza, porém suas mentes estão cheias, não de planos de ascensão econômica, de conforto e prazeres, mas de cogitações referentes a Deus Nosso Senhor.

Para seu Filho, a Sagrada Família apresenta uma gruta para primeira morada e uma manjedoura por berço.

Mas o Filho é o próprio Verbo Encarnado, para cujo nascimento a noite se ilumina, o Céu se abre e os Anjos cantam, e a Quem dos confins da terra vêm Reis cheios de sabedoria oferecer ouro, incenso e mirra...

Quanta pobreza, e quanta glória!

Glória verdadeira porque não é "cotação" junto aos homens meramente utilitários e farisaicos de Jerusalém, que apreciam os outros segundo a medida de suas riquezas, mas uma glória que é como o reflexo da única verdadeira glória: a de Deus no mais alto dos Céus.

Imagine-se, pois, uma sociedade temporal toda impregnada dessa alta, majestosa e forte nobreza, reflexo da sublimidade de Deus.

Uma sociedade em que tanta elevação estivesse indissoluvelmente ligada a uma imensa bondade, de tal maneira que, quanto mais crescessem a força e a majestade, tanto mais cresceriam a comiseração e a bondade.

Que suavidade, que doçura -- em uma palavra, que ordem!

Que ordem, sim... e quanta paz.

Pois o que é a paz senão a tranquilidade na ordem (cf. Santo Agostinho, XIX De Civ. Dei, cap. 13)?

A estagnação no erro e no mal, a concórdia com os soldados de Satanás, a aparente conciliação entre a luz e as trevas, por isto mesmo que conferem cidadania ao mal, só trazem desordem e geram uma tranquilidade que é a caricatura da verdadeira paz.

A paz verdadeira só existe entre os homens de boa vontade, que procuram de todo o coração a glória de Deus.

E por isto a mensagem de Natal liga uma coisa à outra:

"Glória a Deus no mais alto dos Céus, e na terra paz aos homens de boa vontade" (Lc. 2, 14).


(Autor: Plinio Corrêa de Oliveira, "Catolicismo" Nº 108 - Dezembro de 1959)





Por que o Natal aparece tão ligado à Idade Média?


Por que as alegrias e o imponderável sobrenatural do Natal aparecem ligados à Idade Média?

A cidadinha de Siegburg, oeste da Alemanha, parece ter o segredo da resposta.

Ela revive a tradição da Idade Média abrindo mão do conforto da modernidade.

Mercado ao ar livre, tendas cobertas com tecidos e iluminadas pela luz das velas, Siegburg atrai mais de meio milhão de turistas, curiosos ou apaixonados à cidadezinha de 42 mil habitantes.

Na praça central, artesãos, comerciantes e artistas trabalham segundo os costumes da era em quer o Evangelho penetrava todas as instituições.

Estudosos e simpatizantes do estilo de vida medieval acodem de todas as partes do país.

Nas barracas há apetitosas comidas e bebidas de receitas imemoriais.

Do forno de pedra saem pães ansiosamente aguardados.

Nos doces, sobressaem as amêndoas torradas e maçãs fritas.

Sob a meia luz das velas, os cogumelos os diversos tipos de salsichas, o glühwein (quentão) vinho quente com especiarias, taças de barro fazem as delícias ingênuas de sabores autênticos que tocam profundas fibras da alma.

Na praça, malabaristas brincam com fogo, músicos tocam tambores, gaitas e violas, artesãos fazem facas e utensílios com técnicas medievais.

Os presentes são também do estilo da era de Carlos Magno, Roland ou São Bernardo ou Santa Clara: roupas, artigos de couro, chapéus artesanais, velas trabalhadas e porcelanas.

Para completar: na feira não há máquinas para cartões de crédito, tudo é com moeda viva.

No fim da jornada um pequeno coro entoa músicas medievais na praça: é o sinal de que a festa acabou.

Todos voltam a casa, com a alma cheia.





A Igreja Católica é a alma do Natal

O Natal é comemorado em toda a face da Terra.

Mas, cada povo o comemora a seu próprio modo.

Por quê?

A Igreja Católica, vivendo na alma de povos diferentes, produz maravilhosas e diversas harmonias.

Ela é inesgotável em frutos de perfeição e santidade.

Ela é como o sol quando transpõe vidros de cores diferentes.

Quando penetra num vitral vermelho, acende um rubi; num fragmento de vitral verde, faz fulgurar uma esmeralda!

O gênio da Igreja passando pelos povos alemães produz algo único; passando pelo povo espanhol faz uma outra coisa inconfundível e admirável, e depois mais aquilo e aquilo outro num outro povo, num outro continente, numa outra raça.

No fundo é a Igreja iluminando, abençoando por toda parte.

É Deus que na Sua Igreja realiza maravilhas da festa de Natal.

Canta a liturgia : “Puer natus est nobis, et Filius datur est nobis...”

“Um Menino nasceu para nós, e o Filho de Deus nos foi dado.

“Cujo império repousa sobre seus ombros e o seu nome é o Anjo do Grande Conselho”.

“Cantai a Deus um cântico novo, porque fez maravilhas”.

Aquele Menino nos foi dado — e que Menino! Então, cantemos a Deus um cântico novo.

O Natal do católico é sereno, cheio de significado, e ao mesmo tempo elevado como o interior de uma igreja!

A vitalidade inesgotável da festa natalina é sobrenatural, produz na alma católica uma paz profunda, uma sede insaciável de heroísmo, e um voltar-se completamente para as coisas do Céu.

No Natal, a graça da Igreja brilha de um modo especial na alma de cada católico. E de cada povo que conserva algo de católico na face da Terra inspirando incontáveis formas de comemorar o nascimento do Redentor!

Porque a Igreja é a alma de todos os Natais da Terra!


A Igreja Católica: alma do Natal






Ecos ainda vivos do Natal medieval reacendem a alegria pelo nascimento do Menino Jesus

As feiras de Natal que ainda se desenvolvem em cidades alemãs, austríacas e alsacianas trazem um eco saudoso e requintado da feliz era que começou a comemorar o Natal em grande estilo: a Idade Média, noticiou a rádio “Deutsche Welle”.

Cheiro de ervas, amêndoas torradas, vinho, cravo, canela, incenso e resina de pinheiro, enfeites natalinos falam não só ao corpo mas sobre tudo à alma.

Eles fazem reviver as profundas alegrias da infância. Alegrias que a festa do nascimento do Menino Jesus reaviva em toda alma reta.

Luz de vela, utensílios de madeira: tudo relembra o aspecto material rude da Gruta de Belém, e, ao mesmo tempo a insondável luz sobrenatural da graça, do cântico dos anjos, da alegria ingênua e enlevada dos pastores, do maravilhamento entusiasmado dos Reis do Oriente.


Rudes também foram os tempos medievais em que começou a se definir a tradição das feiras de Natal.

Foram tempos de invasões pagãs, de esboroamento do Império Romano cristianizado, de anarquia feudal.

Foi um tempo em que homens como Carlos Magno, imperador e guerreiro, tinham alma para verter lágrimas de ternura e veneração ajoelhados aos pés do presépio.

Então tornava-se realidade palpável o cântico dos anjos: “Glória a Deus no alto dos Céus e paz na terra aos homens de boa vontade!”


Clique aqui para ouvir Jesu Redemptor omnium (Natal/Ferdinando III, imperador do Sacro Império)

Clique aqui para Les anges dans nos campagnes (Natal, França):


Como é diferente da banalidade material do Natal comercializado e massificado! Numa só palavra: descristianizado!





Povos que habitais nas trevas, vedes a Grande Luz

Menino Jesus de Praga
Menino Jesus de Praga
Na festa do Santo Natal várias noções se superpõem.

Antes de tudo, o nascimento do Menino Deus torna patente a nossos olhos o fato da Encarnação.

É a segunda Pessoa da Santíssima Trindade que assume natureza humana e se faz carne por amor de nós.

Ademais, é o início da existência terrena do Senhor.

Um início refulgente de claridades, que contém em si um antegosto de todos os episódios admiráveis de Sua vida pública e privada.

No alto desta perspectiva está sem dúvida a Cruz.

Os Reis Magos avançam guiados pela estrela de Belém
Os Reis Magos avançam guiados pela estrela de Belém
Mas, nas alegrias do Natal mal divisamos o que ela tem de sombrio. Vemos apenas jorrar do alto dela, sobre nós, a Redenção.

O Natal é assim o sinal de que as portas do Céu vão ser reabertas, a graça de Deus vai novamente difundir-se sobre os homens.

A terra e o Céu constituirão outra vez uma só sociedade sob o cetro de um Deus Pai, e não mais apenas Juiz.

Se analisarmos detidamente cada uma destas razões de alegria, compreenderemos o que é o júbilo do Natal.

Este gáudio cristão ungido de paz e de caridade que faz com que durante alguns dias todos os homens experimentem um sentimento bem raro: a alegria da virtude.

A primeira impressão que nos vem do fato da Encarnação é a ideia de um Deus presente sensivelmente, e muito junto de nós.

Não tínhamos a ventura de haver experimentado pessoalmente seus afagos, de ter sentido pousar em nós seu olhar divinamente profundo, gravemente compreensivo, nobremente afetuoso.

Não conhecíamos a inflexão de sua voz.

A Encarnação significa para nós o gáudio deste primeiro encontro, a alegria do primeiro olhar, o acolhimento carinhoso do primeiro sorriso, a surpresa e o alento dos primeiros instantes de intimidade.

E por isto, no Natal, todos os afetos se tornam mais expansivos, todas as amizades mais generosas, toda a bondade mais presente no mundo.

Na alegria do Natal há, porém, uma grande nota de solenidade.

Pode-se dizer que o Natal é de um lado a festa da humildade, mas de outro lado a festa da solenidade.

Sagrada Família, escola cusquenha (ca. 1730 - 1760), Museo de Arte de Lima
Sagrada Família, escola cusquenha (1730 - 1760), Museo de Arte de Lima
Com efeito, a Encarnação traz ao nosso espírito a noção de um Deus que assumiu a miséria da natureza humana na mais íntima e profunda das uniões que há na criação.

Se da parte de Deus há a manifestação de uma condescendência quase incalculável, reciprocamente, quanto aos homens há uma promoção quase inexprimível.

Nossa natureza foi promovida a uma honra que jamais pudéramos imaginar.

Nossa dignidade cresceu. Fomos reabilitados, enobrecidos, glorificados.

E por isto na alegria do Natal há também um quê do júbilo do prisioneiro indultado, do doente curado.

É um júbilo feito de surpresa, de bem-estar e de gratidão.

O Menino Jesus coroa a São José, anônimo da escola de Cusco, Peru
O Menino Jesus coroa a São José,
anônimo da escola de Cusco, Peru
Com efeito, não há o que possa exprimir a tristeza desabusada do mundo antigo.

O vício havia dominado a terra, e as duas atitudes possíveis perante ele conduziam igualmente ao desespero.

Uma consistia em buscar nele o prazer e a felicidade. Foi a solução de Petrônio, que morreu pelo suicídio.

Outra consistia em lutar contra ele. Foi a de Catão, que, depois da derrota de Tharsus, esmagado pela borra do império, pôs fim à vida exclamando: “Virtude, não és senão uma palavra”.

O desespero era pois o termo final de todos os caminhos.

Nosso Senhor Jesus Cristo nos veio mostrar que a graça abre para nós as veredas da virtude, que torna possível na terra a verdadeira alegria que não nasce dos excessos e das desordens do pecado, mas do equilíbrio, dos rigores, da bem-aventurança, da acesse.

O Natal nos faz sentir a alegria de uma virtude que se tornou praticável, e que é na terra um antegozo da bem-aventurança do céu.

Sabemos que com o Natal começa a derrota do pecado e da morte.

Missa de Galo num canteiro de obras, A dureza das condições e da pobreza são apagadas pela unção do Natal. Edmond-Joseph Massicotte (1875 - 1929), Collection du Musée national des beaux-arts du Québec.
Missa de Galo num canteiro de obras, A dureza das condições e da pobreza
se apagam ante a unção do Natal. Edmond-Joseph Massicotte (1875 - 1929),
Collection du Musée National des Beaux-Arts du Québec.
Sabemos que ele é o início de um caminho que nos levará à Ressurreição e ao Céu.

Cantamos no Natal a alegria da inocência redimida, a alegria da ressurreição da carne, a alegria das alegrias que é a eterna contemplação de Deus.

E por isto é que, quando os sinos anunciarem o Santo Natal, não haverá dura crosta de materialismo que possa impedir que mais uma vez a alegria santa chegue aos corações dos homens de boa vontade que ainda são capazes de se alegrar sobre a Terra.




Consoada da noite de Natal

Na noite de Natal: momento da consoada
Na noite de Natal: momento da consoada
A milenar liturgia católica recomendava o jejum aos fiéis antes de todas as grandes festas religiosas. E o Brasil inteiro o praticava com muitos apreciáveis costumes.

No período do Advento, prévio ao Natal, o jejum consistia na abstenção de carne vermelha desde o quarto domingo anterior ao dia 25, ou até às 23h59min do dia 24.

Na véspera da comemoração do nascimento do Menino Jesus, o jejum era total.

Mas os fiéis o compensavam desde o início da noite reunindo-se, rezando e cantando na igreja enquanto aguardavam a Missa de Galo.

A igreja era toda iluminada com lâmpadas de azeite e tochas. Muitos círios iluminavam o Santíssimo Sacramento no altar, enquanto as paredes ficavam revestidas com tecidos e tapetes.

O templo era perfumado com alecrim, rosmaninho e murta. Em alguns locais mais frios costumava-se deitar palha no chão para aquecer o ambiente.

O jejum da vigília era praticado como forma de mortificação das más inclinações e um convite à contemplação do grande mistério que seria celebrado.

A Igreja mitigou o jejum total da noite de 24 de dezembro e entrou o costume de uma ceia especialmente preparada para ser degustada à meia-noite, depois da Missa do Galo.

Bacalhau português
Bacalhau português
Comia-se então quase que exclusivamente peixe — em Portugal, bacalhau, costume que ainda perdura em muitos lares brasileiros.

Na França, o bacalhau era tido como o rei dos peixes.

Em outros países entraram outras iguarias “penitenciais”, dependendo dos recursos naturais dos respectivos habitantes.

O nome “consoada”


O povo chamava aquela ceia de Natal de “consoada” — nome surgido no século XVII que significa pequena refeição —, a qual se tornou mais abundante após o fim do jejum.

Até a revolução “pós-conciliar”, depois da Missa do Galo as famílias voltavam para suas casas, colocavam a imagem do Menino Jesus no Presépio, cantavam e rezavam em seu louvor, faziam a consoada e trocavam presentes.

A calma do mundo pré-industrial presidia a consoada: pratos leves, com a alegria do convívio familiar intenso e abençoado pela liturgia católica.

Ainda se estava longe da era das velocidades, em que tudo se faz apressadamente, da civilização da imagem, da comida fast food, do disk-pizza.

A vida comum, aprazível, amável, da doçura de viver, foi atropelada pela aflição do corre-corre que abriu a era das neuroses e psicoses.

Naquela Noite Santa, os vitrais pareciam querer transmitir graças especialmente encantadoras da ordem, em um equilíbrio de cores e numa atmosfera feérica de paz e doçura que iluminavam as almas.

Os fiéis levavam consigo para a consoada a lembrança indelével e comunicativa haurida na Missa do Galo pelo nascimento do Menino-Deus.

O nome Missa do Galo usa-se apenas em português e espanhol. Na maior parte do mundo chama-se simplesmente Missa da noite de Natal ou Missa da meia-noite.

Tradição brasileira


Pratos de consoada brasileira
No Brasil colonial, a liturgia cristã e a consoada obedeciam ao hábito português, embora com peculiaridades locais.

Pois o Natal não era uma reunião íntima com a família fechada, como é hoje.

Era, sobretudo, uma celebração aberta a todos, com muitos pratos e doces regionais.

Ninguém ficava de fora da comemoração, da senzala à casa grande, dos trabalhadores urbanos aos administradores públicos, todos participavam e se confraternizavam.

Havia ainda o costume de indivíduos ou famílias trocarem presentes, aliás com uma generosidade comovedora.

Na maioria dos casos, os presentes eram víveres, sendo o chamado “pão de Deus”, coberto com creme e coco ralado, um dos regalos preferidos.

No dia seguinte havia o grande almoço de Natal. O gosto pelo peru veio da América do Norte, enquanto o do foie-gras, das ostras e do salmão vieram do apetitoso cardápio preferido na França.

Os hábitos alimentares carregados de significados simbólicos continuaram presentes mesmo após o abandono da liturgia antiga, com destaque para o vinho, que nos remete ao Sangue de Cristo e à Redenção na Terra Santa.

“No Nordeste, muitas famílias servem pernil de bode ao forno, cuscuz com manteiga de garrafa, bolo de rolo com queijo do reino.

“No Centro-Oeste, sobremesas com frutas do cerrado, o empadão goiano, o frango caipira.

“No Norte, peixes de água doce ao lado das farofas com castanhas, do arroz de tucumã e da salada de folhas de jambu.

“No Rio, o bacalhau português; em Minas, os suínos pururucados; em São Paulo, o arroz enriquecido dos bandeirantes; no Espírito Santo, a torta capixaba super enfeitada.

“E, por fim, no Sul, strudels, carnes assadas em fogos de chão e pães recheados, tanto doces como salgados”, descreveu a especializada Paula Salles.

Mas algo essencialíssimo nunca faltava aos que procuravam os imponderáveis do Natal, irradiados há dois milênios de um pobre presépio da Gruta de Belém, convidando as famílias a degustar e participar de tradições penetradas pelo sobrenatural que só a Igreja Católica é capaz de transmitir.








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